Mesmo depois de tantos dias, Ethan ainda se recuperava do último combate que travou o atual líder da pedra, onde acabou ascendendo ao cargo de chunin. Na ocasião, o menor enfrentou situações que o levaram até o seu limite, e agora o mesmo lidava com as consequências desse encontro único que ocorrera em uma pedreira que ficava nos arredores de Iwagakure no Sato, um lugar com uma importância histórica imensurável para todos os habitantes daquela vila.

Ao ficar recordando o fatídico dia, deitado em sua cama, o Hattori não deixava de se culpar. Afinal, a impressão que ficou depois de tudo foi que ele poderia ter feito mais. Ainda que não tivesse declarado isso abertamente para o seu avaliador, achava um ultraje ser promovido diante de uma performance tão pífia.

Entretanto, aquela sensação ruim não foi a única marca que o embate deixou. Ethan, até aquele momento, seguia sem poder usar os seus olhos. Já não era de hoje que ele sabia que os orbes lhe roubavam boa parte da energia, mas dessa vez a sensação era diferente; dessa vez era acometido por uma dor alucinante todas as vezes que tentava retirar a bandagem dos olhos. No início, aquilo lhe causou muito medo. Depois, uma estranha compreensão o fez entender que aquele era o preço que pagava pela sua falta de habilidade. Assim Ethan seguiu, em meio a uma escuridão que jamais tinha fim, quase como se já tivesse esquecido que um dia já teve o privilégio de viver na luz.

Informações:

Diante da sua situação atual, Ethan seguiu como pôde. No início, até mesmo as tarefas mais básicas do dia a dia representavam um desafio enorme para o garoto, que tentava se habituar com a nova realidade. No entanto, ele já conhecia muito bem essa sensação de ter que lutar com unhas e dentes para continuar vivo, para continuar nesta grande competição que era o mundo real. Se precisasse resumir toda a sua trajetória em algumas palavras, não havia uma descrição mais precisa do que essa. Nos primeiros dias, entretanto, tudo seria mais simples; o real desafio começaria a partir do momento em que ele precisasse encarar o mundo real.

Era uma manhã como outra qualquer quando Ethan percebeu que, ao tatear os armários da cozinha, estava na hora de ir até o mercado para fazer algumas compras. Por sorte ele ainda tinha o dinheiro que recebeu pelas últimas missões que realizou, então esse seria o menor dos seus problemas. Porém, o pior ainda estava por vir.

Depois de se arrumar cuidadosamente, tendo um pouco de dificuldade no início, Ethan não demorou muito até estar diante da velha porta de correr que o levaria até rua. Tomando um certo cuidado para não forçar demais aquela porta que já estava nas últimas, saia de casa pela primeira vez em muitos dias.

Por fim, quando se deu conta, já era tarde demais, estava imerso em um mar de vozes — que o cercavam por todos os lados— e não podia fazer nada a respeito. Àquela altura, não conseguia nem mesmo ouvir os próprios pensamentos.

Informações:

Não sendo capaz de suportar o choque inicial, Ethan caiu de joelhes, levando as mãos até os ouvidos, cobrindo-os. A sensação que o invadia era terrível, algo que não desejaria nem para o seu pior inimigo, e quanto mais tentava se livrar dela, mais ela se intensificava. Por um momento, pensou que eventualmente fosse desmaiar devido à desorientação. Era uma possibilidade cruel, algo inconcebível, mas, também, o mais provável.

No entanto, todo o panorama mudou quando uma voz familiar se aproximou. Em seguida, não demorou muito até Ethan sentir um toque sútil em seus ombros, que seria o responsável por lhe trazer de volta à realidade.

— Quem diria, hein? Mesmo depois de tanto tempo, você continua rastejando pelas ruas — disse o homem de meia idade que se aproximou.

— E o mesmo vale para você, não? Sempre se achando mais esperto que os outros — Ethan retrucou, com uma certa dificuldade para falar. Ao reconhecer aquela voz, que se escondia entre tantas outras, não deu outra, sabia exatamente o que estava prestes a acontecer. Se não fosse capaz de se recompor, seria assaltado. E caso ainda tivesse alguma dúvida quanto a isso, não conseguiria mantê-las por muito tempo, já que o barulho quase inaudível das moedas que carregava na carteira o alertara.

