Alguns dias haviam se passado desde o confronto nas ruínas, e Biskka agora se encontrava completamente recuperada. As dores em suas costelas e os cortes profundos eram apenas memórias, substituídas pela excitação crescente de seu próximo desafio. Com o corpo revigorado e o espírito preparado para uma nova missão, a kunoichi aguardava impacientemente. A convocação finalmente chegou, e ela foi chamada ao Quartel General. Ao chegar, eça foi recebida por um Jōnin com uma expressão séria. Ele não perdeu tempo com rodeios, acenando para que ela se aproximasse enquanto entregava um pergaminho selado com o símbolo de Sunagakure.

— A organização que você enfrentou anteriormente ressurgiu, Biskka. Apesar do golpe que você desferiu contra eles, parecem estar mais ativos do que nunca — começou ele, a voz baixa, mas carregada de seriedade. — Recebemos informações sobre movimentações suspeitas em uma área remota ao norte do País do Vento. Eles podem estar tramando algo — A kunoichi apertou o pergaminho entre os dedos, o peso da responsabilidade e a excitação do combate mesclando-se dentro dela.

— Qual é o objetivo da missão? — perguntou, inclinando a cabeça levemente, os olhos brilhando de euforia.
— Sua missão é investigar e descobrir o que estão tramando. Precisamos saber se eles representam uma ameaça iminente e entender quais são seus planos. Se possível, reúna o máximo de informações e volte sem chamar atenção. Mas, se for necessário agir... não hesite.

O Jōnin a encarou com firmeza.

— Não subestime esses homens, Biskka. Eles conseguiram se reorganizar rapidamente após o último confronto, o que significa que têm mais recursos e talvez aliados poderosos.

Ela assentiu, já imaginando os desafios que enfrentaria. Seus dedos percorreram inconscientemente a Máscara do Escorpião Celeste presa em sua cintura. O objeto que quase custou sua vida agora parecia um lembrete silencioso da força que ela carregava.

— Compreendido. Então eu estou autorizada a agir com violência, caso necessário... Heh! — respondeu com confiança, girando nos calcanhares e saindo do Quartel General.

Considerações:

Não demorou entre o percuso do Quartel General e logo chegou em casa e fechou a porta atrás de si, soltando um suspiro leve enquanto olhava ao redor. A familiaridade do lugar a acalmava, mas ela sabia que precisava se concentrar na tarefa à frente. Sem perder tempo, foi até seu quarto e abriu a pequena caixa de madeira onde guardava suas armas.

Primeiro, verificou cada uma das kunais. Testou o peso em suas mãos, ajustou o fio de corte com toques cuidadosos e as colocou em uma bolsa de couro, que prendeu firmemente em sua coxa. Em seguida, fez o mesmo com as shurikens, passando os dedos pelas arestas afiadas antes de guardá-las na outra bolsa de armas. Repetiu o processo com precisão, seus olhos atentos a qualquer imperfeição. Ao lado, o rolo de fios de aço foi examinado meticulosamente. Ela puxou um pequeno pedaço para testar sua resistência, então o enrolou de volta e o prendeu na cintura, ao alcance de sua mão. Sabia que aqueles fios poderiam ser a diferença entre sucesso e falha em um momento crítico.

Por fim, pegou o Tantō que ficava guardado sob seu travesseiro. Observou o brilho intenso da lâmina, a ponta reluzindo como um aviso silencioso. Levou alguns segundos segurando o cabo, sentindo o conforto familiar da arma, antes de prendê-lo nas costas. Biskka se levantou e olhou para o espelho. Conferiu cada detalhe, cada arma, cada bolsa e fio. Tudo estava no lugar. Fechou os olhos e respirou fundo, quase não se aguentava de felicidade com a mera possibilidade de enfrentar, novamente, alguém poderoso. Ela sorriu para si mesma.

Era uma missão solo. E ela estava pronta.

