— YUUUURIIII!! — O berro atravessa todo o corredor da grande casa dos Akimichi, ecoando pelas paredes de tijolos a vista, até chegar no ultimo cômodo do corredor, onde o quarto de Yuri ficava, e nele o Akimichi se encontrava dormindo. O berro de sua mãe o fazia despertar de um sonho regado a comidas gordurosas, doces e atos heroicos de tirar o folego, daqueles que todas as donzelas próximas suspiravam na presença do herói. — Aaahnnn? O que?! O que está acontecendo?! — O moreno dormia em uma posição nada ergonômica , todo virado em sua cama, praticamente pendurado na lateral do colchão. Quando o grito chegou até ele, seu despertar foi rapido e assustado, jogando-o para fora da cama, reclamando e questionando o que havia acontecido, com suas nadegas servindo de amortecedor para a queda. A mãe de Yuri surgia as pressas na porta do quarto, carregando uma troca de roupas para seu filho e uma mochila com diversos lanches para que ele pudesse passar o dia. — Você esqueceu?! HOJE VOCÊ TEM UMA MISSÃO NO HOSPITAL MENINO! Vamo vamo, vai se atrasar logo na primeira? — Ela deixou as roupas na mesa e a mochila em uma cadeira. Yuri arregalou os olhos ao olhar para o relógio, observando a data e a hora. — Ai não, vão tirar meu couro! — O Akimichi se apressou, levantando e trocando de roupa, engolindo rapidamente seu café da manhã tardio e algumas balas para adoçar seu despertar. Yuri partiu apressado para o hospital, cruzando os corredores da Aldeia da Folha de maneira ofegante, até finalmente avistar os portões do prédio médico. — Finalmente... — Reclamou uma das enfermeiras que estava esperando a chegada do garoto, dez minutos atrasado do combinado. — D-desculpa, eu... ah... esqueci que era tão longe de casa. — Ofegante, apoiou as mãos no joelho para respirar, recuperando o folego. A enfermeira já estava com um jaleco em suas mãos, entregando-o para o Akimichi, que se trocava ali mesmo enquanto caminhavam para dentro do hospital. — Sem tempo a perder, Yuri. — Dizia a enfermeira apressada.

Quando coloquei os pés dentro do hospital, a climatização do ambiente refrescou meu corpo e me proporcionou um grande alivio do calor gerado pela minha pressa. Deixei um sorriso escapar enquanto vestia o jaleco, que por pouco não me servia com perfeição, apertando levemente na região das axilas, mas não ousei reclamar para a enfermeira após toda sua bronca sobre o meu atraso. A segui por toda a recepção do local, autorizado a passar pelos corredores com a mesma até a ala de baixa prioridade, onde os menos necessitados acabavam indo, tais como gripados, suturados e aqueles feridos levemente. — Estamos com uma alta demanda nas ala mais graves da unidade, então acabamos ficando com baixa no pessoal do atendimento básico. É por isso que está aqui, Yuri. Eu irei te acompanhar, te passar algumas informações e com o tempo vai precisar seguir sozinho, tudo bem? — Toda a pressa e expressão severa no rosto da enfermeira sumia, mostrando um grande apego a seu trabalho e a preocupação com todos os pacientes que estava ali presentes. Senti o peso da responsabilidade cair sobre meus ombros, precisava dar o meu melhor para que todos se orgulhassem de mim e os necessitados de Konohagakure fossem atendidos da melhor forma possível. Entravamos na ala onde muitos estavam sentados em cadeiras, outros deitados em macas e alguns até mesmo em pé. Na grande maioria das pessoas, o suporte para o soro estava logo ao lado, mas outros necessitavam de uma atenção maior para que fossem tratados. — Alias, eu sou Yuumi. — Ela sorriu de canto ao se apresentar.

Seguimos então para uma pequena sala no mesmo local, vestindo luvas e enchendo um carrinho metálico com alguns utensílios, como pinças, ataduras, álcool, agulhas e linhas de sutura, além de um descarte demarcado como risco biológico logo abaixo do carrinho. Nos pacientes, havia uma marca colorida indicando a prioridade no atendimento. A cor vermelha indicava atendimento imediato, a cor amarela eram os urgentes, as cores verde e azul indicavam uma menor urgência, e por isso começávamos pelas vermelhas. — Como sabemos qual a prioridade daquele paciente? — Perguntei, realmente curioso como separavam cada um. — Isso é feito logo quando eles chegam, todos passam por uma triagem onde os primeiros sintomas são avaliados, nível de dor, pressão arterial, temperatura ou, no caso de feridos, são enviados diretamente aqui. Menos os feridos gravemente, pois não podemos esperar tanto tempo ou demandam cirurgia. Aqui vamos até a prioridade amarela, sendo aqueles com muita dor. — Yuumi explicou com calma, parando o carrinho ao lado de um paciente de mais idade. — Está se sentindo melhor? Esse aqui é o Yuri, ele vai me auxiliar hoje. — Ela sorriu para o paciente, e eu sorri de volta, tocado pela maneira carinhosa como ela os tratava, e isso parecia ser reconfortante para o paciente, que respondia melhor e colaborava sem questionamentos. — A calma leva a perfeição, realmente. — Refleti. Yuumi tocou o braço do homem, que estava com uma ferida leve por conta de sua pele um pouco mais fina e delicada do que os mais jovens. — Yuri, pode segurar o braço dele para mim? Como pode ver, a pele dele é bastante delicada e isso facilita feridas como está, então, antes de tudo, devemos higienizar bem o local para evitar uma infecção mesmo com o curativo. — Explicou, enquanto segurei o braço do paciente. Yuumi limpou a ferida com um algodão e um pouco de álcool, pressionando com delicadeza o local. Após a limpeza, sua mão emitiu um brilho esverdeado e a ferida se tratou em pouco tempo. — Descanse um pouco e logo poderá ir embora, tudo bem? — Ela sorriu e descartou o algodão no local correto. Partimos para o próximo da fila.

Tudo era tão rápido e simples para Yuumi que comecei a questionar minha utilidade naquele local, mas o sorriso dela e a maneira atenciosa como tratava os pacientes, e o que eu precisava fazer para ajuda-la, sempre me lembravam do porque haviam me chamado para tal missão. Meu corpo começava a pedir por açúcar e, com um pouco de receio de faze-lo ali, precisava pedir permissão. — Ei, Yuumi. — A chamei, tocando seu ombro levemente com meu indicador esquerdo. A garota se virou, fixando seus olhos dourados em mim. — Eu posso chupar uma bala? — As maças do meu rosto se tornaram quentes e rubras, ainda mais com o sorriso que surgiu no rosto da loira. — Consegue esperar um pouquinho? Logo paramos para comer algo. — A gentileza em suas palavras era tamanha que reconfortava. — Yuumi! Emergência, precisamos de vocês dois agora! — Uma segunda enfermeira surgia na ala, pedindo que Yuumi e eu fossemos imediatamente ajudar na emergência. — Ei, Kio, cuide aqui para mim. — Yuumi chamou seu colega de trabalho para substitui-la enquanto precisava ir para outro setor. — Vamos Yuri! — Os olhos dela estavam fixos, como os de uma verdadeira heroína.

Seguimos para a emergência, onde o clima era muito diferente da ala onde estávamos anteriormente. O primeiro local era um pouco mais tranquilo de se lidar, mas ali, algumas pessoas estavam no pendulo entre a vida e a morte, situações mais extremas que demandavam habilidades médicas maiores. Me senti deslocado, meu corpo até mesmo se encolheu com a ansiedade e medo de apenas prejudicar ainda mais aquelas pessoas. — Ele estava na área de construção e acabou se acidentando. Pelo que pudemos observar ele fraturou diversas partes do corpo. Aqui o prontuário! — A parceira de Yuumi aparecia com uma prancheta, e a mesma começava a analisar o caso. Chegávamos no local onde o homem estava, e a cena era a pior possível. Seus braços, pernas e algumas partes de seu corpo não estavam no local correto ou na melhor posição possível. Engoli seco e me preparei para o mais difícil.

— Yuri, espere aqui. — Yuumi me impediu de continuar a seguindo para a ala emergencial, passando uma porta dupla no final do corredor. A movimentação naquela parte do hospital era um pouco mais rápida, muitos médicos, médicas, enfermeiros e enfermeiras passavam com certa velocidade. A tensão no ar deixava a energia pesada, o que me fazia refletir até mesmo sobre a saúde mental das pessoas que trabalham ali. — Tanto estresse. — Suspirei, rapidamente e discretamente levando uma bala até a minha boca. Imaginar aquela tensão todos os dias por uma longa jornada me fazia acreditar que eles sim eram os verdadeiros heróis do mundo. Yuumi retornou dentro de cinco minutos, me olhando fixamente. — Não vou te obrigar a ir até lá. Você tem certeza de que quer continuar? — Muito mais séria do que antes, engoli seco, mas não pensei duas vezes. — Eu quero! — Não consegui expressar um sorriso feliz, mas um olhar penetrante de orgulho misturado com medo.

Yuumi seguiu, pedindo para que eu a acompanhasse. Ao passarmos pela porta dupla, dobramos em uma pequena sala. — Vista isso, e isso, e isso... — O olhar dela havia mudado completamente quando entrou naquele setor. Um jaleco descartável me foi dado, junto com luvas, mascaras, e toca para o cabelo e para os pés. Quando terminei de me vestir seguimos para uma sala aberta com diversas macas, porem separadas por uma cortina azul também descartável. — Precisamos estabilizar os pacientes para que possam seguir para seus quartos. — Yuumi carregava diversas fichas, separadas pela prioridade de cada um. Nos aproximamos de um homem de idade, seu corpo estava coberto de hematomas, cortes, e certamente alguns de seus membros não pareciam estar na posição correta. Por um momento eu desviei o olhar, mas o sentimento de culpa me atingiu. — Coragem, você precisa passar confiança para estas pessoas! — Suspirei mais uma vez, ficando no lado oposto de Yuumi. Mesmo sem muito tempo, ela se prestou a me explicar. Com a radiografia do homem em mãos, Yuumi apontava para as fraturas, explicando cada osso, e o que aquela fratura poderia causar, o tratamento que seria feito e como ele deveria seguir após ser estabilizado. O homem recebeu uma grande dose de morfina, estabilizando sua dor. Com sua técnica médica, Yuumi diminuía os danos causados no corpo do paciente, e assim eu pude aplicar as ataduras e imobilizações necessárias para o devido repouso. Seguiríamos para os proximos.

Seguimos para o próximo paciente, após Yuumi e eu estabilizar as condições do último. A oportunidade de ajudá-la também me servia como um grande aprendizado, por onde passávamos uma situação diferente me esperava, e dessa forma uma nova explicação surgia, como o nome das partes afetadas e até mesmo das partes próximas do corpo. O paciente seguinte havia sido negligente com sua própria saúde, ignorando a intensa dor que crescia em seu abdômen, até que o rompimento de seu apêndice acontecia, levando-o ao pior estado possível da situação. A Sepse, ou Infecção Generalizada, atingia o corpo do homem e iria se espalhar para a maioria dos órgãos se não fosse tratado com urgência. — Para a mesa de cirurgia, agora! Chamem o Dr Maru! — Yuumi, mesmo com todo seu conhecimento, não era experiente e nem autorizada a realização de cirurgias, mas me puxava para acompanhar e auxiliar o procedimento, confiando em minhas atenção. — Precisamos de toda a ajuda, tenha estomago. — Me alertou enquanto chegávamos na ala de cirurgia.

Nossos equipamentos de segurança individuais foram trocados, mãos lavadas com produtos específicos para eliminar quaisquer chances de contaminação. Toda equipe aguardava nossa chegada, incluindo Dr Maru. — Yuumi, Yuri, obrigado por virem. Precisamos abrir e limpar toda região torácica do paciente, eliminando a chance dessa Sepse se tornar fatal. Certo? Luz, por favor. Obrigado, agora o bisturi. — Dr Maru emitia as ordens dentro da sala de cirurgia. Meu papel era aprender, mas não consegui esconder o desconforto em alguns momentos. As horas se passaram e o paciente foi estabilizado, mas ainda necessitava de uma atenção especial por conta de sua recuperação ser bastante complicada. Yuumi me acompanhou para fora da sala, com uma clara expressão de cansaço. — Você aguentou muito bem, obrigada. Antes de ir para sua casa, passe comer um pouco e vá até o jardim, por favor? Preciso de algumas ervas para preparar um medicamento. — Ela sorriu e me levou até o refeitório. Me servi e me sentei para comer.

Sai para os fundos do hospital, passando pelo preparo de medicamentos até um jardim privado do prédio. Havia uma única mulher que cuidava das flores, plantas, sementes, raizes e até mesmo vegetais especiais para sopas. Me aproximei dela, um pouco tímido, enquanto deixei uma bala no canto direito da boca. — Olá, com licença. Preciso de umas ervas para a Yuumi, ela não especificou quais são. — Parei ao lado da mulher, observando ela regar as plantas. Todo seu traje estava aparatado com utensílios para jardinagem. — Oh, para a Yuumi? Então eu já sei o que é, venha, vou te mostrar como faz. — A jardineira sorriu e me guiou até um canteiro distante, onde haviam flores e algumas plantas menores crescendo. Nos abaixamos juntos próximos da vegetação, e com o alicate a mesma foi colhendo uma grande porção de plantas e flores, colocando-as em um plástico apropriado para manter suas folhas e pétalas inteiras. — Quer tentar? — Ela me entregou o alicate. Com um pouco de medo, tentei, seguindo os mesmos passos dela, e para minha sorte tive sucesso em colher sem desperdiçar uma grande parte da planta. — Obrigado! Vou levar isso tudo para a Yuumi! — Agradeci com um sorriso e retornei para Yuumi, que me agradeceu e levou para o laboratório onde seria preparado os medicamentos. — Obrigada, Yuri. Hoje foi muito difícil, pode voltar para sua casa descansar... mas eu não vou esquecer de você não, viu? Tem um potencial enorme para se tornar um médico! — Ela apertou minha bochecha e eu corei, mas não deixei de sorrir, alegre pelo elogio e ansioso para explorar este lado das minhas habilidades. Retornei com a missão completa, e um novo aprendizado comigo.