A xícara de chá repousava sobre o pires de porcelana, deixando seu aroma floral perfumar toda a cozinha. Me sentei, cruzando as pernas em lotus para me acomodar melhor, devido a baixa altura da mesa. Do outro lado, meu pai copiava meus movimentos, ambos vestindo longos quimonos dourados. — Conseguiu algo nas memórias daquele homem? — Indaguei, bebericando um pouco do chá. — Suas memórias não estão seladas e não há lacunas indicando que foi apagada… é como se as memórias dele tivessem sido reiniciadas. Alguém sabia que iríamos investigar. — Respondeu o mais velho da casa. Akumo era uma organização criminosa que tinha o objetivo de criar ninjas extremamente poderosos com seus produtos químicos, para então dominar as grandes aldeias shinobi. Em uma recente missão, descobri sobre o Soro da Expansão de Chakra e o nome de seu líder, Bahaal. — Por que agora? Por que essas organizações começaram a aparecer tanto? — Tomei mais um gole do chá, perto de chegar ao fim. — Talvez sempre estivessem por perto, faltou um ninja habilidoso a rastreá-los. — Meu pai me olhou com um sorriso de canto, e eu correspondi com outro. — Vai sair esta noite? Avisou Lillya? — A intromissão de meu pai em assuntos particulares fez meu semblante mudar, terminando meu chá. — Ela… ela entende como minha vida funciona, pai. Ela ficará bem. — Suspirei ao falar dela. Me levantei, agradecendo pelo chá, partindo para meu quarto e retornando somente após me trocar. A Oroborosu no Yoroi me protegia, um grande pergaminho estava preso atrás da minha cintura. Do lado direito havia uma jarra de tinta e um pincel, e do esquerdo a bolsa de armas com balas doces.

Deixei a casa pela porta da frente, me despedindo apenas com um olhar. Uma nova missão de investigação havia sido entregue para mim, o que me fazia repensar os motivos de não ter me tornado um investigador profissional pela aldeia. — Talvez eu deva perguntar ao Mizukage depois. — Suspirei, quebrando uma bala em minha boca. Pelo topo dos edifícios e casas de Kirigakure, me aproximei dos portões do vilarejo, até finalmente atravessar a muralha com a devida permissão. O povoado estava a poucas horas de caminhada mediana, e chamaria minha atenção pela música alta, gritos, fogos e um cheiro inconfundível de doces e frituras. Quando me aproximei, um arco florido recebia os viajantes, curiosos e frequentadores do vestival. Todas as pessoas naquele ambiente trajavam vestimentas tradicionais, mantos e quimonos floridos. Homens bebiam aos montes e cortejavam as damas. Mas em meio a tantos, somente um era meu alvo.

Naquele instante foi perceptível para mim que minha curiosidade não se limitava somente às habilidades alheias. Costume mundanos, tal qual comemorações, bebedeiras e cortejos, eram uma cultura longe da que eu estava habituado a vivenciar. Os costumes daquele povoado atravessavam suas muralhas e atingiam outras regiões próximas, convidando estrangeiros a participar das festas. Obviamente, aquela era uma importante fonte de renda do ano, um evento que iria atrair pessoas de todos os tipos, de todos os lugares, e um ambiente perfeito para disfarçar a venda de artigos roubados, substâncias ilícitas e realizar outras práticas ilegais. Naquelas vestes, eu provavelmente iria chamar atenção facilmente. O selo do tigre na altura do meu peito me fez ser coberto por uma leve fumaça esbranquiçada antes de me misturar aos demais. Toda a minha roupa se transformou em um elegante quimono de flores douradas, meu cabelo estava preso em um formoso coque, caminhando com as mangas do quimono únicas na altura da barriga.

A música alta dificultava distinguir o que as pessoas falavam umas com as outras, e se eu quisesse realmente entendê-las teria que chegar perto demais para fazê-lo. As poucas informações reunidas pela inteligência do vilarejo dizem que o suspeito era um homem de altura média, cabelos pretos, e uma cicatriz marcante em seus olhos. — Não deve ser tão difícil encontrar alguém assim. — Pensei enquanto comia uma de minhas balas. A música parou rapidamente, e um homem mais velho, em um palanque, anunciava algo aos berros. — Que comece o Festival das Máscaras! — Ovacionado pelo povo, todos puxavam diferentes máscaras representando diferentes animais do folclore local. — Não é possível…— Bati a palma da mão na testa, me direcionando para a primeira barraca a vender máscaras. — O que? Que roubo… — Resmunguei deixando algumas moedas e levando uma máscara de raposa. Vesti o adorno facial e continuei minha procura por informações, tentando identificar locais que pudesse observar melhor o movimento.

Restaurantes e bares próximos ao centro do povoado estavam lotados de turistas, e talvez fosse a oportunidade perfeita para disfarçar negociações. No entanto, a alta movimentação naquela região atraia a atenção da segurança local, que estava focando todos seus esforços em proteger os turistas e os artistas que eram recebidos no evento, deixando a vigilância para as áreas mais afastadas enfraquecida. Rumei para estas áreas, me afastando do movimento, até me ocultar em algumas sombras. Saltei para atingir o teto de uma das construções e fiquei a analisar o ambiente, buscando identificar o primeiro estabelecimento a ser investigado.