Considerações:

Agora completamente equipada, a garota caminhou até sua cama e, por um instante, sentou-se à beira do colchão. A sensação do tecido sob seus dedos foi um lembrete da tranquilidade que aquele lugar oferecia, mas sua mente estava longe de repouso. Sem hesitar, retirou o pergaminho que havia recebido no Quartel General e o abriu diante de si. O papel se desenrolou, revelando um mapa detalhado da região ao redor de Sunagakure, com marcas e anotações feitas a mão indicando áreas suspeitas e rotas principais. O ponto de interesse, a nova localização da base inimiga, estava destacado em vermelho — uma área remota ao sudoeste, perto das colinas de rochas erodidas pelo vento. Ela analisou as distâncias, os trajetos possíveis e os caminhos alternativos que poderia usar para se aproximar discretamente.

Seu dedo percorreu o mapa enquanto considerava as opções. O terreno era traiçoeiro, com penhascos íngremes e dunas imprevisíveis. Não havia muitas rotas diretas que levassem até o ponto de destino sem riscos. Decidiu que a melhor abordagem seria seguir pelos desfiladeiros do lado leste, uma rota mais longa, mas que oferecia cobertura e a protegeria de possíveis sentinelas que poderiam estar espalhados ao redor da área. Ao terminar, fechou o pergaminho com um leve suspiro. Conhecer bem o terreno seria essencial para evitar perdas de tempo e garantir que não fosse descoberta antes da hora. Levantou-se, agora ainda mais segura do que deveria fazer.

Considerações:

Munida de coragem e vontade de arranjar uma boa briga, avançava pelo deserto com passos firmes e o olhar fixo no horizonte. O sol castigava a areia dourada, fazendo-a brilhar como brasas sob seus pés. O calor era sufocante, mas para alguém nascida e criada em Sunagakure, aquilo não passava de um incômodo suportável. Seu corpo estava habituado àquele clima, e seu chakra fluía calmamente para regular a temperatura interna, enquanto o suor escorria levemente por sua pele bronzeada. Em sua jornada, encontrou algumas caravanas de comerciantes que atravessavam o Deserto do Vento. Os homens das caravanas a observaram com curiosidade e respeito, reconhecendo a bandana de Sunagakure atada firmemente ao braço direito da kunoichi. Alguns deles acenaram de longe, mas Biskka não retribuiu, mantendo-se focada em seu objetivo.

Uma ou duas vezes, parou rapidamente para tomar um gole de água, enquanto observava o entorno. Os olhos atentos varriam cada duna, cada sombra. Se aquela organização voltara a se reunir, poderia haver olheiros e vigias pelo deserto. Por isso, seus sentidos estavam em alerta total. Nada escapava ao seu olhar treinado e atento. Pouco a pouco, o ambiente começava a mudar. As caravanas se tornavam mais raras, e o silêncio do deserto era interrompido apenas pelo som do vento. Ela sabia que se aproximava da área onde, segundo as informações que recebeu, poderia haver indícios das atividades daquela organização. A kunoichi diminuiu o ritmo e se abaixou, sentindo o vento e o cheiro seco do ar. Havia algo ali, uma sensação estranha que não conseguia ignorar. Soltou um suspiro baixo e continuou, mergulhando mais fundo na vastidão do deserto, as dunas a engolindo enquanto ela desaparecia na imensidão dourada.

Considerações:

Os pés da kunoichi se moviam com precisão sobre a areia quente enquanto o vento suave cortava a vastidão dourada ao seu redor. Conforme avançava, o sol do meio-dia começou a se esconder por trás de algumas nuvens dispersas, lançando sombras oscilantes pelo caminho. Após passar por algumas caravanas de comerciantes, evitou perguntas desnecessárias e seguiu conforme o mapa indicado na missão. Sua intuição dizia que algo estava errado, que aquela missão não era apenas uma simples investigação. Depois de algumas horas, avistou uma formação rochosa peculiar que se destacava na paisagem monótona. De longe, parecia uma pilha de rochas desgastadas pelo tempo, mas, ao se aproximar, notou sinais sutis de movimentação recente: pegadas mal disfarçadas na areia, marcas de arrasto e pequenas pilhas de pedras arrumadas de maneira artificial. Com o corpo tenso, abaixou-se ao lado de uma duna e concentrou seu chakra, fechando os olhos por um momento. O ambiente ao seu redor ficou em silêncio, e ela se permitiu sentir as vibrações ao redor, tentando captar qualquer presença oculta. E então, sentiu. Um leve fluxo de chakra que emanava debaixo da formação rochosa, pulsando como um coração fraco, mas consistente. Havia algo escondido ali.

