Tengen decidiu acordar cedo naquele dia, estava insatisfeito com seus treinamentos, enxergava uma necessidade ainda maior de estar sempre um passo além, de ter o plano a e o plano b, e sabia que era hora de desenvolver seu um pouco mais de suas capacidades intelectuais. Para isso, ele escolheu um método tradicional e eficaz: jogar shogi. Encontrou um canto sossegado em seu quarto, onde uma mesa redonda de madeira e um tabuleiro de shogi aguardavam. Tengen posicionou as peças no tabuleiro, preparando-se para uma partida solitária. Jogar contra si mesmo exigia um nível profundo de autoconhecimento e disciplina mental. Era claro para ele que, para ser um ninja completo, precisava não só de força física, mas também de uma mente afiada. Ele começou a primeira partida, adotando uma abordagem ofensiva com o lado branco e uma defensiva com o lado preto. — Pense alguns passos à frente de si mesmo — murmurou para si, enquanto fazia um movimento calculado com uma das peças brancas. Ele então mudou de lugar, agora pensando como seu oponente fictício, e respondeu ao movimento com uma estratégia defensiva. Cada movimento era meticulosamente pensado, forçando Tengen a considerar múltiplas possibilidades e a antecipar as respostas de ambos os lados. — Se eu mover aqui, qual será a resposta? E se eu...  qual será o impacto — Estas eram as perguntas que ecoavam em sua mente. Jogando contra si mesmo, Tengen não tinha como subestimar ou superestimar seu oponente. Cada partida era uma batalha intensa entre suas duas metades estratégicas. Ele começou a notar padrões em seu próprio pensamento, identificando pontos fortes e fracos em sua abordagem ao jogo.

— Preciso pensar vários passos à frente — refletiu Tengen, ao perceber que um movimento imprudente poderia ser explorado por ele mesmo. A concentração necessária para o jogo ajudava a afiar seu raciocínio, mordiscando uma bala açucarada enquanto pensava, continuava a fortalecer sua capacidade de tomar decisões rápidas e precisas. Após várias partidas, ele começou a ver melhorias. Tengen estava mais rápido em identificar armadilhas e mais astuto em criar suas próprias estratégias. A prática de antecipar as reações do "outro" Tengen no tabuleiro estava lentamente aprimorando sua capacidade de prever os movimentos de oponentes reais em missões. Em uma das partidas, Tengen fez um movimento inesperado, pegando a si mesmo de surpresa. — Interessante — murmurou, observando o tabuleiro. — Estou começando a entender — Depois de várias horas de jogo, Tengen sentiu que sua mente estava mais afiada. Cada partida perdida era uma lição, cada vitória uma confirmação de seu progresso. Levantou-se da mesa com uma nova confiança, sabendo que esse treinamento mental o tornaria um ninja mais completo e preparado para os desafios futuros.

Ainda pela manhã, enquanto organizava o tabuleiro novamente, a janela do Hatake foi visitada por um pássaro mensageiro, tipicamente utilizada para comunicar rapidamente ninjas pela aldeia ou até mesmo do outro lado das muralhas. Semelhante a um falcão, o animal carregava um pergaminho em suas garras, este carimbado com o símbolo da Folha em vermelho intenso. O bater do bico do animal na janela de vidro fez a atenção de Tengen ser atraída, indo até o local para receber a mensagem então encaminhada para si.  Ao desenrolar o material e ler se conteúdo, logo percebeu que a situação era de grande responsabilidade. Suas vestes típicas de Konoha estavam prontas, carregando consigo uma lâmina curta e a determinação do Fogo. O pergaminho continha todas as informações necessárias, como um resumo dos acontecimentos, vitimas e localização da loja. Tengen foi para o local, sendo recebido por um time de Chunins que lideravam a investigação. — Hatake Tengen? Chegou em boa hora, algumas vitimas disseram que podem ajudar com informações, o que acha de falar com elas? — Orientou o Chunin, indicando algumas das vitimas. A loja roubada pertencia a Kimie, uma vendedora de roupas classificadas como ''luxuosas'' por alguns. O Hatake prendeu seus longos cabelos prateados em um rabo de cabelo, armando um sorriso charmoso em seu rosto e se aproximando das donzelas. — Com licenças, meninas. Podem conversar comigo por um momento? — Ficou próximo de três mulheres, que se olharam entre si e aceitavam com um aceno de cabeça conversar.

