— Vai sair novamente, Asmita? Por pouco conseguiu voltar da Nuvem. — Em sua poltrona, em um filete de sombra que restava da janela de casa, meu pai repousava me observando vestir minha armadura. — Bom, parece que nossos superiores gostam de me enviar para fora, não é? Mas comparado com o que aconteceu na Nuvem, isso vai ser brincadeira para crianças. — A raposa gigantesca de nove caudas ainda assombrava minha memória. Terminei de me preparar, amarrando meu cabelo em um enorme coque dourado, que gerava um belo reflexo no roxo reluzente da Oroborosu no Yoroi. Carregava o pergaminho na parte de trás da minha cintura, enquanto o pincel e pote de tinta no lado esquerdo, reservando o direito para a bolsa de armas que carregava apenas balas doces. O Quartel General da Névoa havia me recrutado para mais uma investigação contra os contrabandistas, uma organização sem nome conhecido, mas que crescia a cada dia. — Mas por que está indo atrás de meros traficantes? Não acha estranho serem tão persistentes? — Meu pai me questionava, e com razão. — Obviamente. Eles escondem algo realmente grande por trás de meros produtos roubados, e eu vou descobrir o que é. Pode ser que eu demore um bom tempo para voltar. Até logo, pai. — Sai pela porta da frente, me despedindo com um aceno de mão. Ao atravessar os portões, verifiquei mais uma vez a entrada do vilarejo, esperando ver se Rekken, Altria ou até mesmo Emiya apareceriam, mas eu estava sozinho desta vez. Rumei, finalmente, para as coordenadas indicadas em um pergaminho.

Quilômetros do Vilarejo Oculto da Névoa, o entardecer marcava a minha chegada em um curioso povoado construído ao redor do tronco de uma gigantesca árvore, subindo por toda a extensão da mesma, até em seus galhos. Durante o entardecer, as luzes escondidas entre as folhas eram acesas, iluminando todo o local, trazendo uma aura mística para o ambiente. O local ser tão chamativo me fazia repensar os motivos que levariam uma organização criminosa a se estabilizar ali, e se ocultar não era uma delas. Esperava que os meus inimigos já conhecessem meu rosto, minha postura, e até mesmo o brilho ametista da armadura, logo precisaria me disfarçar melhor para poder adentrar e investigar todo o povoado de uma maneira mais segura. Mesmo distante, algo em torno de dois quilômetros, a árvore criava uma enorme sombra ao pôr do sol, o que me garantia uma ocultação melhor para me aproximar. O selo para o Henge no Jutsu foi utilizado, me transformando em uma jovem de longos cabelos loiros, corpo esbelto e coberto por um manto avermelhado. A entrada para o povoado se dava por um portão localizado no pé de uma das raízes que sobressaiam para a superfície, enquanto os arredores ficavam protegidos por uma pequena muralha de barro, vigiada vinte e quatro horas por dia. — Acho que está ótimo assim, devo conseguir me manter por algum tempo. — Foi então que continuei meus passos até a entrada do local.

Apesar da formação misteriosa da árvore, todo o ambiente não deixava de recordar o País em que estávamos. O solo, com o cair da luz solar e da temperatura, começava a ser coberto pela névoa, enquanto a temperatura despencou levemente, para o meu desagrado pessoal. Atravessar os portões seria o primeiro desafio, já que a entrada no local era restrita a moradores, afinal, aquela não era nenhuma rota tipicamente utilizada por viajantes. Dois guardas monitoram a entrada do povoado, questionando a chegada das pessoas. Não havia ninguém no momento em que tentei passar, sendo abordado pelos dois. — Boa noite, jovem. O que faz por aqui? — Aparentemente não estavam armados e poderiam ser facilmente derrotados com força bruta, mas estava fora de questão. — Eu vim procurar por um abrigo durante a noite, não é seguro andar por aí. — Respondi, não fazendo contato visual. — Concordo, mas logo aqui? Não temos nada tão perto, e também não há rotas por aqui. — Ele insistia na estranheza da minha escolha. — Acabei me perdendo… Deixe-a passar. — As últimas palavras soavam diretamente na cabeça do guarda, com uma voz firme, dando a impressão de que seu colega estava liberando minha passagem. — Ééee.. certo, só por uma noite. — Enfim minha passagem foi liberada após enganá-lo com minha telepatia do Clã Yamanaka. Avancei subindo nas raízes da árvore.