— Uma entrada subterrânea... — pensou Biskka, sentindo um misto de satisfação e cautela. Desembainhou sua tantö lentamente, a lâmina brilhando sob a luz tênue. Com passos leves e furtivos, contornou a formação até avistar uma pequena abertura, quase imperceptível a olhos destreinados. Era um túnel estreito, coberto com uma camada de areia e pedras que, ao olhar mais atento, não pareciam naturais.

Respirou fundo e, com uma kunai na mão direita, afastou parte da areia e pedras com cuidado. A entrada agora estava exposta o suficiente para que ela pudesse ver um túnel descendo na escuridão. Com o coração pulsando acelerado, Biskka entrou no túnel. A escuridão envolveu-a rapidamente, e ela seguiu por alguns minutos, ouvindo o eco suave de suas próprias respirações. A tensão era palpável, mas ela não hesitou. Seus olhos se ajustaram lentamente à penumbra, e, à medida que avançava, começou a ouvir vozes.

Considerações:

A escuridão envolveu-a rapidamente, e ela seguiu por alguns minutos, ouvindo o eco suave de suas próprias respirações. A tensão era palpável, mas ela não hesitou. Seus olhos se ajustaram lentamente à penumbra, e, à medida que avançava, começou a ouvir vozes. Encostou-se em uma das paredes de terra e pedra, o ouvido atento ao som que reverberava do fundo do túnel. Podia distinguir pelo menos três vozes, discutindo algo sobre transportes e mantimentos. “Estão reabastecendo. Isso significa que a base é mais profunda do que parece”, raciocinou. Biskka decidiu se aproximar mais, mantendo-se rente às sombras. No final do túnel, pôde ver um grupo de quatro homens e uma mulher, todos com uniformes que não reconhecia. Havia uma entrada maior atrás deles, onde caixas de suprimentos estavam empilhadas. Pedaços de pergaminhos e equipamentos ninja eram descarregados com pressa. Ela respirou fundo e se preparou para agir. Mas antes de qualquer movimento, algo chamou sua atenção. Entre os ninjas, a mulher falava com um tom autoritário, segurando um rolo de pergaminho selado. Biskka estreitou os olhos, tentando focar no que ela dizia.

— Esses documentos... não podem cair nas mãos de Suna ou de qualquer outro vilarejo. Eles contêm a localização dos nossos pontos de encontro e os planos para a próxima fase.
A mente dela disparou: Próxima fase? O que diabos estão tramando?

Sabia que precisava se aproximar e pegar aquele pergaminho, descobrir exatamente quais eram os planos deles. Mas fazer isso significava correr um risco ainda maior. A base era maior do que imaginava e, se houvesse mais deles, poderia acabar encurralada. Ela se agachou mais, escondendo-se atrás de uma das pedras. Era necessário um plano.

Considerações:

Ainda escondida atrás de uma grande rocha que oferecia uma visão clara, mas segura, do que estava acontecendo. A caverna subterrânea se expandia em uma espécie de câmara principal, iluminada por tochas que lançavam sombras oscilantes nas paredes de pedra. A atmosfera era abafada e cheirava a suor e poeira. No centro do espaço, ela avistou cinco inimigos. Quatro homens e uma mulher, todos vestidos com roupas escuras e bandanas rasgadas — sinal de que poderiam ser Nukenins ou mercenários. Três deles estavam próximos de algumas caixas de suprimentos, empilhando e verificando conteúdo: armas ninja, pergaminhos e até equipamentos médicos. Os outros dois estavam um pouco mais afastados, próximos à entrada de um túnel secundário que parecia se aprofundar ainda mais na caverna.

O grupo falava entre si, mas com um tom baixo, cauteloso. Um dos homens que estava próximo às caixas carregava uma katana na cintura e parecia mais atento aos arredores. Outro tinha um longo bastão preso às costas e era mais corpulento que os demais, como um guarda-costas. O terceiro homem, mais baixo e magro, analisava alguns papéis e mantimentos com um ar absorto. Por fim, seus olhos pousaram na mulher ao centro. Ela segurava um rolo de pergaminho com firmeza, parecendo a líder do grupo. Suas vestes, apesar de igualmente escuras, possuíam detalhes em vermelho, e seu olhar era frio e calculista. Ela parecia dar as instruções e direcionar o restante do grupo. Era a maior ameaça ali — e também o principal alvo de Biskka. O ambiente estava repleto de esconderijos e saídas secundárias, mas também era traiçoeiro. Um movimento em falso, e poderia acabar enfrentando todos eles ao mesmo tempo.