— Um de nós dois ainda consegue ver algo, então... não acho que preciso me esforçar muito para ser mais esperto do que você — levantando um riso malicioso, o homem continuou. — Vejamos, o que temos aqui... — Nesse momento, com movimentos ágeis e precisos, ele fez a sua jogada.

Sob a influência de uma enorme quantidade de informações conflitantes, Ethan estava indefeso. O Hattori ainda podia tentar resistir, mas sequer havia força o suficiente em seu corpo para tal. Então, no ápice do seu descontrole, de repente um zumbido agudo silenciou todas as vozes, os passos, os corações, as respirações eufóricas, o canto dos pássaros, as risadas e tantos outros sons a sua volta. No fim das contas, não restou nada, e isso valia também para a sua carteira, que acabava de ser levada junto do que restou da sua dignidade.

Informações:

Mais um dos sentidos do Chunin havia desaparecido, agora ele já não era capaz de ouvir mais nada. Em meio à escuridão e ao silêncio, logo começou a se questionar, levantando várias hipóteses nesse meio tempo. Será que já estava morto? Não sabia ao certo, mas conforme o tempo passava, aquela ideia deixou de ser tão absurda. Custava a acreditar nos sinais, tentando se convencer do contrário, porém, já não tinha certeza se queria mesmo descobrir a resposta. Questionava-se, então, se já não tinha chegado a hora, afinal de contas, não fizera outra coisa na vida senão lutar. Assim, outra ideia infundada surgiu. Isso significava que o seu corpo havia colapsado? Pensou por um instante, descrente.

Foi então que o mundo de Ethan estremeceu. Ainda com os joelhos e ambas as mãos sobre o chão, ele teve a impressão de que a vila passava por um terremoto. Mas não era tão simples assim, era pior. Era como se cada pessoa em volta causasse o seu próprio terremoto, com os diversos sons e gestos que realizavam. Por sua vez, o Hattori seguia absorvendo uma quantidade estrondosa de informações, cada ranger de dentes ou conversa paralela lhe davam uma nova perspectiva sobre o mundo ao seu redor, como se fosse capaz de mapear todo aquele cenário mesmo sem usar os olhos. Era algo incrível, mas acima disso, algo doloroso e assustador. Entretanto, com essa nova leva de informações, pelo menos pôde concluir com certeza que ainda estava vivo. Sentia o mundo à sua volta pulsar, e isto bastava.

Informações:

Diante do fenômeno que acontecia consigo, Ethan viu nisso uma chance para tentar chegar até em casa. Assim que tentou tirar os joelhos do chão e ficar de pé, acontecia a sua primeira vitória do dia, onde, mesmo com todas as dificuldades, conseguiu se recompor. No entanto, no momento em que as suas mãos e joelhos deixaram o chão o vazio, escuro e silencioso, retornou. Ele se perguntou o porquê de aquilo ter acontecido, mas não importava o quanto tentasse desvendar o ocorrido, independente da resposta, continuaria na mesma, desorientado e sem ter formas de trilhar o próprio caminho.

A princípio, tentou ignorar tudo e começou a andar pela rua, buscando uma parede próxima para se apoiar. Contudo, à medida que esbarrava nos civis que caminhavam pela mesma rua, a sensação de sentir os pequenos terremotos retornam. Mesmo aquilo não sendo mais uma novidade, Ethan ainda não tinha se acostumado com a habilidade. Ele até tentava seguir em frente, ignorando o choque que percorria o seu corpo sempre que trombava com alguém. Não estava sendo uma tarefa fácil, de fato, mas ainda assim o menor lutou contra todas as adversidades, até, enfim, sentir as pontas dos dedos encontrarem uma parede áspera de concreto. Neste momento, sem demora, apoiou as costas ali e sentou-se no chão, tomando um pouco de fôlego.

Informações:

Tendo uma base para se apoiar, Ethan voltou a levar as palmas das mãos até chão, se deparando novamente com aquele novo mundo. Todas as informações de que precisava estavam ali, a um toque de distância. O mundo pulsava em um ritmo único, quase como se quisesse transmitir alguma mensagem através daquelas pessoas que iam e vinham. Era algo estranho, Ethan logo notou. No entanto, havia também uma certa beleza na sinfonia composta pelos diversos sons que chegavam até o Chunnin através das vibrações. Ethan também havia notado isso.

O garoto permaneceria ali, sentado, concentrado, focado em ler o mundo sobre uma nova ótica, por aproximadamente meia hora, até ter a coragem necessária para tentar chegar em casa. Mas antes de dar início à empreitada, tirou os sapados. Desse modo, mesmo tendo uma certa dificuldade para se localizar e caminhar no meio de tantas pessoas, ele percorreu os poucos metros que o separavam do seu lar, o único lugar em todo o mundo em que poderia se sentir seguro depois que tudo aquilo aconteceu.

A primeira coisa que fez assim que chegou foi tatear a velha porta de madeira que ficava na entrada, se atentando momentaneamente a cada um dos seus detalhes, enquanto procurava uma forma de abri-la. Após isso, exausto e com fome, foi até o seu quarto minúsculo e se deitou. Ainda com a mente a mil, esperava acordar no dia seguinte e fingir que nada daquilo tinha acontecido. E se tivesse sorte, já estaria apto para voltar a usar os seus olhos.

Informações:

No dia seguinte, quando o sol mal havia despontado no horizonte, Ethan acordou assustado. Confuso e sem saber muito bem onde estava, ainda não tinha conseguido se livrar por completo daquela sensação que o perseguiu no dia anterior. Mas para piorar, a sua audição havia sido reestabelecida, e ter que ouvir todos aqueles sons logo pela manhã era um inferno. Mesmo que tentasse cobrir a cabeça com o travesseiro, buscando amenizar o incomodo, ainda assim não encontrava o conforto que tanto buscava. Então começava a se lembrar de como tudo era tão simples antigamente, quando ainda não tinha de lidar com uma quantidade gigantesca de informações e podia usar com segurança os orbes. No fim, como em uma piada de mal gosto, o garoto só percebeu a sorte que tinha depois que chegou ao fundo do poço, onde começava a se questionar se ainda valia a pena continuar vivendo naquelas condições.

Depois de ficar jogado na cama por mais alguns minutos, finalmente havia chegado a hora de encarar a realidade e levantar. Mas para não correr o risco de encostar o seu pé no chão, tomou o cuidado de achar os sapatos antes. Como bem sabia, todo o cuidado era pouco, já que não queria ser bombardeado por mais informações que jamais desejou. Ele teve sucesso em evitar um contato involuntário com o solo, mas o seu dia estava apenas começando.

Assim que terminou de se trocar e de tomar um banho demorado, parou em frente ao espelho. Abaixando lentamente a faixa que cobria os seus olhos, estava disposto a testar a sua sorte, vendo se já estava recuperado. Assim que um clarão o cegou, ele levou a destra até os olhos em resposta, fechando-os. Mas, à medida que os seus olhos voltavam a se acostumar com a presença da luz, o incomodo também foi diminuindo gradativamente, até chegar ao ponto em que conseguia se ver no espelho. Estava acabado, constatou. Se as olheiras fossem o maior dos seus problemas, ele ainda poderia relevar, porém, ainda tinha de lidar com um olhar morto, com a palidez atípica que cobria toda a sua pele e, para piorara, lidava também com o fato de que havia perdido muito peso. De todos os ângulos possível, a sua situação não poderia ser pior.

Informações:

Assim como Ethan havia planejado instantes atrás, depois que terminasse de se arrumar, iria voltar à ativa. Os últimos dias tinham sido difíceis, não tinha como negar, mas agora já estava na hora de recomeçar, foi o que o Hattori pensou em seu pequeno monólogo. Para isso, como de praxe, iria até o prédio onde todas as missões são repassadas aos ninjas. Durante o caminho nada de memorável veio a acontecer, tudo podia se resumir a Ethan tentando não se distrair enquanto andava pelas ruas de Iwagakure, fazendo o impossível para que alguns dos seus sentidos não saíssem de controle. Não foi uma tarefa fácil, por vezes achou que iria fraquejar, mas no fim, ao ver aquele prédio imponente na sua frente, soube que tinha valido a pena passar por tantas provações.

Então passou pela recepção e subiu um lance de escadas até chegar no andar pretendido. Chegando lá, não demorou muito para perceber a presença de outros ninjas no local, onde os mesmos estavam dispostos em uma fila única, apenas esperando os seus nomes serem chamados. Diante da situação, sem poder fugir do longo período de espera que enfrentaria, Ethan tomou um lugar atrás do último da fila.

Até aquele ponto, apesar dos pesares, era apenas mais um dia normal na vida de Ethan. Tirando o fato de a fila estar razoavelmente maior do que o esperado, nada parecia fugir muito do cotidiano de um Shinobi da pedra. No entanto, quando uma figura parou atrás do Hattori, tomando um lugar na fila, algo mudou. Ethan não sabia muito bem explicar o que havia acontecido, apenas sentia um cheiro horrível empestear o lugar. E o mais estranho era que ninguém além dele se queixou ou demostrou algum desconforto. Todos seguiam na mesma, quase como se não sentissem o mesmo que o Chunin.

— Que cheiro horrível!!! — exclamou Ethan. Com o comentário, todos os olhares recaíram sobre ele. Enquanto alguns olhavam-no com desdém, quase como se o garoto os tivesse acusado por um crime bárbaro, outros apenas seguiam confusos. Mas o que muitos não sabiam era que aquele comentário não tinha sido proposital, tendo em vista que ele foi feito unicamente em resposta ao odor forte. Portanto, o garoto jamais teve a intensão de apontar um culpado; apenas constatava um fato tão real que chagava a lhe causar náuseas.

Informações:

Apesar dos olhares diversos, o grande problema por trás do comentário do garoto não foi a sua fala em si, mas sim o momento em que a constatação foi feita. Por coincidência, naquele exato momento um ninja de elite e muito respeitado tinha acabado de entrar na sala. Ao ouvir aquilo, o homem ficou furioso, e tudo piorou quando os outros começaram a encará-lo, esperando para ver qual seria a sua reação. Alguns torciam pelo pior; outros, apenas não queriam estar na pelo do garoto que disse aquilo. Mas independente do que pesavam, esperavam ansiosos para ver o desfecho que aquela situação vexatória teria.

— Francamente... É cada uma. Garoto, não gostaria de chegar mais perto e conferir que o problema não sou eu? — Sem palavras para descrever o que estava sentindo, o Jonin ainda custava a acreditar que estava passando por aquilo.

— Não é isso. O cheiro não está vindo daqui de dentro. — Ethan se desculpava, constrangido.

— Sei, sei... Por acaso você acha que eu tenho cara de idiota? Quer saber, que seja... — Sem paciência para continuar com a discussão, ele fez um gesto para que Ethan se aproximasse. — Já que você é um farejador tão bom assim, tenho a missão certa para alguém com as suas habilidades. — Por fim, entregou um pergaminho nas mãos do loiro.

Informações:

Ethan não havia entendido muito bem o que as palavras daquele Jonin queriam dizer, mas mesmo assim não demorou muito para tomar o pergaminho das suas mãos. Depois, sem motivos para permanecer na sala, deu de costas e seguiu rumo à saída, não vendo a hora de deixar todo aquele constrangimento para trás. Como imaginou, não enfrentou muitos problemas no caminho até recepção, afinal de contas, naquela hora do dia não era comum encontrar muitos ninjas perambulando por ali.

Depois de algum tempo, enfim, os passos do Hattori o levaram até o lado de fora do prédio. Ele deu um longo suspiro assim que voltou a encarar os tons de laranja que cobriam toda a vila, tentando encontrar forças para continuar com aquilo, em uma missão que pouco lhe interessava. Então, ao fim do seu momento de reflexão, Ethan buscou um lugar reservado para ler com a devida atenção aquele papel que continuava em suas mãos, perfeitamente enrolado e envolto em um laço preto.

Ethan não precisou procurar muito, já que à sua direita havia um beco estreito. Portanto, bastou mais alguns metros para que o Chunin se visse isolado, com apenas uma caçamba verde de lixo ao seu lado. O cheiro era horrível, e em determinado momento Ethan se questionou sobre o porquê de ter decidido permanecer ali, mas no fim, ele apenas ignorou o mal cheiro e começou a ler as especificações da missão. No início, enquanto ainda estava nas primeiras palavras, ficou confuso. Dentre todos os detalhes apresentados, mesmo se esforçando, ainda não conseguia ter uma noção exata do trabalho. No entanto, Ethan não precisou nutrir aquelas dúvidas por muito mais tempo, já que no instante seguinte descobria que, na verdade, aquela missão não passava de uma punição disfarçada. A grande missão a qual seria enviado, que prometia desafia-lo e leva-lo ao extremo, consistia em procurar um gato que havia fugido da sua dona no dia anterior.

O Hattori, ao ler a descrição da missão, não ficou contente. Primeiro, ficou furiosos, pensando em todos os xingamentos possíveis que usaria para ofender aquele Jonin. Mas depois de algum tempo, pensando em todos os finais possíveis para a situação de mais cedo, entendeu que a culpa de tudo isso era sua e que, talvez, merecesse ser punido. Ele ainda estava inconformado, isso não tinha mudado. No entanto, ao invés de ficar espumando de raiva naquele beco escuro e mal cheiroso, optou por ignorar todos estes sentimentos, partindo logo em seguida.

Informações:

No dia seguinte, enquanto ainda tomava o desjejum, Ethan pensava em todas as experiências que teve nas últimas semanas. De algum modo, sentia-se diferente, como se passar por tudo aquilo fosse o suficiente para que ele repensasse cada aspecto da sua vida. Ele tinha a noção de que mudanças não acontecia do dia pra noite, entretanto, quanto mais pensava a respeito, mais tinha a certeza de que algo dentro de si havia mudado. A forma como andava pela rua não era a mesma, e isto valia também para a postura que assumia diante dos outros. Há muito Ethan já não era o mesmo, e a sensação de não saber quem era, de certo modo, fazia com que ele não reconhecesse mais aquela pessoa que o encarava de volta no espelho. Aqueles eram os seus olhos, os seus cabelos, o seu rosto, a sua voz, o seu corpo; mas mesmo assim aquele não era Ethan.

Os desafios que o Hattori enfrentava nessa nova fase da sua vida eram muitos, e acabavam abrangendo até mesmo os detalhes mais insignificantes do seu cotidiano. No meio de tantas mudanças e reviravoltas, saber se não iria conseguir comer no dia seguinte, sem sombra de dúvidas, era o pior. Em se tratando deste quesito, Ethan já não tinha qualquer controle sobre o assunto, já que dependendo do que colocasse na boca, seria como lamber o chão, com todos aqueles sabores metálicos e amargos.

Assim, tudo o que o Chunin sabia sobre as suas preferências alimentares também não valia mais de nada. Os sabores que sempre conheceu e que fizeram parte de toda a sua vida simplesmente não existiam mais. A sua comida favorita, agora, era o equivalente a lamber uma sola gasta de sapato. E o mesmo acontecia com as bebidas que sempre comprava nas máquinas; os líquidos adocicados e gaseificados eram intragáveis.

Por um tempo essas foram as maiores preocupações de Ethan, onde o mesmo tinha que se policiar 24 horas por dia, escolhendo bem o que levava à boca. A partir de um determinado momento, o seu paladar só aceitava uma quantidade limitada de iguarias, que por sinal não eram de fácil acesso, tendo em mente o quanto custavam. No entanto, refém da sua própria língua, o garoto não tinha outras opções. Ou era isso, ou morria de fome.

Informações:

Nas semanas seguintes, Ethan não deixou de pensar em como tudo a sua volta estava diferente, mas, diferente de antes, os seus dias não se resumiam somente àquilo. Como bem sabia, tinha obrigações com a vila da pedra e precisava cumpri-las, logo, não podia deixar que a falta de domínio sobre cada um dos seus sentidos interferisse no seu exercício da função. Então, conforme tentava superar cada uma das barreiras com as quais se deparava, realizava uma missão após a outra, indo de um lado do país para o outro.

Embora Ethan dedicasse boa parte da sua atenção para as missões a serem realizadas, isto não queria dizer que a sua vida se resumia ao trabalho. No seu tempo livre, quando não estava tentando entender como cada um dos sentidos funcionavam e as suas limitações, estava perambulando pela vila. Ora se metia em confusões e arrumava briga com alguns garotos mais velho, ora buscava um lugar calmo e se refugiava nos próprios pensamentos, aproveitando os poucos momentos de paz que ainda tinha a sorte de ter. Nesses raros momentos, onde o tempo parecia congelar e todos os problemas do mundo simplesmente desapareciam, Ethan entrava em contato com esse seu outro lado, que clamava por um pouco de paz, que era tão frio e sereno quanto a sua Kekkei Genkai.

Informações: