Ainda em busca do fundo do poço, Ethan não poupava esforços, desta vez, ampliando a rede de contatos e tentando formas novas para se sabotar. Em uma dessas pesquisas, ao conversar com um contrabandista, descobriu sobre a existência de um “cientista maluco” com raízes Iwagakure, segundo o homem. Dentre todos os detalhes compartilhados em uma conversa informal entre conhecidos, onde ambos dispensavam qualquer tipo de formalidade, Ethan ficou sabendo sobre a busca de cobaias para um teste experimental. Nem mesmo o contrabandista tinha muitos detalhes sobre a pesquisa do outro, no entanto, todos minimamente bem informados sabiam sobre o boato de uma promessa de poder. Dos riscos, pouco se falava, mas também não era como se o Hattori se importasse com detalhes tão triviais quanto esse. Afinal, após tudo o que passou em Wokka, tomar decisões ruins virara um hábito. Os riscos, para ele, apenas limitavam o seu horizonte de possibilidades, minando qualquer chance de preencher o vazio deixado em seu peito. Então, sem demonstrar abertamente seu interesse, Ethan obteve algumas informações sobre o cientista, o seu nome e o bar onde costumava frequentar todos os dias após um dia de trabalho.

Naquela mesma noite, com as roupas padrões dos ninjas de Iwagakure, Ethan se dirigiu até um bar movimentado, geralmente frequentado pela escória do vilarejo. Ao chegar lá, tendo uma descrição vaga do sujeito, começou a varrer os arredores, descartando, um a um, todos que não se enquadravam na fisionomia que procurava. Segundos depois, deparou-se com um homem em um canto, sozinho, acompanhado por uma garrafa. As suas costas estavam arqueadas e os braços sobre o balcão, tendo apenas uma luz fraca acima da cabeça.

— Eiji, suponho. — O jounin se aproximou e sentou-se em um dos bancos. — Ouvi algumas histórias sobre a sua pesquisa. Pelo visto, você deve ter muitos fãs. Mas sendo sincero, não me importo com nada que envolva o seu trabalho, pode me considerar apenas como um garoto desesperado por poder. Acho que você já deve ter imaginado isso, não? Mas, antes de me rejeitar e inventar mil desculpas, saiba que não como os outros. Se precisar sacrificar a minha vida por uma chance ínfima de sucesso, farei de bom grado.

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Eiji, na casa dos 35, com incontáveis fios ruivos na cabeça e feições inalteradas, olhou Ethan de cima a baixo. A princípio, não transpareceu as suas intenções e pensamentos, apenas pareceu curioso com o espécime na sua frente. Antes da resposta, virou os olhos e deu mais um gole na bebida. — Na verdade, não. É a primeira vez que alguém que quer se matar vem me procurar. Garoto, aqui vai um conselho: se quer mesmo se matar, pelo menos seja sincero quanto às suas intenções. Você pode vir até mim e falar todas as atrocidades que desejar, sério, não me importo, mas jamais minta de novo para mim. Se já acabou, gostaria de terminar a minha bebida. — Desviou novamente o rosto, virando o restante da garrafa de uma só vez. No restante do tempo em que permaneceria ali, ignoraria o Hattori, não fazendo questão de esconder o fato.

Ethan, por outro lado, ignorou tudo o que foi dito a partir do “não”, determinado a importuná-lo até que ele cedesse aos seus caprichos. — Acho que você não me entendeu. Eu preciso disso! Vamos! Fala o que você quer que eu consigo. Se o problema for dinheiro, isto não será um problema. — Estava convicto, mas ainda sem uma resposta. — E, para constar, eu não menti. Você até pode estar certo sobre a minha busca pela morte, porém, eu já morri mais vezes do que consigo contar. Já não é de hoje que fico cara a cara com a morte, no fim, sobrevivendo por pura sorte. Sendo assim, que mal a sua pesquisa pode fazer com alguém que já perdeu a vida mais vezes do que consegue se lembrar? — Os olhos reluzentes não pararam de encarar o cientista; eles refletiam perfeitamente o desespero de Ethan, que sequer era capaz de piscar. Sua respiração se tornava ofegante e, por fim, o punho cerrado encontrou o balcão, reverberando um estalo oco que chamou a atenção de todos em volta.