Considerações:

— Os reforços ainda não chegaram? — perguntou um dos homens, o mais alto e corpulento, franzindo as sobrancelhas enquanto cruzava os braços. — Não vamos conseguir avançar com o plano se continuarmos apenas nós cinco aqui.
— Tenha paciência — respondeu a mulher com a voz firme. — Os outros devem chegar em breve. Até lá, vamos nos preparar. Já temos quase tudo pronto para interceptar a próxima rota de suprimentos do País do Vento.

Biskka apertou os punhos. "Interceptar suprimentos?" pensou, mantendo-se imóvel. As caravanas de mantimentos e medicamentos que atravessavam o Deserto do Vento eram vitais para a economia e a sobrevivência da população. Se fossem atacadas, Suna sofreria um grande impacto.

— E sobre o Kazekage? — indagou o homem que manuseava os papéis, sua voz soando quase despreocupada. — Ainda não é o momento de nos preocuparmos com ele? Achei que nosso alvo era alguém do conselho. — A líder riu baixo, um som seco e sem humor.
— Por enquanto, vamos apenas criar o caos e enfraquecer Suna. Quando estivermos mais organizados, podemos dar um golpe direto. Não se esqueçam, nosso verdadeiro objetivo não é apenas dinheiro... É influência. O controle total da região — disse, enrolando o pergaminho em suas mãos e o colocando dentro de uma pequena bolsa. — E para isso, precisamos de recursos e informações. Essas caravanas são apenas o começo.

O homem com a katana, que permanecera calado até então, finalmente falou, sua voz baixa e ameaçadora:
— E se alguém descobrir a base? Não podemos arriscar que essa informação vaze. — A mulher balançou a cabeça, como se já tivesse pensado nisso.
— Esse é o motivo de estarmos aqui e não em outro lugar. A localização é estratégica. Mesmo que alguém apareça, não vão conseguir escapar com vida. A caverna tem armadilhas, e há mais homens de guarda na entrada principal e no caminho até aqui. Quem vier atrás de nós, virá para a própria morte.

Os outros riram baixo, confiantes. Mas Biskka sabia que aquela era a oportunidade que precisava. Se conseguisse interceptar esse pergaminho e descobrir a rota planejada, poderia informar Sunagakure antes do ataque. Isso frustraria os planos da organização e compraria tempo para que Suna se preparasse.

Considerações:

As informações eram valiosas, e cada parte do corpo de Biskka gritava para que ela ficasse e lutasse. No entanto, a desvantagem numérica era evidente e, mais do que isso, expor Sunagakure a um risco tão grande estava fora de questão. Com um suspiro frustrado, ela tomou sua decisão: recuar. Desviou o olhar do grupo reunido e começou a se afastar lentamente, os passos silenciosos enquanto se movia para a saída. Mas, no instante seguinte, tudo mudou. Antes que pudesse perceber, um vulto negro cruzou seu campo de visão, rápido como uma sombra. Biskka mal teve tempo de reagir; o coração disparou, e seus músculos se retesaram por reflexo. A sensação de perigo foi imediata, mas já era tarde demais. Um baque seco ressoou, e a dor intensa explodiu na base de sua nuca.

Seu corpo tremeu, os joelhos cederam, e o mundo ao seu redor começou a girar. O rosto dela se contorceu em confusão e desespero, tentando ao menos ver quem havia sido tão rápido para pegá-la desprevenida. A visão foi embaçando, os sentidos falhando, enquanto a força escapava de seus membros. Ela tentou erguer uma das mãos, mas tudo o que conseguiu foi um movimento lento e desajeitado. As pálpebras pesaram, e, por um segundo, viu um par de olhos impiedosos a observando antes de tudo se apagar. O corpo da kunoichi caiu pesadamente ao chão, o som abafado ecoando pela caverna enquanto a escuridão tomava conta de sua mente.

Considerações:

Pouco a pouco, Biskka ia recobrando os sentidos. A dor latejante na nuca pulsava com força a cada batida de seu coração. Suas pálpebras se abriram lentamente, a luz do ambiente piscando de forma incômoda. A visão, inicialmente turva, foi se ajustando aos poucos, revelando um cenário desconfortavelmente familiar. Ela estava sentada, encostada a uma parede de pedra, os braços e pernas amarrados firmemente com cordas grossas e resistentes. O toque áspero contra sua pele indicava que qualquer tentativa de se soltar resultaria em ferimentos profundos. A kunoichi respirou fundo, forçando-se a manter a calma enquanto estudava a situação. Ao redor dela, as mesmas pessoas que ela havia observado mais cedo a encaravam com expressões variando entre curiosidade e desdém. Reconheceu o líder — um homem alto e robusto, com uma presença imponente, seu olhar frio e calculista fixo nela. Havia mais alguns shinobis desconhecidos, provavelmente reforços que ela não havia visto antes, o que tornava a situação ainda mais delicada. Seus dedos se mexeram levemente, testando a força das amarras.

— Droga... quanto tempo eu fiquei apagada? — pensou, tentando avaliar o estado do próprio corpo. Tudo doía, especialmente as costelas, que ainda estavam sensíveis dos ferimentos anteriores.
— Parece que a pequena espiã de Suna finalmente acordou — disse o líder, a voz grave ecoando pelo ambiente rochoso. — Estávamos começando a achar que tinha quebrado alguma coisa séria. — O comentário provocou algumas risadas abafadas ao redor. Biskka estreitou os olhos, o sangue fervendo de raiva e frustração. Ela lutou contra a dor, tentando se recompor.
— O que querem? — perguntou com a voz rouca, mas firme. O homem deu alguns passos para frente, inclinando-se até que seus olhos ficassem na mesma altura dos dela.
— O que queremos? — repetiu, sorrindo friamente. — Saber o que exatamente uma kunoichi de Sunagakure está fazendo tão longe de casa, se metendo em nossos assuntos. E, quem sabe, talvez descobrir o quanto você está disposta a suportar para não revelar os segredos de sua vila.

O líder ergueu-se lentamente, mantendo o olhar fixo em Biskka por mais alguns segundos antes de se virar. Fez um gesto rápido com a mão, indicando para os outros três shinobis próximos a ele que era hora de partir. As botas pesadas bateram no chão de pedra, ecoando pelo ambiente enquanto se afastavam.

— Livrem-se dela — disse de forma seca, sem sequer olhar para trás. — Não temos tempo para perder com uma criança que acha que pode brincar de espiã. — A ordem foi recebida com um aceno de cabeça dos subordinados, que observavam o homem se afastar. Os quatro deixaram a sala, seus passos se tornando mais e mais distantes até que, finalmente, desapareceram por completo. Os três ninjas restantes se entreolharam, trocando olhares de cumplicidade. Um deles, um homem magro com uma cicatriz no queixo, riu baixo e caminhou em direção à kunoichi ainda amarrada.

— Parece que sua sorte acabou, garotinha — provocou, retirando uma kunai do coldre em sua coxa. A lâmina refletia a fraca luz do ambiente, cintilando ameaçadoramente. — É uma pena. Se tivesse ficado quieta e longe do nosso caminho, poderia estar viva agora.

Biskka manteve-se calada, os olhos fixos no chão. O coração batia forte no peito, mas ela não demonstrou nenhum sinal de pânico. Sabia que cada movimento, cada palavra, seria analisada por eles. Por mais que o corpo ainda doesse e os braços formigassem por conta das amarras apertadas, sua mente trabalhava a mil. Ela precisava de uma brecha. Uma única brecha para virar o jogo a seu favor. Um segundo ninja, um homem mais robusto e careca, se aproximou, segurando firmemente os punhos de Biskka e levantando-os para facilitar o corte das amarras. O terceiro, mais jovem, com uma expressão de indiferença, permaneceu um pouco afastado, os olhos atentos a qualquer movimento suspeito.

— Certo, vamos acabar logo com isso — murmurou o mais robusto, inclinando-se um pouco mais perto dela.