Durante as perguntas de Tengen, descobriu que os criminosos se vestiam com mascaras totalmente brancas, com abertura somente para os olhos, estavam armados e pareciam ''gripados'', como descrito por elas. Além destas informações, nada que realmente fosse útil para o andamento da investigação foi acrescentado no depoimento das vitimas. Enquanto coletava informações, um dos Chunins seguia observando os rastros de destruição deixado pelos criminoso, buscando encontrar algo valioso para o progresso da investigação.

— Yo, Hatake! Veja isso — O Chunin responsável por coletar pistar pela cena do crime chamava o Hatake, que ia com calma até o homem, parando ao seu lado. — O que encontrou ai? — Tengen se abaixou, apoiando os braços nos ombros enquanto olhava para as mãos do seu aliado, que mostrava um pequeno frasco de vidro em sua mão, este contendo um liquido roxo dentro. — Eu já vi isso antes, em outros ocorridos na aldeia. A analise da substancia indicou ser algum tipo de droga, algo capaz de retirar o discernimento de bom e mal da pessoa. Devem usar isso para facilitar a ação. — Explicou, se levantando, guardando o frasco em sua bolsa. — Kimie não foi encontrada! Temos um problema ainda maior agora, um sequestro e uma possível refém. — O segundo Chunin surgia entrando na cena, acrescentando mais uma informação aos dados. Tengen serrava os punhos, erguendo-o na altura do rosto, reclamando em voz alta. — Então vamos logo! Uma dama está em perigo! — Berrou, começando a caminhar até a porta com passos pesados, exageradamente barulhentos. O Chunin colocou o braço no caminho, impedindo que prateado continuasse. — Vamos logo para onde, garoto? Esses jovens de hoje em dia. Se quisesse matar, teriam feito isso aqui mesmo. Ei, Kien, vamos até ''aquele lugar''. — Orientou ao colega, olhando fixamente nos olhos de Tengen antes de dar as costas. Kien passava pelo Hatake com um sorriso, batendo em seus ombros e pedindo que ele os seguissem para um outro lugar.

Sem entender, Tengen se despediu das damas com um aceno e um sorriso, seguindo a dupla de Chunins, Kien e Marco. — Para onde estamos indo? — Perguntou, começando a se sentir inquieto pela falta de informações. Andaram por quinze minutos entre algumas ruas da aldeia, até alcançarem uma área um pouco mais ''fragilizada'', onde a concentração de bares, tabernas, cassinos, bordeis e de comércios atípicos era elevada. — Novato, fique de boa fechada. Já vai ser ruim demais olharem alguém novo entrando aqui. — Marco me alertava, arrumando o óculos em seu rosto enquanto empurrava a porta de um local chamado ''Senhor Caneca''. Tengen abria um sorriso, preparado para fazer a melhor encenação de policial ruim de sua vida.

A primeira vista, a presença dos Chunins e do Genin naquele ambiente atraia a atenção daqueles que consumiam no local. Tudo indicava que os dois Chunins eram conhecidos no estabelecimento, mas Tengen ainda não entendia o porque, e como aquelas pessoas poderiam ajudar. O bar, ou a bodega, era simples, com um piso avermelhado, mesas e balcão de madeira, com uma prateleira repleta das mais diversificadas bebidas e estufas com os mais diferenciados petiscos. Ao longe, no canto direito da bodega, uma porta de madeira escura era guardada por um homem alto, que recebia um aceno de Marco, e liberava a passagem para o mesmo. — Tentem não arrumar confusão. — Disse o Chunin arrumando seu óculos e passando pela porta, logo antes do grandalhão impedir que qualquer outro passasse. — Kien, o que vamos fazer? — Indagou o Hatake, um pouco confuso com seu real proposito naquele lugar. — Vamos dizer que o Marco... ''conhece'' algumas pessoas. Enquanto está lá ''conversando'', a gente se mistura e tenta arrumar alguma informação extra sem chamar muita atenção. — Kien explicava a influencia de Marco naquela região, o que deixava toda a situação ainda mais suspeita. Não sabia ao certo se o que faziam ali era correto, ou estava dentro da lei, mas parecia funcionar para a dupla experiente, e não iria questionar em sua primeira missão. Tengen abriu um sorriso, avistando uma mesa lotada de homens beberrões jogando cartas enquanto apostavam suas economias.  

— Yo yo yo!! Bora pro jogo! — O Hatake puxou uma cadeira para se sentar entre os apostadores, com um largo sorriso no rosto e uma maneira pouco sutil de se misturar, jogando os pés por cima da mesa e espreguiçando seu corpo para trás. Todos olhavam raivosos para o platinado, alguns por pouco não puxava as armas escondidas em suas vestes. Tengen jogava uma bala em sua boca e a mastigava com pressa, tirando os pés da mesa e colocando ambas as mãos em cima. — Hoje parece um bom dia para roubar e sequestrar a dona de uma loja de roupas de luxo, não parece?! HAHAHA Eu to brincando pessoal, eu to.... HEI KIEN?! — Kien surgia por trás agarrando o Genin pela gola de seu colete, arrastando ele e a cadeira para longe daquela mesa. — VOCÊ ENLOUQUECEU?! — Segurou-se para não berrar ou agredir seu parceiro. Tengen deu um riso bobo, coçando a sua própria nuca. Assistindo ao espetáculo causado pelo Genin, um homem misterioso, com o rosto repleto de cicatrizes passava ao lado da dupla, deixando um papel enrolado no colo do Hatake. — Senhor, você deixou cair... o que é isso? — Perdia a pessoa de vista, e sua curiosidade o fez abrir o papel. — Um endereço? — Pensou. Segundos depois, Marco saia de sua ''reunião''. — Precisamos ir logo... eu descobri quem está fabricando a droga. — Marco agarrou Kien e Tengen pela gola, agora indo embora da bodega.

Arrastados para fora da bodega, Tengen e Kien esperavam uma explicação de Marco, enquanto o ninja platinado abria o pedaço de papel que ''caiu'' em seu colo, quando um homem misterioso de capa passou ao seu lado.  Escrito a tinta, o papel continha apenas ''Antiga Farmácia de Jin'' desenhado. Conforme olhava para o papel, a tinta começava a se espalhar cada vez mais, a ponto de tornar difícil a leitura e fazer o papel de romper no meio, tornando impossível identifica-lo novamente. — A antiga farmácia do Jin, isso ajuda em alguma coisa? — Disse Tengen, sendo solto por Marco assim que colocavam os pés fora da bodega. — Ele foi um pouco resistente em me informar, mas descobri quem fabrica e o que exatamente é isso. Como suspeitávamos, essa droga retira qualquer resquício de bondade da pessoa, e transforma ela um peão temporário. — Fazia uma pausa para arrumar o óculos, soltando a dupla. — A farmácia funcionava a anos atrás nesta mesma região, mas foi abandonada a alguns anos. — Completou, observando o papel se desfazer no chão. Marco seguia na frente, guiando a equipe para a farmácia.