— Já que é assim, prove que está falando a verdade. — Eiji tirou um frasco de um dos bolsos, revelando um líquido púrpura borbulhante. — Beba isto e saberei que posso confiar no que diz. No entanto, não confunda as coisas, isto ainda não te torna apto, no máximo, vou considerar fazer alguns testes em você.

Quase que como em um surto, dispensando o bom senso, Ethan apanhou o frasco e despejou seu conteúdo garganta abaixo. Faria uma careta expressiva ao sentir o gosto metálico e a textura gelatinosa, mas ainda não declinou, lutando contra a ânsia de vômito. Depois, enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro, percebeu que o homem diante de si começou a se levantar, tomando em mãos a capa de chuva que jazia ao seu lado. Na sequência, seguindo os seus passos, Ethan compreendeu o sinal e começou a acompanhá-lo. Primeiro, saíram do bar, deixando todo o ambiente caótico e barulhento para trás, que seguia tomado por risos e por histórias de homens bêbados. Então, seguiram por ruas praticamente desertas, dada a hora da noite. Consequentemente, após becos malcheirosos e ruas estreitas, localizavam-se em uma parte remota do vilarejo, um lugar onde nada de bom poderia acontecer. A sensação de aflição perdurou até chegarem a uma espécie de abrigo subterrâneo, onde Ethan passou a ter certeza de que algo ruim aconteceria naquela noite, porém, quando se deu conta, já era tarde demais. O corpo pesou e a visão ficou turva.

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Após ser conduzido até aquele laboratório subterrâneo, Ethan não se lembrou com clareza do que aconteceu lá dentro. Dentre as lembranças vagas e lampejos desconexos, recordava vagamente da estrutura do lugar, além, claro, das sensações perturbadoras. Os corredores eram estreitos, cobertos por uma fina camada de água no chão, e infestados de ratos. Goteiras incessantes e periódicas terminavam de compor o ambiente mal iluminado dos corredores, por onde corriam tubulações velhas e enferrujadas. Ethan tentava se lembrar do destino que traçou até os passos finalmente cessarem, e também dos motivos que o faziam agir como um zumbi, seguindo cegamente os comandos do outro, porém, as tentativas sempre falhavam. Ao fim do percurso, teve a impressão de sentir uma luz forte incidir sobre seus olhos, e só.

Então, o fim dos corredores marcou o momento em que tudo ficou ainda mais confuso, tanto que Ethan nem conseguia definir uma ordem cronológica para os eventos seguintes. Ainda que estivesse prestes a perder a consciência, sem o controle do próprio corpo, seus sentidos conseguiram captar alguns fragmentos do quebra-cabeça. Todavia, nem mesmo os sons e os cheiros eram capazes de compor uma cena clara em sua mente, considerando que alguns deles deveriam ser frutos da sua imaginação, tão desconexos e irreais quanto o Hattori permitia.

Primeiro veio a dor, implacável e inesgotável. Droga nenhuma poderia mascarar aquela dor aguda, que tomava todo o seu corpo, como uma praga se espalhando. Ela era forte o suficiente para fazer qualquer um sucumbir frente à loucura, tal como uma tortura interminável. Logo depois, vieram os gritos e o barulho das correntes, juntamente com um calor indistinguível de um líquido que cobriria as suas mãos. No entanto, os gritos em uníssono não vinham do Hattori, e conforme o tempo passava, um a um, eles desapareciam, calando-se para todo o sempre. A sequência, apesar de confusa, repetia o mesmo padrão: cada voz desaparecia após o som de um passo. No fim da confusão, mais uma onda de dor acometeu Ethan, essa, no entanto, era diferente de qualquer outra sensação que havia vivenciado.

No dia seguida, o Jounin acordaria na frente do mesmo bar de outrora, com uma baita dor de cabeça. Ele olhava para os lados, mas, tirando as pessoas que seguiam o curso normal de suas vidas, não via nada de estranho. Procurando com mais afinco, também não encontrava Eiji em lugar algum. Diante da situação deplorável na qual se encontrava, apresentando algumas dificuldades para andar, foi para casa. Por fim, depois de um banho gelado, enquanto na frente do espelho, Ethan reparou em uma marca negra no seu pescoço, semelhante às próprias tatuagens. A partir daí, tudo o que Ethan fez pelo restante do dia foi tentar se lembrar de tudo o que ocorrera na noite passada.

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