Considerações:

O desejo de impedir males à Suna superava a vontade quase insana de Biskka de arranjar lutas e brigas a qualquer hora e lugar, então, mesmo que a adrenalina pulsasse por suas veias, ela se manteve quieta. Sua respiração era controlada e os olhos, que normalmente brilhariam com um desejo incontrolável de lutar, agora estavam semicerrados e calculistas. Ela sabia, pelo fluxo das assinaturas de chakra ao seu redor, que lutar contra todos os cinco ao mesmo tempo seria suicídio. Os três que restaram com ela eram fortes, mas ainda pareciam ser lacaios em comparação ao líder e aos outros dois que saíram. Com um esforço consciente, Biskka afrouxou a tensão em seus músculos, relaxando o corpo e permitindo-se ser guiada pelos outros dois que mais pareciam capangas comuns. Um deles a puxou pelos pulsos, forçando-a a se levantar de forma rude. O outro empurrou suas costas, pressionando-a a seguir em frente pelo corredor estreito e mal iluminado. Seus passos ecoavam no chão frio, e cada movimento das amarras raspando em sua pele lembrava Biskka de sua posição vulnerável. Ainda assim, ela se manteve em silêncio. Observava. Calculava. Avaliava o terreno e esperava pela oportunidade perfeita. Não demoraria muito para que ela pudesse se libertar e virar o jogo a seu favor, mas, até lá, precisava agir com cautela.

Considerações:

Conforme os dois homens a conduziam pelos corredores de pedra da base, Biskka manteve o ritmo arrastado, o olhar desviado para o chão e a expressão impassível. Ela aproveitava cada passo para gravar mentalmente o caminho, a disposição dos guardas e qualquer detalhe que pudesse ser útil mais tarde. Por fim, ela suspirou, quebrando o silêncio pesado que pairava entre eles. A voz saiu carregada de resignação, mas também com um toque de desdém calculado:

— Então é assim que acaba, hein? Não é como se eu tivesse muitas opções… já que eu vou morrer mesmo, vocês podiam pelo menos satisfazer minha curiosidade. — Ela ergueu os olhos para eles, forçando um sorriso provocativo. — Quer dizer, eu realmente gostaria de saber por que tanto segredo com aquele pergaminho. Vocês parecem estar se esforçando bastante pra esconder algo. — Os dois homens trocaram um olhar de relance. O que a segurava pelos pulsos riu, um som rouco e zombeteiro.
— Curiosa pra saber os planos que nunca vai poder contar pra ninguém, é? — Ele balançou a cabeça e bufou. — Tá, não vejo mal em te deixar saber um pouquinho. Só pra ver a frustração no seu rosto antes de te calar de vez.
— E por que não? — concordou o outro, um sorriso satisfeito surgindo em seu rosto. — Não vai adiantar nada saber agora. Sabe aquele pergaminho que você achou tão interessante? Bem, só vou te dizer uma coisa: ele tem a ver com uma nova arma. Algo grande o bastante pra fazer Sunagakure se ajoelhar. Por isso, ficamos fora dos olhos das vilas por tanto tempo.

Os olhos de Biskka brilharam, mas ela rapidamente os fechou, mantendo a expressão neutra. Respirou fundo, dando de ombros como se não se importasse, enquanto forçava-se a não reagir.

— Uma arma… é isso mesmo? Interessante. — Ela lançou um olhar preguiçoso por cima do ombro. — Parece o suficiente pra dar um trabalho considerável a qualquer Kage. Mas ainda não entendi como vocês esperam controlar algo assim. — O capanga que a segurava estreitou os olhos, desconfiado. Ele lhe deu um puxão mais forte, mas antes de responder, resmungou algo como “pra que ela quer saber disso, se já está morta?”.
— Controlar não é o problema — ele disse, com um sorriso de escárnio. — O difícil foi fazer com que funcionasse em primeiro lugar. Uma combinação única de jutsus, experimentos com chakra e… — Ele se interrompeu, balançando a cabeça. — Esquece. Você não vai precisar saber disso.

Biskka conteve a vontade de pressionar mais. Se revelasse seu interesse, poderia levantar suspeitas e perder a chance que buscava. Então, apenas riu baixo, fingindo indiferença.

— Bem, é realmente uma pena... — murmurou, mantendo a voz leve, enquanto sua mente fervilhava com as novas informações.

Considerações:

A kunoichi respirou fundo, deixando que a tensão acumulada se dissipasse. Aquelas informações já eram mais do que ela esperava obter. Os dois homens, claramente mais acostumados a intimidar e subestimar prisioneiros do que a lidar com uma ninja de verdade, haviam entregado mais do que perceberam. Quando eles começaram a guiá-la por um corredor mais estreito e deserto, ela decidiu agir. Com um leve movimento do pulso, os dedos de sua mão direita trabalharam rapidamente para formar os selos de mão, de maneira discreta e quase imperceptível. O chakra circulou por seu corpo, concentrando-se nas cordas que a prendiam, e ela murmurou baixinho: Nawanuke no Jutsu.

As amarras se afrouxaram num instante. Não houve qualquer hesitação. Ela se moveu como um raio, o corpo reagindo com uma velocidade impressionante. O capanga mais próximo nem teve tempo de entender o que estava acontecendo antes de sentir um golpe seco na base de sua nuca. O impacto foi preciso, direto no cerebelo, e ele desabou no chão, inconsciente, sem emitir um único som. O segundo capanga arregalou os olhos, surpreso, e levou a mão à cintura, onde guardava uma kunai, mas era tarde demais. Biskka girou o corpo e lançou-se contra ele, o punho esquerdo desferindo um soco certeiro em seu queixo. O homem cambaleou para trás, o rosto contorcido de raiva e dor, e, em seguida, ambos trocaram uma série de golpes. Ela desviava dos socos e chutes com uma agilidade quase sobrenatural. O capanga conseguiu acertar um soco em seu braço, mas ela absorveu o impacto, dando um passo para trás e, num movimento fluido, usou o joelho para golpear o estômago dele. O homem arfou, dobrando-se de dor, e a jovem Shinobi aproveitou a abertura para atingi-lo com um chute direto no peito, jogando-o contra a parede do corredor. Antes que ele pudesse se recompor, ela fechou a distância entre eles e desferiu um último golpe com a lateral da mão na garganta dele. O homem gorgolejou, sufocando, e caiu pesadamente no chão, desacordado. Com os dois capangas nocauteados, Biskka respirou fundo, observando os corpos inertes no chão. A adrenalina ainda corria por suas veias, mas ela sabia que não tinha tempo a perder.

Considerações:

Assim que os corpos caíram no chão, Biskka ofegou levemente, mas não parou para descansar. Precisava agir rápido. Aqueles dois idiotas tinham dado informações preciosas sobre a localização do escritório do líder e onde mantinham algumas anotações estratégicas. Silenciosamente, a kunoichi se moveu pelos corredores iluminados por tochas. Sentia o calor das paredes de pedra ao redor e o som distante de vozes ecoando, mas não havia guardas naquele setor. Ela passou despercebida por uma curva, parando em frente a uma porta de madeira mais robusta. Ela entrou. A porta rangeu levemente ao ser empurrada e, sem fazer barulho, ela deslizou para dentro, fechando-a atrás de si. O ambiente era mais amplo do que imaginava. Havia prateleiras repletas de rolos de pergaminho, um mapa detalhado do País do Vento pregado na parede, e uma mesa no centro, onde diversos papéis estavam espalhados. Ela se aproximou, começando a vasculhar tudo, os olhos percorrendo rapidamente os documentos.

— Invasão de caravanas… transporte de suprimentos para as áreas de fronteira… uma lista de mercadores… — ela murmurava para si mesma enquanto folheava os papéis. Mas algo chamou mais sua atenção. Um pergaminho, cuidadosamente selado, com o emblema da organização gravado na superfície. Desenrolou-o com cuidado, e o que leu a fez arregalar os olhos. Era um plano detalhado para interceptar uma grande remessa de armas que seria enviada para Sunagakure. A lista de equipamentos era extensa: espadas, kunais, explosivos e até pergaminhos de técnicas elementares. Enquanto refazia sua rota, sentiu o ar ficar mais denso. Estava quase na entrada, já conseguindo ver a luz tênue que indicava o fim do corredor, quando uma sensação de perigo iminente fez seu corpo se enrijecer. De repente, uma figura se materializou à sua frente, bloqueando a passagem com uma presença imponente. Era uma mulher de porte atlético, cabelos negros e curtos, vestida em trajes de combate escuros que contrastavam com a pele clara. Os olhos estreitos a analisavam com um brilho frio e calculista, enquanto uma espada curva e afiada repousava sobre seu ombro direito.