Um bom tempo caminhando, a antiga farmácia já podia ser vista na esquina de um beco. Sua fachada estava coberta de pedaços de madeira pregados na porta, e fitas que diziam estar fechada. Quem passasse e a visse nesse estado, jamais suspeitaria que algo estaria acontecendo por dentro, parecia intocada na parte de fora. Kien se aproximou, segurando uma das tabuas de madeira com sua canhota, flexionando o cotovelo e a puxando com toda sua força, arrancando a madeira da porta de uma só vez. — Hahah! Que cara forte! — Tengen levantou seu braço fazendo um ''double biceps'' para Kien. O olhar de vergonha alheia era nítido no rosto do Chunin, que balançava a cabeça em negação enquanto Marco começava a entrar na farmácia. — Fiquem de olhos abertos. — Dizia Marco, arrumando mais uma vez seus óculos. Tengen comia uma de suas balas, adentrando na farmácia com os Chunins. O local abandonado exalava uma mistura de mofo com amônia, e quanto mais se aproximavam dos fundos da loja, mais forte o odor ficava. Entre algumas prateleiras de caixas de medicamentos vazias, um clarão escapava por uma fresta na madeira, o suficiente para levantar as suspeitas do grupo. Kien utilizava sua força novamente e puxava o móvel, revelando um laboratório. O primeiro passo foi de Marco, mas antes que os outros o seguissem, Kien e Tengen se viravam para uma sombra que corria em suas costas, escapando do local. — PEGUEM ELE! — Marco apontava. Tengen e Kien disparavam para perseguir o alvo.

Era nítido o esforço que o fugitivo fazia para conseguir escapar dos olhos aguçados de Kien, que com a força de suas pernas realizava saltos incrivelmente rápidos. Tengen era um pouco mais lento, economizando suas energias, mantendo Kien e o alvo em seu campo de visão. A perseguição se estendia pela região, adentrando feiras livres nas ruas, saltando sobre barracas, sacadas e outras pessoas. De súbito, o inimigo mudou a direção de sua fuga, adentrando em uma das maiores casas na região. Kien não poupou esforços, socando a porta e a partindo ao meio, ficando ofegante logo em seguida. Tengen surgia ao seu lado alguns segundos depois, retirando duas balas de seu bolso, entregando uma a Kien e comendo a outra. — Descanse um pouco, Kien. Eu assumo daqui. — Disse o Hatake em um tom calmo, batendo no ombro direito de sua aliado. — Vamos dançar! Hahaha! — Berrou e gargalhou logo após aparentar estar tão calmo, andando reto para dentro de uma grande recepção. Em resposta ao seu anuncio, Tengen recebia nada mais do que o silencio, o rangido do piso de madeira, e o estalar de alguns moveis que se dilatavam e contraiam com a variação de temperatura. O Genin caminhou lentamente pela recepção, observando os cantos, os moveis, até se aproximar de um balcão, onde mal precisou vasculhar para obter informações sobre o inimigo. Em um dos panfletos que encontrava em bom estado, o nome White Mask se destacava sempre, apresentando homens com vestes formais brancas e mascaras exóticas em seus rostos. Já haviam obtido a localização de um laboratório e o nome da organização responsável pelos roubos, mas o sumiço de Kimie ainda era uma mistério a ser resolvido.

— So...... co...... rro..... — Como um sussurro fantasmagórico carregado no ar, um pedido de socorro em voz feminina chegava aos ouvidos do Hatake. — U-Uma dama... está em perigo? N-não... — Os punhos do shinobi se fecharam e seus passos se aceleraram rumo ao sentido da voz. — Calada.... — Outra voz vinha como um sussurro até o ninja, mas, após se movimentar, a dificuldade em rastrear o som aumentava. Com os olhos fechados o proximo som fazia a furia do platinado despertar. — Ahhhn! — A dor agoniante deixava os labios de uma dama. Tengen segurava com firmeza sua Hakko Chakura To, banhando toda a extensão da lamina com um fio de chakra esbranquiçado. — TSUME.... SHIRO!!!!! — Brandia sua arma mirando o solo, realizando três cortes brancos na madeira, que se rompia com o peso do ninja. Logo abaixo de seus pés, um esconderijo no subsolo se revelava, e nele o olhar apavorado do inimigo e de Kimie, a dona da loja de roupas de luxo. Tengen caia com um sorriso gigante em seu rosto, rindo com o olhar fixado em Kimie. — HAHAHAHA!! TENGEN CHEGOU BABY!! —