A quantidade de pousadas e hotéis disponíveis no povoado era bastante pequena. Obviamente, aquele modelo de negócios não era algo bastante explorado na região, já que não havia rotas de viagem pelos arredores. Caminhei, ainda disfarçado com a utilização do Henge no Jutsu, pelas plataformas que circulavam toda a árvore colossal. Tentar adivinhar a altura da construção era impossível apenas com um simples olhar para cima, encontrando nada além de uma intensa folhagem, densa, com um verde escuro profundo, com alguns pontos de luz devido as lâmpadas que haviam sido espalhadas por seus galhos menores. Por sorte, mesmo afastada da maior parte da civilização urbana da ilha, o povoado possuía pessoas de bom coração, que naquele momento, teriam sua bondade utilizada a meu proveito. O sino alertou minha chegada assim que a porta foi empurrada para dentro. A casa continha todas as características que relembravam o local em que estava construída, com um enorme galho cruzando o teto, folhas, até mesmo alguns vagalumes que voavam de um canto ao outro, aumentando ainda mais a misticidade do ambiente. Me vi admirado por alguns segundos, quando uma senhora me abordou. — Posso ajudar, minha jovem? — Baixinha e com um sorriso amigavel, ela tocou minhas mãos, olhando para a palma. — Hm, entendi. — Novamente olhou profundamente meus olhos, como se adentrasse o interior da minha alma, como se reconhecesse o disfarce. — Um quarto e um pouco de comida? Só temos comida vegetariana, espero que goste. — Contou, se afastando até o balcão, separando uma chave.

— Eu gosto muito, obrigada. — Respondi, tomando a chave em minhas mãos. Ela então me guiou para uma escadaria que levava para o andar de cima, onde um corredor separava vários quartos. Me guiou até o meu e me entregou a chave assim que abriu a porta. — Obrigada por vir, jovem. Estamos precisando de ajuda… — Ela sorriu e me deixou sozinho. — Como ela? Droga. — Não consegui entender como meu disfarce havia sido descoberto por uma senhorinha, mas não importava mais, estava dentro. Tranquei a porta do quarto e meu Henge no Jutsu se desfez. Precisava pensar, achar uma forma de vasculhar o local. Me sentei no tapete ao centro do quarto, cruzando as pernas em lotus. Entrava em meditação para pensar em um plano de investigação.

Mantendo sua posição de lótus, Asmita Yamanaka fechava seus olhos e acalmava a sua respiração com um doce que levou aos lábios, encorajando seu corpo a entrar em um estado profundo de transe. Asmita sabia que aquela era a melhor maneira que sempre encontrou para desvendar mistérios, para traçar planos, e somente assim conseguiria encontrar uma pista sobre o inimigo. Desde que havia chegado na grande árvore, não enxergou nada suspeito, não ouviu nada suspeito, tudo parecia harmonioso, toda uma aura mística da população que contemplava a grandeza do local em que viviam. Por mais que parecesse natural aos olhos e ouvidos desacostumados, a cultura daquele povoado era o disfarce perfeito que os contrabandistas precisavam. Fora de rotas de viagens, tudo se tornaria ainda mais discreto, podendo ser descartada a opção de desvio de produtos. Enquanto o instinto humano do loiro pedia para que ele voltasse a sua casa, deixando de lado aquele local, o espírito investigativo do Yamanaka suplicava para que todo o local fosse desvendado, de ponta a ponta. Assim, com sua mente divagando em informações e planos, parecia que finalmente chegava em uma conclusão.