— Eu sabia que aqueles inúteis não dariam conta — disse a mulher, a voz baixa, mas carregada de uma ameaça latente. — Estava esperando que tentasse escapar.

Antes que Biskka pudesse responder, a espadachim moveu-se com uma velocidade surpreendente. A lâmina brilhou ao descer em um arco perfeito em direção ao pescoço da kunoichi, forçando-a a dar um salto para trás. O ar cortado pelo golpe assobiou como uma serpente furiosa. Sem perder tempo, a jovem contra-atacou. Lançou-se para a frente e sacou uma kunai, direcionando-a ao flanco da oponente. A espadachim, porém, girou o corpo com fluidez, desviando por pouco e rebatendo com um golpe lateral que fez a lâmina tilintar ao colidir contra a arma de Biskka.

— Rápida... mas eu sou mais rápida — sibilou a mulher, um sorriso cruel se formando. A kunoichi grunhiu com o impacto, mas manteve a posição. A adversária avançou novamente, a espada movendo-se como uma extensão do próprio corpo dela, cada estocada e corte fluindo com precisão mortal. Biskka desviava, mas sentia a pressão constante aumentar. “

— Não posso me dar ao luxo de perder tempo aqui. — Quando a espadachim desferiu um golpe de cima para baixo, Biskka se abaixou e chutou o chão com força, fazendo pequenas pedras se erguerem como uma cortina improvisada. Aproveitando o momento, girou o corpo, tentando atacar por baixo, mas sua oponente já estava um passo à frente. A mulher bloqueou com a lateral da espada e, com um movimento fluido, lançou uma estocada direta que quase acertou o rosto de Biskka, cortando alguns fios de seu cabelo que voaram no ar.

— Droga... ela é boa! — pensou para si mesmo enquanto sorria animada.

Considerações:

Houveram mais algumas trocas de golpes entre Biskka e a espadachim misteriosa, as lâminas se chocando e o som metálico ecoando pelos corredores. Cada movimento era calculado, e a tensão crescia a cada segundo. Era evidente que ambas possuíam habilidades em igual medida, e a luta parecia interminável. A kunoichi sentia o tempo se esvaindo rapidamente, como areia entre os dedos.

— *Grr!* Não queria deixar essa passar, mas... preciso sair daqui — pensou ela, desviando de um golpe vertical e contra-atacando com uma estocada rápida. A mulher rebateu a lâmina de Biskka e tentou um corte horizontal, forçando a shinobi a recuar alguns passos. Em um movimento decisivo, ela cravou a kunai no solo e executou os selos com maestria.

— Yōton: Akaoka! — bradou ela.

O chão entre as duas adversárias começou a tremer, e então, de repente, explodiu em um mar de lava fervente. A temperatura subiu instantaneamente, e a espadachim deu um salto para trás, os olhos arregalados de surpresa ao ver o fluxo incandescente brotar do solo. Rochas derretidas borbulhavam e se espalhavam, formando um rio ardente que dividiu o campo de batalha. Aproveitando a distração, Biskka rapidamente fez outro selo. “Bunshin no Jutsu!” Um clone de si mesma apareceu com um “puff” de fumaça, idêntico em todos os detalhes. Sem hesitar, o clone lançou-se para cima da espadachim. A mulher, ainda em guarda, reagiu instintivamente e desferiu um golpe, cortando o corpo do clone que se desfez em fumaça ao ser atingido.

— O quê?! — exclamou a espadachim, percebendo tarde demais o truque. Com a lava servindo como uma barreira e o Bunshin como distração, Biskka usou sua velocidade para evadir. Correndo pelos corredores de pedra e pulando obstáculos, ela rumou para a saída o mais rápido possível. A sensação do calor em suas costas e o cheiro de enxofre ainda estavam presentes, mas agora só importava colocar a maior distância possível entre ela e a base inimiga. Ela havia escapado. Agora, tudo que precisava fazer era levar aquelas informações preciosas para Sunagakure antes que o inimigo pudesse reagir.

Considerações: