Maeda

— Não vai ficar melhor que isso — murmurei para mim mesmo, contemplando a lâmina fulgurante de Kurosawa, que repousava graciosamente sobre minhas coxas. Sentado sobre uma rocha maciça, cuja superfície era coberta por uma fina camada de musgo verde-claro, fruto da umidade perene que envolvia nosso vilarejo, mergulhei na tarefa meticulosa de polir a espada com um trapo desbotado, já enegrecido pelo uso frequente. O ato de purificar a lâmina, quase ritualístico em sua natureza, tomou mais do que alguns momentos, mas agora, com a luz da aurora banhando o cenário em tons dourados, era hora de encerrar essa reverência silenciosa e abraçar o chamado do destino que me aguardava naquela manhã. Com uma determinação renovada, ergui-me da rocha antiga, sentindo cada contorno áspero sob meus dedos, como se a própria pedra guardasse segredos ancestrais em seus sulcos desgastados pelo tempo. Inclinei-me para trás, esticando os músculos rígidos em uma dança de esforço e alívio, enquanto o eco do estalar de minha coluna reverberava pela paisagem serena. Era chegada a hora de deixar para trás as sombras da procrastinação e embarcar rumo ao centro de atribuição de missões, onde o destino aguardava, tecendo os fios de minha jornada como shinobi em uma tapeçaria de desafios e aventuras.

Desbravei o nevoeiro que envolvia a paisagem, lançando-me em direção a uma das solitárias árvores que pontuavam o cenário. Com destreza e agilidade de um verdadeiro shinobi, saltei de galho em galho, atravessando o ambiente enigmático com a mesma velocidade com que ali chegara. Em questão de minutos, encontrei-me no limiar entre os arredores tranquilos, onde residia, e o início da agitação do vilarejo predominantemente azulado, berço de minha existência. A cena que se desenrolava diante de mim parecia ser um caos organizado, um turbilhão de atividades cotidianas em pleno curso. Prossegui pelo solo com passos medidos e deliberados, observando atentamente o vaivém dos habitantes e dos colegas ninjas que se apressavam de um lado para o outro. Cheguei finalmente ao posto onde iria receber minhas primeiras missões, encontrando um cenário de fervilhante atividade. Ninjas de todas as patentes circulavam apressadamente, papéis em mãos, enquanto vozes exaltadas ecoavam na sala dos oficiais. Na mesa central, o responsável por atribuir as tarefas parecia estar à beira de um colapso, sua mente sobrecarregada com o peso dos deveres iminentes — Bom dia. Me chamo Maeda. — Apresentei-me com voz serena, quase tímida, esperando uma resposta cordial. No entanto, fui recebido com uma indiferença quase insultante, que pairou no ar como uma névoa de desdém — E isso é problema meu?

Maeda

Meu espanto inicial foi substituído por uma expressão de constrangimento, enquanto me via diante do olhar desconfiado e condescendente do indivíduo à minha frente. Com uma sensação de desconforto que se espalhava por todo meu ser, encontrei as palavras para me explicar — Bem, vim aqui para receber uma missão —, murmurei, enquanto tentava esconder a ansiedade que me corroía, coçando a nuca de forma nervosa. No entanto, a reação do sujeito não foi nada acolhedora. Com uma mistura de desconfiança e desdém, ele arqueou uma sobrancelha e disparou — Nunca te vi por aqui antes, moleque! Você acha que isso é uma brincadeira? Desapareça daqui! — Minha paciência, normalmente inabalável, cedeu lugar a uma crescente indignação. Inclinei Kurosawa, minha fiel espada, contra a borda da mesa do sujeito, um gesto de determinação que refletia minha determinação em obter o que desejava. Ergui ambas as mãos em um gesto determinado, invocando o sinal de mão para a técnica que desejava empregar. Era o Henge, um jutsu capaz de alterar minha aparência em meio a uma nuvem de fumaça que se materializava ao meu redor. Quando a fumaça se dissipou, eu estava envolto nas mesmas vestes do ninja à minha frente, meu rosto transformado em uma cópia perfeita do seu — Agora me reconhece? —, questionei com uma ponta de ironia, revertendo a técnica e retomando minha forma original. Para minha surpresa, o sujeito pareceu captar a mensagem — Venha comigo —, disse ele, levantando-se com um gesto brusco e indicando o caminho em direção à sala dos oficiais. O ambiente ao nosso redor pulsava com uma energia elétrica, a agitação dos ninjas transitando de um lado para o outro era palpável, criando uma atmosfera carregada de expectativa e tensão.

Ao adentrarmos o recinto, fomos recebidos por um silêncio gélido que pairava sobre a sala. Todos pareciam ter congelado no lugar, como se o tempo tivesse decidido estagnar naquele instante de nossa chegada. O ninja à minha frente, percebendo a falta de atenção que nos era dispensada, limpou a garganta com um pigarro discreto, chamando a atenção dos presentes. Gradualmente, o murmúrio dos conversadores cessou, e os olhares duvidosos que recaíram sobre nós poderiam facilmente ter falado mais alto do que palavras. Era como se a própria atmosfera estivesse impregnada de desconfiança, cada olhar carregado de uma incredulidade que mal precisava de voz para se manifestar. O responsável pelas atribuições de missões, um homem de postura rígida e semblante austero, avançou com determinação, assumindo uma posição militar de continência antes de dirigir-se a nós — Acredito que o garoto possa realizar a missão de investigação com discrição, senhor! —, declarou com firmeza, sua voz ecoando pela sala. Enquanto isso, o mais velho na sala voltou-se para mim, seus olhos semicerrados em um escrutínio meticuloso — Não vou enviar nenhum civil! Nunca vi esse rosto por aqui antes! —, protestou com desconfiança palpável em cada palavra. O ninja que me guiava não se deixou abalar pelas objeções, respondendo com convicção — Justamente por isso ele é perfeito! Ninguém sabe que ele é um dos nossos! Nem mesmo eu o reconheci — Sua assertividade permeava suas palavras, transmitindo uma confiança que parecia desafiar as dúvidas que pairavam no ar.

Maeda

Eu ainda não conseguia compreender plenamente a natureza daquela missão. Dúvidas começavam a turvar minha mente, alimentando uma sensação incômoda de que talvez estivesse me lançando de cabeça em uma situação perigosa por mero acaso, ou melhor, por pura má sorte. O mais velho, claramente o detentor do maior poder burocrático na sala, parecia concordar com minhas suspeitas. Após uma breve troca de murmúrios com os outros oficiais, ele chegou a uma conclusão e voltou-se para mim, indicando discretamente ao homem das missões que nos deixasse a sós. Foi então que ele começou seu monólogo, suas palavras pesando no ar como chumbo derretido — Escute bem, rapaz. Esta é uma missão de extrema confidencialidade. Nos últimos dias, pessoas têm desaparecido misteriosamente no vilarejo. Os alvos parecem ter um padrão em comum: residem em áreas sem patrulhamento ou presença militar, e geralmente pertencem às camadas mais baixas da sociedade. Suspeitamos que o responsável escolha suas vítimas com base na facilidade de desaparecimento despercebido. Nossas investigações têm sido infrutíferas até o momento, pois o culpado parece ser extremamente cauteloso e hábil em se misturar à população quando necessário. Você é um rosto aparentemente desconhecido e facilmente esquecível. Seu objetivo será coletar informações e jamais agir sozinho. Relate-me qualquer progresso dentro de quarenta e oito horas —, concluiu, de forma direta e implacável, sua voz carregada de uma estranha mistura de desdém e autoridade. Não ousei contestar suas instruções. Em vez disso, inclinei-me respeitosamente em sinal de obediência e deixei a sala, preparando-me para enfrentar o desafio que me aguardava nas sombrias vielas da Vila da Névoa, onde os segredos eram tão densos quanto a própria névoa que envolvia nosso vilarejo.

Cada salto que me conduzia pelos telhados até a região mais alta e enevoada do vilarejo era executado com uma precisão meticulosa, em perfeita sintonia com os pensamentos que giravam em minha mente, todos voltados para o cumprimento da minha missão. Não havia espaço para o medo; apenas uma apreensão palpável, misturada a uma estranha excitação que pulsava em minhas veias. Agachado no limite de uma das árvores que pontuavam a paisagem nebulosa, meus olhos se fixavam no branco opaco da névoa que obscurecia os detalhes lá embaixo. Sabia que precisava descer, e assim o fiz, em um salto ágil, embora um tanto desajeitado. O impacto do meu pouso reverberou no chão, chamando a atenção de inúmeros rostos sombrios que agora me observavam com uma expressão indiferente. À minha volta, as atividades dos habitantes cessaram momentaneamente, como se um intruso inesperado tivesse interrompido a monotonia de suas vidas cotidianas. Nenhum sorriso caloroso ou gesto amistoso era oferecido; apenas olhares vazios, desprovidos de interesse genuíno. Em uma tentativa de dissipar o desconforto que pairava no ar, busquei me explicar, mas minhas palavras foram recebidas com encolher de ombros e indiferença. Era como se eu fosse uma mera sombra passageira, facilmente esquecida entre os afazeres diários daqueles que habitavam aquele lugar. E, estranhamente, aquela falta de atenção era exatamente o que eu precisava. Minha missão exigia discrição, e aquele silêncio ensurdecedor era a garantia de que podia avançar sem ser detectado. Concentrei-me em meu chakra em meu interior enquanto inspirava um pouco de oxigênio antes de dar início aos meus passos.

Maeda

Com passos cautelosos, adentrei o epicentro daquela região mais desfavorecida. Não era uma área que frequentasse com frequência, mas fazia parte da minha terra natal, uma extensão sombria e dilacerada que eu conhecia por instinto. Apesar de ser considerada a parte mais desolada da Névoa, eu sabia que ainda existia um lugar ainda mais sombrio e sinistro no coração daquela favela. No momento em que meus pés tocaram o solo daquela região condenada, senti o frio toque do aço contra minha jugular, uma sensação que despertou instantaneamente meus sentidos. A lâmina repousava suavemente contra minha pele, e não precisei olhar para reconhecer a mão que a segurava. Era Rani, a jovem enigmática com quem havia compartilhado conversas íntimas no passado. Apesar de ser muda, sua habilidade em se comunicar através de gestos e olhares era surpreendente — Por que sempre precisa haver uma espada entre nós, Rani? — perguntei, enquanto me virava lentamente para encará-la. Seus cabelos tão brancos quanto a neve, emolduravam um rosto de uma beleza pura e intrigante. Um sorriso malicioso dançava em seus lábios enquanto ela pressionava a lâmina contra minha pele, sem causar ferimentos, mas instilando um medo palpável em meu ser. Rani era uma incógnita, uma figura enigmática que nunca deixava de surpreender, mas como eu sabia muito bem, a maioria das mulheres guardava mistérios que jamais seriam totalmente revelados.

Nos minutos que se seguiram, nosso reencontro assumiu uma intimidade inesperada para a situação, mas acredite, eu me esforcei para manter nossos nervos sob controle, consciente de que não podia me permitir distrair do meu objetivo. Enquanto buscava oportunidades fugazes para sondar Rani sobre os desaparecimentos na região, ela inicialmente se esquivou habilmente de minhas perguntas. No entanto, bastaram algumas horas para que seus dedos delicados traçassem um caminho sutil sobre um mapa antigo e desgastado da área, indicando um ponto específico, mais distante e isolado. Compreendi sua mensagem implícita: ela possuía informações valiosas e estava tentando comunicá-las da melhor forma que podia. Era seu pagamento justo pelas horas anteriores de nossa interação. Despedi-me de Rani com a cortesia de um cavalheiro, agradecendo por sua ajuda silenciosa, antes de recolher meus pertences e partir na direção do local indicado. Cada passo que eu dava era marcado por uma atenção descomunal, uma cautela meticulosa e uma determinação inabalável. Estava focado em desvendar o mistério dos desaparecimentos, consciente de que cada movimento poderia me levar mais perto da verdade ou arrastar-me para as sombras da incerteza.

Maeda

Desde o princípio, uma sensação inquietante de ser observado me envolveu, como se os olhos ocultos na névoa estivessem fixos em mim. Sem querer alarmar meu possível observador, meu punho direito repousava discretamente sobre a empunhadura da espada, pronto para qualquer eventualidade. Ainda não havia alcançado meu destino, o local indicado por Rani, mas logo o fiz. À distância, avistei um casebre de aparência decadente, suas paredes já desgastadas pelo tempo e a negligência. Rani havia marcado aquele lugar por algum motivo, e eu precisava descobrir por quê. Ao me aproximar, a porta se abriu com um ranger sinistro, revelando o interior sombrio do casebre. Um gemido abafado ecoou do chão de madeira rachada, indicando a presença de alguém no interior. Antes que pudesse refletir sobre o significado desse som, outro ruído me alertou para um perigo iminente. Passos rápidos cortavam o ar atrás de mim, uma ameaça invisível que se aproximava velozmente. Minha reação foi de reflexo e precisa: recorri à minha proficiência em ninjutsu para aumentar minha velocidade, movendo-me rapidamente cinco metros à esquerda e evitando por pouco o golpe que se desenrolava em minha direção. Diante de mim, um homem, provavelmente o observador que me seguia, revelou suas intenções malignas ao tentar me atacar pelas costas. Num piscar de olhos, deduzi o que estava acontecendo: ele era responsável pelos desaparecimentos, mantendo suas vítimas aprisionadas abaixo do piso daquela casa dilapidada. Embora o motivo por trás de seus atos permanecesse desconhecido, estava determinado a colocar um fim naquela atrocidade e entregá-lo vivo às autoridades para que pudessem descobrir a verdade por si mesmas.

Dentro de mim não ardia o desejo fervoroso por conflitos, pois eu me considerava um hedonista em busca da paz absoluta. Contudo, ciente de meu dever, não podia evitar o confronto iminente com o inimigo diante de mim. Uma escolha que me fora imposta, um ônus que carregava em nome da responsabilidade. O sujeito investiu contra mim com um grito gutural, seu segundo ataque desprovido de técnica ou preparo. Enquanto observava sua investida desordenada, soube que minha experiência seria minha melhor arma. Com habilidade precisa, permiti que seu golpe passasse rente a mim, como uma sombra evanescente. Aproveitando-se de seu desequilíbrio momentâneo, ergui meu calcanhar direito em um movimento fluido, direcionando-o com precisão ao queixo do adversário. O impacto foi certeiro, e o homem tombou inconsciente, derrotado pelo meu conhecimento e destreza. Restou-me apenas o simples trabalho de entregá-lo às autoridades, um ato que concluiu com êxito a missão imposta. Com todos os reféns resgatados e os culpados devidamente punidos, o sistema que sustentava o mal foi derrubado, suas garras retratadas diante da justiça. Em um instante, a ordem foi restabelecida e a tranquilidade retornou às vítimas de outrora.