Abri meus olhos no momento em que um clarão tomou conta dos meus sentidos. Estava tão nítido meus proximo passos que pareceu estranhamente natural. Retirei o enorme pergaminho das minhas costas, estendendo toda sua extensão pelo chão de madeira. O pincel umedecido na tinta oleosa escura, traçava o contorno de um roedor, e em pouco tempo eles eram um total de dez roedores dispostos pelo papel branco. Levantei minhas mãos até a altura do peito, com um selo que faria aqueles pequenos animais ganharem vida. Construídos com o único objetivo de rastrear e explorar os mais diversos tipos de locais, os animais se sentavam na minha frente, me observando. Sorri e com um gesto com a canhota, ordenei que participassem daquele quarto. Meu selo de mão se manteve na altura do peito, enquanto fechei meus olhos me concentrando nos animais. Os dez se espalharam por todo o local, podendo alcançar mais de um quilômetro de distância de seu criador. Com dez deles correndo pela grande árvore, minhas chances aumentaram, até um dos roedores desaparecer. Enviando outro para o mesmo local, pude encontrar, nas raízes ao Sul da árvore, uma pequena passagem que levaria para uma área oca do tronco. Me ergui, sabendo onde deveria ir em seguida.

Quando os roedores finalmente encontraram meu próximo objetivo, decidi esperar que a noite se firmasse nos céus, aguardando a chegada da madrugada para poder agir. Pela janela do quarto, acompanhei o apagar das luzes, enquanto fazia o mesmo com a que iluminava o aposento. Uma após a outra, chegava o momento em que toda a iluminação da grande árvore foi cessada, ocultando o povoado em meio as sombras geradas pela vasta folhagem presente em cada galho. Assim que retornei o pergaminho em minha cintura, abri a janela para poder sair, observando os arredores para ter certeza de que não seria visto. Saltei, com precisão, para um dos galhos fora da plataforma sustentada pelo tronco, onde normalmente ninguém seria tolo de caminhar, muito por conta do perigo de cair, mas, até mesmo para um ninja iniciante, caminhar sobre as árvores era um dos primeiros ensinamentos. Assim, com a fina camada de chakra em meus pés, estava livre para caminhar em diferentes ângulos, abusando da formação naturalmente disforme da árvore para me aproximar das raízes ao sul.

Não houve dificuldade para me aproximar do local, uma vez que utilizei das sombras e de passos silenciosos para fazê-lo. Apesar da baixa luminosidade, as raízes estavam iluminadas por um feixe bastante chamativo da luz lunar, mas não havia nada que indicasse uma entrada. Se não fosse a ação dos roedores, eu não saberia o ponto exato onde pousar meu salto, forçando uma parte da raiz que, com meu toque, afundou-se até ativar uma alçapão mecânico, agora mostrando uma escadaria reta, revistada de metal em suas laterais. — Então… não é tão rústico quanto parece.— Sorri, levando uma bala até minha boca. Saltei para dentro da escadaria, deixando que meu peso e a gravidade fizessem o trabalho de me levar até o fundo do local.

Prestes a tocar o solo, toquei meus pés nas paredes metálicas, gerando pequenos atritos para diminuir a velocidade, até finalmente tocar com segurança e silêncio no chão. Um corredor mal iluminado me esperava, mas atravessá-lo foi fácil. Do outro lado, uma porta dupla me separava do laboratório, onde algumas vozes puderam ser ouvidas. Me abaixei, atrás da porta, olhando pela fresta para tentar enxergar quem estava do outro lado. As vozes aumentavam de volume, indicando que três homens e uma mulher estavam naquela sala. — Doutora, o soro está completo? Nós não podemos mais esperar, temos compradores, temos um prazo. Nossa organização não lida bem com quem não cumpre os tratos, sabia? Te demos um local para pesquisar onde ninguém iria encontrar. — Um dos três homens parecia agitado, enquanto os outros observavam. A mulher, vestida com um longo jaleco branco, salto alto, e um cabelo ruivo amarrado em um coque, deu a volta em sua bancada, repleta de vidrarias borbulhantes. — Não apresse a arte, Mika. Diga para Baahal que o soro está noventa por cento completo, consegui uma cobaia perfeita. Ela não sucumbiu na primeira aplicação. O Soro da Expansão de Chakra será um sucesso de vendas, HAHAHAHA! — Aos risos macabros, o quarteto deixou o laboratório para uma nova sala. Foi minha chance de atravessar a porta e explorar.

Com o acesso ao laboratório, pude abaixar levemente minha guarda, mas mantive meus ouvidos atentos aos barulhos. Observando constantemente a porta pela qual o quarteto saiu, caminhei para a bancada, tentando identificar o material borbulhante dentro das vidrarias. Um líquido de aspecto viscoso e roxo fervia sem a presença de fogo. Com cuidado, toquei o vidro com as costas da mão, sentindo a temperatura se elevar aos poucos, me obrigando a recuar. — A reação está gerando calor. Será que isso é o tal soro? — Abaixo do balcão, algumas gavetas guardavam documentos e utensílios, então me abaixei, tocando meu joelho esquerdo no chão e abrindo a primeira das três gavetas, retirando um bloco de anotações da mesma e o abrindo. — Soro de Expansão de Chakra. Enquanto exploro os limites do genoma humano, Baahal me pediu para criar esta combinação química que o tornaria extremamente poderoso e rico. Tive sorte em conseguir o contrato, mas as combinações experimentadas, até então, foram extremamente agressivas com o corpo das cobaias. Diminuir a concentração do soro é inviável, uma vez que perderia seu potencial. Preciso estabilizar sua conexão com a célula humana, e a seiva desta árvore pode ser a chave para isso. — As anotações estavam datadas para uma semana atrás, demonstrando que o progresso para a criação do soro ainda não estava completo. — Ainda tenho tempo de impedir isso — Guardei o bloco de anotações, abrindo a terceira e última gaveta. Um porta retratos foi encontrado. — Aparentemente ela também tem uma família. — As razões para a insanidade humana eram inúmeras, mas nem sempre justificavam um ato.

Deixei o retrato na mesma gaveta em que havia encontrado, caminhando até a porta pela qual o quarteto passou. Pela fresta, era impossível dizer o que havia do outro lado, por isso minha única saída era passar. Uma sala completamente escura, e o bater da porta nas minhas costas fez a mesma se trancar, enquanto uma parede de aço rapidamente se abaixou, impedindo minha saída. Luzes vermelhas se acenderam no teto e nas paredes, revelando que o local era uma grande arena de testes, com uma sacada de vidro a pelo menos quarenta metros de distância. — Ora ora ora, você deve ser o shinobi de Kirigakure que vem importunando nossos planos. Deixe-me ver se eu me lembro… Asmita Yamanaka? Hahaha, deve ter topado com essa família algumas vezes. Já que você se esforçou tanto para nos encontrar, vou te dar o prazer de testemunhar o poder do nosso soro! O poder que fará vocês, ninjas, sumirem do nosso caminho. — Um alarme soou pela sala, e, abaixo da sacada, uma segunda porta de aço se levantou. Uma silhueta avantajada saia da escuridão, mancando, com a mão em sua nuca. — Faça parar… faça a dor… parar! FAÇA… PARAR! — Uma voz gutural tomou conta do ambiente, enquanto um vendaval deixava o corpo do homem. A única saída naquele momento era lutar pela sobrevivência.

Dei alguns passos para trás quando aquele homem apareceu dentro da sala, observando bem a maneira como ele reclamava de dor, a maneira como suas mãos tocavam incansavelmente parte da nuca, como se a dor estivesse localizada naquela região. Seus músculos estavam todos saltados, inchados, com as veias salientes pela pele, mas de uma maneira totalmente estranha. A voz da doutora ecoava por alto falantes escondidos nas paredes. — Vai ser um ótimo teste para o nosso produto. Até mais, Asmita-kun. — A comunicação cessou. Fechei meus punhos em raiva, imediatamente ativando minha técnica sensorial. Tudo o que consegui sentir foi a massa gigantesca de chakra que era emitida do corpo daquele homem a minha frente, e nada mais, como se as paredes do local estivesse bloqueando minha técnica de atingir todo o esconderijo na árvore. — Droga, não tem jeito mesmo. Eu vou precisar derrotar esse homem. — Levei minhas mãos até o peito, tecendo o selo do tigre. Minha respiração foi controlada, meus olhos fechados atentos ao monstro, estava chamando por elas, pelas pétalas do Hana Ninpo.

Em um único movimento de suas pernas, o inimigo surgiu em meu caminho, direcionando um soco monstruoso em meu peito. Reagi ao colocar ambos os braços no caminho, sentindo a força do impacto me arrastar alguns metros para trás, e a dor latente descer por todo o membro. — Se não fosse minha armadura, com certeza eu estaria sem meus braços agora. O que fizeram com ele? — Senti o ar deixar meu peito com um peso um pouco maior do que anteriormente, tentando resistir a dor. As pétalas rosadas surgiam, se espalhando pelo ambiente. Aquilo fazia o homem se distrair brevemente, observando o surgimento das flores, gerando a perfeita abertura para que eu tentasse agir. Carregando uma porção de chakra elemental em meu punho direito, desferi um soco em pleno ar, fazendo a energia elétrica ser disparada como um raio contínuo na direção do homem. Ele não se moveu, recebendo o ataque de peito aberto, deixando que uma queimadura leve surgisse no local de impacto, mas sem expressar desconforto. Seu berro gutural anunciava o próximo ataque.

Em um piscar de olhos, seu corpo já estava colado ao meu, e sua destra atingia meu pescoço sem que houvesse tempo para que eu me defendesse. — DROGA! — Tentei segurar seu braço com ambas as minhas mãos, mas o aperto em minha garganta restringia a passagem de ar e enfraquecia meus braços. — E…eu vou.. morrer assim… R-Rekken… A-Altria…  Pai.— A escuridão começou a tomar conta da minha visão, e a pressão do aperto me trazia a sensação da morte.

— Onde eu estou? Isso é a morte? É tão calmo… — Minha visão foi clareada, e meu corpo vagava leve por um campo de flores douradas nunca antes vistas. Ao tocá-las com a ponta de meus dedos, era como se uma onda de paz me atingisse, trazendo um conforto extremo ao meu corpo. Ao longe, um morro esverdeado se separava do campo florido e um homem de longos cabelos loiros sentava em posição de lótus. Me aproximei dele, curioso, até identificar que eu e ele compartilhamos da mesma aparência. — Onde eu estou? — Questionei. O homem apenas moveu sua mão, me convidando para sentar ao seu lado. O fiz. — Você está na metade do caminho, Asmita. Mas ainda há uma forma de voltar. Essa forma está logo atrás de você. Vê as flores? — Meu segundo eu fechou seus olhos, e as pétalas douradas cobriram seu corpo. — Você deve confiar nelas e apenas nelas. Como a estação da Primavera, você deve florescer, encantar. Em seu último suspiro de vida, deixe se transformar na Primavera Dourada. Com toda sua força e vontade, confie no poder da Primavera. — O homem tocou minha testa e meu corpo foi enviado para um turbilhão de memórias, até retornar ao verdadeiro, prestes a ser aniquilado pelas mãos do inimigo.

As pétalas espalhadas por toda a sala se reuniram em um único ponto em volta do meu pescoço, afastando o homem com uma força enorme. Elas me rodeavam em alta velocidade, enquanto meus joelhos tocavam o solo e minha respiração retornava ao poucos. — Eu sou Asmita Yamanaka… não serei derrotado… facilmente… Me ergui, exibindo um semblante superior ao anterior, olhando o inimigo de cima para baixo. O Hana Ninpo atingia um outro nível de poder em meio ao desespero e necessidade, prestes a deixar a existência, o Ninpo: Senbonzakura florescia.

Meus braços dançaram em um curto movimento que se finalizou na direção da criatura. Um turbilhão de pétalas atingiu sua barriga, o afastando ainda mais. Um rugido doloroso deixou sua garganta, enquanto seus olhos estavam marejados, deixando um fino fio rubro escorrer pelas laterais do globo ocular. — Ele não vai suportar muito tempo. Droga. — Como a doutora havia dito, o soro estava apenas noventa por cento completo, e as imperfeições começaram a reagir no corpo de sua cobaia. Se houvesse alguma forma de salvá-lo eu assim o faria, mas ainda faltavam informações para isso. Mais uma vez, tomado por uma fúria incessante, a criatura surgiu a poucos metros de mim, com seus punhos direcionados em meu rosto. — Ele está um pouco mais lento — Pude reparar seu movimento, em tempo hábil de me abaixar, deixando que o punho do mesmo atingisse somente o ar. Devolvi o golpe, tocando sua barriga com a palma da mão, liberando um segundo turbilhão de pétalas afiadas para afastá-lo ao mesmo tempo que cortava a região em diversos pontos.

O homem encontrou a parede com um impacto poderoso, destruindo a saída de metal e finalmente me abrindo um meio de fugir dali. Mas algo me impedia de escapar, talvez a vontade de continuar lutando para entender o potencial daquele soro, ou o fato de um líquido viscoso e roxo pingar dos cortes abertos em seu tórax, misturado a seu sangue. — O soro não está devidamente misturado em seu sangue. Talvez… talvez eu consiga fazê-lo sangrar o soro e sobreviver. É uma teoria, mas eu posso tentar. —

Suspirei, esperando que ele tomasse a iniciativa mais uma vez. Com um novo berro, a criatura disparou até mim, mas sua velocidade, mais uma vez, estava menor, a ponto de se atrasar em seu ataque. Movi a mão para cima, fazendo surgir um vendaval de pétalas de seus pés até a cabeça. Com cuidado, as pétalas visavam cortes pequenos em seu corpo, o suficiente para sangrá-lo, mas insuficiente para causar cortes fatais. Se eu estivesse certo, o soro iria escorrer e a dor daquele pobre homem seria cessada.

As pétalas se afastaram da criatura assim que os cortes se espalharam por todo seu corpo, retornando para perto de mim, formando uma espécie de turbilhão por todo meu corpo. Em passos lentos, a criatura parecia perder tamanho. Seus músculos inchados diminuíram, assim como sua expressão de dor começava a sumir. Sua voz que outrora possuía um tom gutural, reassumiu o tom natural, caindo de joelhos. — Obrigado. — Um olhar agradecido, seu corpo tocava o chão gelado perdendo toda a consciência. Me aproximei rapidamente. Conforme minha mão se aproximava de seu corpo, as pétalas criavam uma brecha para que eu pudesse tocá-lo. Sua respiração estava lenta. Apesar de vivo, ele estava por um fio. Precisava tirá-lo dali em segurança, e avisar as autoridades da Grande Árvore o que estava acontecendo.

Em poucos instantes, um alarme ecoou por toda a instalação. — Protocolo de Segurança: Raízes, ativado. — As raízes da árvore estremeciam e começavam a invadir as paredes, e aos poucos tomaria conta de tudo, eliminando todas as provas. Envolvi o corpo do homem em uma cama de pétalas e sai pela porta que foi aberta em nossa batalha. Raízes cresciam nas paredes e por pouco não me atingiam, e não atingiam o outro, precisando deslizar em máxima velocidade por passagens pequenas, enquanto trazia o homem comigo. Chegávamos a uma escadaria, uma saída de emergência pelas raízes ao norte da árvore. Em alta velocidade, conseguimos escapar antes que tudo fosse tomado. Guardas e curiosos nos observavam. O corpo do homem foi pousado no chão e as pétalas se espalharam pelos ares, cessando o uso da habilidade e do meu kanchi. — Enviem… um chamado para Kirigakure no Sato, imediatamente. Esse homem precisa de cuidados médicos intensivos. — Suspirei, me sentando no chão para respirar. Com uma bala, tentei me acalmar.

Alguns moradores do povoado se reuniram para dar o tratamento emergencial ao homem, esperando que aquilo ganhasse tempo para que os médicos de Kirigakure chegassem a tempo. Para isso, foi enviado um falcão até a vila, e respondido em pouco tempo. Voltei para meu quarto, refletindo sobre as pétalas que haviam tomado para mim, a forma como as manipulei ao meu favor, e seu poder de corte promissor. Era diferente da técnica mãe que eu havia aprendido em Kirigakure. O Hana Ninpo era calmo, sereno, mas o Senbonzakura o transformava em uma dança cortante. Deveria explorá-lo mais com o passar do tempo, principalmente para deter a possível volta daquele homem, Uzumaki Naruto. Assim que minha cabeça tocou o travesseiro, meu corpo foi puxado para o sono, sem me dar a chance de segurá-lo por mais tempo.

O bater na porta me fazia despertar do sono, mas não precisei abrir para que entrassem. A maçaneta virou e dois guardas entraram, ficando um de cada lado, enquanto um homem mais velho ficou ao meio, me encarando. — Então… entrou sem permissão. — Ele me olhou de cima para baixo, enquanto eu me sentava na cama. — Eu precisava entrar sem chamar a atenção… como eu iria saber que sua guarda era confiável? — Respondi em um tom firme, retirando um olhar grosseiro dos guardas. O homem interveio, levantando a mão para que se acalmasse. — Ele está correto. A organização que você enfrentou se chama Akumo. Não sabemos muito sobre ela e nem como conseguiram se infiltrar. Iremos tentar retirar as raízes do laboratório e investigar melhor, seu vilarejo vai ajudar. — O homem estava prestes a dar as costas, quando o interrompi. — Aquele homem que eu tirei de lá, ele melhorou? — Questionei, me levantando e prendendo o cabelo. [/b]— Sim, os médicos chegaram ainda de madrugada. Ele está estável e acordado. Quer vê-lo? —[/b] Confirmei positivamente com a cabeça.

Fui levado até os aposentos do homem, onde dois médicos aplicavam medicamento por um soro em sua veia. Um terceiro homem de longos cabelos loiros estava no local. — Pai? O que faz aqui? — Parei ao seu lado. — Vim fazer o que nosso clã faz de melhor. — A porta se fechou e os médicos seguraram o homem. — Permita que eu faça. — Me aproximei do rapaz, tocando sua testa com a minha mão direita. Através da técnica do clã, pude ler sua mente, acessar suas memórias. Me afastei. — Ele foi escolhido por puro acaso. Não passava de um lutador. Parece que o soro não dá novas habilidades, mas amplia as já existentes. Infelizmente parte da sua memória foi destruída, mesmo os fragmentos são indecifráveis. — Me afastei. — Então nosso papel aqui terminou. Vamos voltar. — Meu pai deixou a sala e concordei, saindo ao seu lado. Retornamos para Kirigakure naquele mesmo instante, enquanto tentava encaixar as peças que me levariam aos próximos passos da Akumo, e ao potencial ainda inexplorado do Senbonzakura. Finalmente em Kiri, me restava novamente o descanso.