Quatro Noites de Treinamento

I

Primeira Noite
Fiquei me perguntando onde estava com a cabeça ao aceitar essa proposta de trabalho, mas ficar quatro noites no deserto não era uma ideia tão ruim. Esses tipos de aventuras quando se pensa em diversão é ótimo, mas o trabalho transforma as coisas em algo muito mais cansativo. Era a minha primeira noite no treinamento do deserto e a primeira tarefa era encontrar um bom lugar para passar a noite, segui o grupo como faria um bom escoteiro e prestei atenção em tudo o que pudesse ser útil para mim no futuro. Não tinha como me divertir, então tomei cuidado para não deixar passar informações que podem me deixar mais forte ou que aumentam minhas chances de sobrevivência no deserto. Aprendi coisas simples como o clima do deserto ser quente durante o dia e frio durante a noite, o vento pode mudar muito a estrutura das dunas, escondendo as rotas menores. O segredo eu já conhecia, era seguir as estrelas do céu. Para acampar é necessário tomar cuidado com alguns sinais do terreno, conferir se não se trata de um território de feras do deserto, areias movediças ou um campo aberto que possa sofrer com as tempestades de areia. Acampamos a noite em um bom lugar.

Segunda Noite
A segunda noite de acampamento tinha muito mais coisas a serem consideradas, estávamos um pouco mais cansados e tivemos que trabalhar para encontrar suprimentos a manhã inteira. A partir da segunda noite no deserto, é importante fazer uma leitura de como estamos de suprimentos, feridos e pessoas com energia para lutar, caso nos encontremos com bandidos ou monstros do deserto. Por isso mudamos a localização do acampamento essa noite, precisávamos ficar mais próximos de uma fonte de água, mesmo que isso aumentasse as chances de um encontro indesejado. Os ninjas do grupo estavam cheios de energia, não caminhamos muito durante o dia e poderíamos dar conta de proteger uma área do oásis se trabalhássemos em equipe. Um dos falsos enganos de se viajar no deserto é achar que a noite é mais tranquila para atravessar as rotas, mas a verdade é que são igualmente cansativos. O sol castiga de manhã e o vento a noite, por isso se deve avaliar se estamos a favor ou contra o vento, esse pequeno detalhe pode salvar vidas. Viajamos a noite por causa disso, o vento nos ajudou com um leve empurrão nas costas, também não tivemos que usar panos nos rostos para respirar.

Terceira Noite
A terceira noite era sem dúvida a mais complicada para o grupo, estávamos todos cansados e sabíamos que voltaríamos na noite seguinte, saber que todo aquele treinamento estava apenas na metade não era nada confortável para nenhum de nós. Passamos o dia revezando a vigília e aproveitando o máximo dos recursos que definimos no oásis, bebemos água e comemos os lagartos do deserto, cuja carne era mesmo deliciosa. Não senti que estava ficando mais forte durante essas noites de treinamento, mas era um bom acréscimo ao meu currículo ninja para almejar o topo da hierarquia militar do vilarejo. Levantamos o acampamento a noite e voltamos parte da viagem que fizemos na véspera, viajamos contra o vento e descobrimos como era realmente horrível caminhar com vento e areia batendo em nossas caras. E adivinha só? Isso também fazia parte do treinamento. Tínhamos que saber encontrar maneiras para viajar de forma confortável e nos acostumarmos com o desconfortável, esse era o verdadeiro diferencial de um bom sobrevivente, a capacidade de se adaptar nas mais diversas situações provocadas pela mãe natureza. Foi uma viagem árdua, difícil de respirar e que fez minhas pernas e braços arderem de tanto exercício, mas no fim conseguimos retornar avançar.

Quarta Noite
A quarta noite foi sem dúvidas a mais saborosa de todas, mas isso não tinha nenhuma ligação com comida ou conforto. Estávamos todos exaustos e eu comecei a cogitar que não seria uma má ideia tomar um banho, esse era o meu nível de imundice. Eu com certeza não estava nada disposto a erguer outro acampamento, no entanto, era a última noite. Saber que tudo iria acabar ao amanhecer fez com que todos estivessem mais animados e felizes, um outro aprendizado importante para sobreviver no deserto, saber utilizar e provocar as emoções mais fortes no momento adequado. Precisávamos de energia e esperança, e por isso utilizamos as fogueiras para fazer rodas de histórias e canções, isso foi sem dúvidas a coisa mais incrível que presenciei nos últimos dias. Ouvi contos de reinos antigos além dos desertos, herois do passado, ninjas que partiram e profecias de um retorno aguardado. Tudo isso alimentou meus sonhos com as mais belas visões que eu poderia ter, me fornecendo força e energia para retornar para casa em segurança. Escolhemos o horário da manhã para aproveitar a inspiração das fogueiras, e assim chegamos aos portões do vilarejo como novos homens e mulheres, ninjas prontos para encarar qualquer desafio no deserto.

CONSIDERAÇÕES: