— Sua missão de hoje será prestar serviços à dois civis. — O Jounin entregou um pergaminho à Yukihiro contendo as informações sobre os requisitantes.

— Muito obrigado, Sr. Inuzuka! — Ele curvou-se pesadamente, em respeito, ao receber o pergaminho.

— Você mantém o ânimo, apesar das missões que tem aceitado, Senju Yukihiro. — Ele olhou sobre os óculos, desconfiado, encarando os olhos curiosos diante dele. Desde que começou a entregar missões ao jovem de cabelos esverdeados, essa era a primeira vez que ele se dirigia pessoalmente ao garoto.

— Hã, bom... Eu... — Surpreso com as palavras de seu superior, Yukihiro pareceu perdido entre pensamentos e palavras avulsas. A intimidade repentina lhe roubara brevemente a estabilidade. — Eu ainda preciso melhorar muito as minhas habilidades e mesmo não sendo as missões mais agitadas, tenho aprendido muito com elas! — Pela forma como suas palavras foram entoadas, o jovem Yukihiro parecia tentar encorajar a si ao se explicar para o Sr. Inuzuka. — De qualquer forma, todos precisam passar por isso, então farei o meu melhor! — Seus olhos brilharam em convicção, extasiado por pensamentos de sucesso.

As vozes atrás dele se agitaram, irritadiças, devido à demora inexplicada. Notando o desconforto aparente, Inuzuka Kazuma pigarreou, alertando Yukihiro de seu devaneio e puxando-o para a realidade.

— Ah, claro, claro! Desculpa! — Ele se curvou freneticamente enquanto se afastava a passos apressados em direção à saída do centro de missões.

O sol iluminava toda Konoha, provendo calor e energia. Tendo crescido entre os Senju, Yukihiro aprendera a importância do Sol para todos os seres, desde os mais simplórios aos mais complexos. Conhecimentos que lhe foram passados por seus tutores e parentes mais próximos, sendo eles em sua maioria idosos. E, para aquela missão em especial, Yukihiro sentia-se especialmente familiarizado. Segundo o pergaminho em suas mãos, ele precisaria cuidar do jardim de uma civil chamada Ueno Emiko e fazer as compras do mês para o Nakamura Takeshi.

A casa de Ueno Emiko era grande e de aparência acolhedora. Quando Yukihiro chegou ao portão, a senhora já o esperava com um sorriso gentil. Ela vestia uma manta de tecido leve sobre os ombros e um vestido simples em tons pastéis.

— Bom dia, Sr.ᵃ Ueno! Me chamo Senju Yukihiro. — Ele curvou-se em respeito, sorrindo de uma ponta da orelha à outra. — Fui designado para cumprir com o seu pedido de missão. — As maçãs do rosto dele coraram ao notar o semblante da senhora diante dele. Ela parecia observar cada detalhe de seu rosto como se quisesse memorizar os traços mais sutis.

— Ah, sim! Certo, certo. — Ela fez um sinal com a mão para ele prosseguir através do portão. — Estive esperando por sua chegada, mas não imaginei que chegaria tão cedo. Que jovem pontual, não é? — Ela riu enquanto se dirigia para o interior de sua própria casa. — Todo o material de que você precisa estar disposto aqui. — Ela apontou para um canto na calçada em frente à sua porta, evidenciando uma caixa com luvas e ferramentas para capinar. — Irei preparar um chá enquanto termina o serviço. Fique à vontade. — Ela sorriu uma última vez antes de fechar a porta calmamente, aparentemente satisfeita com a chegada do garoto.

— Pode deixar! — Yukihiro parecia muito tranquilo enquanto organizava as ferramentas entregues a ele.

Quando se voltou para analisar o jardim, ficou surpreso ao se dar conta de que não teria tanto trabalho em lidar com as ervas-daninhas. Aparentemente a senhora Ueno tinha o costume, embora não corriqueiro, de cuidar de seu próprio jardim.

“Talvez ela tenha ficado doente nos últimos dias e por isso solicitou a missão?” Pensou, iniciando seu trabalho. “De qualquer forma, é melhor eu me adiantar. Não quero me atrasar para as compras do Sr. Nakamura.”

Ele demorou cerca de 1h para concluir o trabalho. As ervas-daninhas foram o suficiente para encher uma única sacola de 2l. Durante o meio tempo em que estivera cavando e removendo as plantas cuidadosamente com luvas e enxadas, Ueno lhe servira cookies e chá gelado de ervas e frutas. Quando por fim terminou o serviço, Yukihiro saiu com uma refeição extra de cookies no bolso. A Sr.ᵃ Ueno, por sua vez, o agradecera afetuosamente pelo trabalho realizado.

Quando chegou ao apartamento do Sr. Nakamura, a manhã ainda não havia acabado. Yukihiro estava diante da porta com a numeração “523” e uma placa de “Não perturbe!”. Ele ficou parado, em silêncio, se questionando se seria prudente tocar a campainha. Quando se deu conta, a porta se abriu inesperadamente, revelando uma figura de expressão ranzinza e voz desgastada.

— O que você quer? Não tenho nada para dar. — Ele franziu o cenho, revelando certa dificuldade em enxergar o que estava diante dele.

— Ah, bom dia, Sr. Nakamura! — Yukihiro tentou ocultar a surpresa em sua voz. Ele decididamente não sabia como Nakamura havia notado sua presença. — Sou o Genin responsável pela sua missão. Vim ajudar com as suas compras do mês. Desculpe o incômodo! — Ele sorriu timidamente, curvando-se em respeito ao mais velho. Quando voltou a sua postura anterior, ele notou que Nakamura buscava algo em seus bolsos.

— Claro, claro. Pensei que eles não fossem mandar mais ninguém. — Ele balbuciou, constrangido, enquanto tentava encontrar o que buscava em seus bolsos. Quando, por fim, retirou um pedaço de papel de seu bolso direito, Nakamura o entregou com uma lista de compras. — Não esqueça nada, ouviu bem? Caso contrário, irei presencialmente reclamar de você, jovenzinho. — Ele deu as costas e bateu a porta em seguida.

“Ufa!” Yukihiro respirou profundamente, aliviado com o fim da interação entre os dois.

Decidido a surpreender o Sr. Nakamura, o Genin deu meia-volta e correu em direção ao mercado mais próximo. Pulando entre telhados para evitar o tráfego que se formava nas ruas de Konoha, ele decorou cada componente da lista, sabendo exatamente quais locais poderia encontrar os alimentos requisitados. Após 1h correndo de um lado para o outro e após ter visitado três mercados em seu caminho, ele voltou com inúmeras sacolas e a lista completamente preenchida.

Quando Nakamura o recebeu com um olhar desconfiado, Yukihiro se satisfez com a expressão de surpresa que assumiu o semblante do mais velho conforme conferia os itens nas sacolas.

— Quem diria que alguém tão jovem faria um trabalho tão eficiente. — Ele puxou sacola por sacola, pausadamente, enquanto lançava olhares que transitavam entre a desconfiança e a satisfação. — Qual é o seu nome mesmo, garoto? — Ele cerrou o olho esquerdo, fitando desconfiadamente o Genin diante dele.

— Me chamo Senju Yukihiro, Sr. Nakamura. — Ele coçou a nuca, enquanto sorria desajeitadamente.

— Me lembrarei de você. Obrigado. — Então a porta se fechou abruptamente, silenciando de imediato o diálogo entre os dois.

Embora reconhecesse que nem sempre encontraria pessoas gentis, Yukihiro não julgou Nakamura por sua atitude. O fato de poder ajudar já era motivo suficiente para sorrir.

No dia seguinte, Yukihiro foi surpreendido com uma solicitação dirigida a ele por um civil identificado como Nakamura Takeshi. Enquanto lia o pergaminho em suas mãos, Inuzuka Kazuma o observava com certa curiosidade.

— Por que você parece surpreso? É apenas uma requisição simples. — Indagou a partir de seu assento. Kazuma aparentava ser um homem de meia-idade, possuindo cabelos lisos e cuidadosamente penteados. Em suas bochechas há tatuagens que se assemelham a garras, garantindo-lhe certo ar de seriedade e força.

— Bom, é que o Sr. Nakamura não parece ser do tipo que gosta de animais, sabe? — Ele soou um pouco desconfortável ao lembrar da última interação que tivera com o requerente da missão. Quando se voltou para encarar o Jounin a sua frente, Yukihiro se surpreendeu com a figura canina que surgiu ao fundo. Era a primeira vez que notava o cão ninja. Quando tentou interagir com o pastor-alemão, o canino não demonstrou interesse. — Talvez eu é que não leve jeito com animais, afinal. — Ele riu, tentando lidar com o próprio desconforto. Seu rosto estava levemente corado. — Bom, é melhor eu ir. O Sr. Nakamura já deve estar me esperando. — Desta vez, ele se despediu com um aceno de mão ao se dirigir à saída do centro de missões.

Yukihiro não demorou para alcançar o apartamento “523”. Inesperadamente, Nakamura Takeshi o esperava com uma expressão que mesclava a tristeza e raiva.

— Bom dia, Sr. Nakamura. — Ele curvou-se em respeito, sorrindo caridosamente. Conforme o pedido de missão, o gato de nome “Tora” havia saído para passear na noite de ontem e desde então não havia voltado. — Sinto muito pelo Tora, Sr. Nakamura. Garanto que farei o meu melhor para encontrá-lo. — Ele encarou o mais velho com respeito e gentileza.

— Espero que sim. — Suas palavras eram trêmulas e repletas de emoções reprimidas. — Tora costumava sair para brincar e fazer suas necessidades durante a noite. Não que ele não tenha espaço para isso em casa, mas aquele gato sempre foi muito aventureiro, nunca consegui mudar isso nele. — Ele coçou o olho esquerdo e Yukihiro se perguntou se eram lágrimas ou apenas um cílio fora do lugar. — De qualquer forma, ele sempre vai para a praça mais próxima. Seria bom você começar por lá. — Ele tirou uma fotografia do bolso e a entregou à Yukihiro. — Tome, essa é a aparência dele. Tora possui uma coleira com seu nome escrito, será fácil identificá-lo. — E, subitamente, ele se voltou para dentro de seu apartamento e fechou a porta com um baque.

— Obrigado! — Respondeu em bom som, desejando que Nakamura pudesse ouvi-lo do outro lado. — Certo, com essas características provavelmente alguém deve ter visto Tora nas últimas horas. — Yukihiro apressou o passo em direção ao parque próximo.

Havia um número considerável de pessoas no parque àquela manhã. Desde crianças brincando de ninja e adultos comuns aproveitando o ar livre para praticar algum exercício. Yukihiro decidiu começar por um grupo de esportistas que corriam em círculos no entorno do pátio. Acompanhando-os em sua corrida e evitando interrompê-los, o jovem Genin conseguiu algumas informações úteis que poderiam ajudá-lo. Segundo os maratonistas, eles encontraram uma gataria próximos à ala leste do parque. Sendo a região mais afastada e próxima dos limites de Konoha, Yukihiro se preocupou com a possibilidade de Tora ter se aventurado rumo à floresta no entorno da vila.

Seguindo as informações que lhe foram fornecidas, ele se deparou com uma área mais arborizada e vazia do parque. Havia inúmeras árvores dispostas sem um padrão aparente, garantindo uma vasta área de sombra. Bancos vazios formavam um círculo no centro e, sentada em um deles, estava uma senhora alimentando alguns pombos. Yukihiro decidiu se aproximar para buscar mais informações.

— Com licença. — Ele se aproximou cuidadosamente, mantendo uma distância respeitosa da senhora.

— Ah, um ninja! Não esperava encontrar ninguém por aqui a essa hora. — Ela jogou alguns pedaços de pão para os pombos que se amontoavam freneticamente a cada gesto. — Aconteceu alguma coisa? — Indagou, curiosa, enquanto alimentava os pombos esfomeados.

— Desculpe abordá-la dessa forma. Eu me chamo Senju Yukihiro e estou atrás de um gato chamado Tora. — Ele tirou a foto de seu bolso e mostrou à senhora. — Você por acaso viu algum gato como esse por aqui? — Perguntou, esperançoso.

— Ah, sim. Ele sempre aparece por aqui durante a noite, não é? E, ultimamente, tenho visto este e outros dois zanzando por essa área. — Ela parecia confiante de suas palavras. — Talvez você o encontre em algumas dessas árvores. — Ela riu e Yukihiro não soube dizer o porquê. Quando se deu conta, a senhora já não estava atenta à conversa, completamente focada em seus companheiros aviários.

“Certo, talvez ele ainda esteja por aqui… Seria bom procurar por pegadas…” Yukihiro lançou um olhar atento sobre o terreno ao redor. Por sorte, ele conseguiu identificar um rasto de pegadas, embora confuso, que serpenteava entre as árvores, desaparecendo e surgindo alguns metros depois. “Será que ele está em uma dessas árvores?” E foi quando ele ouviu um som estranho.

Acima dele estava Tora, agarrado em um galho, rosnando para o que parecia ser um gato adversário. Era a primeira vez que Yukihiro se via em uma situação como aquela. Quando ele tentou se aproximar, Tora fez menção de avançar sobre o Genin, desencadeando uma reação inesperada do outro gato.

— Ei, vocês não precisam brigar! Calma! — Suas palavras pouco influenciaram os felinos.

Yukihiro tentou escalar a árvore para tentar “resgatar” Tora (se é que ele desejava ser salvo), mas falhou inúmeras vezes antes de conquistar a confiança do felino enraivecido. O rival dele, um gato de pelugem malhada, decidiu se entreter com os pombos que se banqueteavam de pedaços de pão, enfurecendo a senhora que os alimentava. Quando alcançou o apartamento de Nakamura, no meio da tarde, o rosto e braços de Yukihiro estavam repletos de arranhões.

— Aí está você, seu danado! Dessa vez você ficará uma semana sem passeio! — Ele tomou o gato dos braços de Yukihiro sem dificuldades, demonstrando que compartilham um laço forte de intimidade.

— Parece que Tora só não voltou essa noite por que queria se provar para os seus rivais de rua. — Ele tentou rir das próprias palavras, mas estava muito cansado para encontrar ânimo suficiente.

— Muito obrigado, Senju Yukihiro. E sinto muito pelos arranhões. — Takeshi se voltou para o interior de seu apartamento, gargalhando e acariciando o seu gato rebelde.

Quando sua porta se fechou com um som abafado, Yukihiro suspirou profundamente. Embora estivesse feliz por Nakamura Takeshi, ele rezou para que Tora não se aventurasse outra vez tão cedo.