No momento em que Eiji descobrira sobre a sua designação para o posto de investigador, mesmo não sabendo com exatidão quando seria chamado, ele já tinha uma certa noção do que estava por vir. Tinha em mente que teria que lidar com muitos desafios e situações das quais não gostaria nem um pouco. Sem qualquer tipo de surpresa, foi exatamente o que aconteceu. Embora não tenha sido exatamente como imaginou que seria. Tudo ficou claro para ele quando a sua presença começou a ser requisitada no QG da vila, onde ele supostamente começaria a executar certos tipos de atividades. Ali, naquele lugar, teria a oportunidade de aprender sobre coisas que jamais imaginou conhecer.

No seu primeiro dia, como parte das várias tradições que eram seguidas à risca, foi apresentado às instalações e a alguns colegas que trabalhariam ao seu lado. Todos recepcionaram o Chunin com o máximo da sua cordialidade, sempre lhe dando alguns conselhos e não fazendo questão de esconder seus sorrisos. Apesar de tudo, todos pareciam ser boas pessoas.

Depois de todas as apresentações terem sido devidamente feitas, ele foi guiado até a sua mesa. O seu local de trabalho, assim como o de todos, era composto por uma mesa pequena e simples de madeira, separada das demais por divisórias brancas. Não tinha muito espaço para esbanjar, apenas o necessário. Além disso, também já poderia notar algumas pilhas de papel à sua espera, acompanhadas de alguns materiais básicos de escritório.

Por incrível que pareça, ser um investigador não queria dizer que ele precisaria de fato investigar algo, pelo menos não em um primeiro momento. Como se fosse uma espécie de assistente, ficava encarregado pelas tarefas mais triviais possíveis. Entre as suas obrigações, a principal delas envolvia alguns papeis de investigações em andamento. Ao analisar algumas páginas, sem qualquer tipo de aviso, se deparou com imagens chocantes. Aquilo não seria nada fácil de esquecer. Algumas delas até conseguiam fazer com que Eiji levasse a mão a boca, levantando o mindinho como se segurasse uma taça para um brinde. No entanto, toda a sua força de vontade conseguira sobrepujar aquelas reações que não passaram despercebidas frente aos olhares de seus colegas. Nem a chatice do trabalho burocrático conseguia abafar por completo as suas reações espontâneas.

Dia após dia, assim que o Uchiha terminava as suas obrigações e completava a sua carga horaria, sempre era tomado por uma incrível sensação de alívio. E embora não estivesse mais no escritório, exposto aos mais variados tipos de brutalidades que pudessem ser cometidas pelo homem, ainda era assombrado por flashes. Aquilo tinha conseguido tirar até mesmo o seu sono. E quando conseguia pregar o olho, lidava com pesadelos que o faziam suar frio. Aqueles olhos, desprovidos de qualquer traço de vida, não paravam de encará-lo. As vozes não paravam de clamar por socorro.

Além de ficar responsável pela papelada que dizia respeito aos casos em aberto, as suas obrigações também se estendiam ao arquivamento de relatórios e, raramente, provas. Sendo um novato, vez ou outra era ordenado a fazer certos tipos de serviços que estavam fora da sua alçada. Embora detestasse isso, nunca se queixava.

Uma das tarefas que mais abominava era as que o obrigavam a transcrever relatórios de autopsias. Não era segredo para ninguém que ele desconhecia a maioria dos termos técnicos usados pelos legistas, que só serviam para fazer a sua cabeça girar. Por conta disso, constantemente se via sendo obrigado a pedir ajuda para algum de seus colegas. Na primeira vez, o garoto não viu problema em sanar uma pequena dúvida que havia tido, porém, a cada novo pequeno questionamento, aquela situação foi gradativamente se tornando insustentável. As palavras estavam ali, prontas para serem usadas, mas Eiji não sabia como descrever algo que não fazia a mínima ideia do que fosse.

Quando Eiji se deparava com situações excepcionais como essa, em que ficava em uma sinuca de bico, não conseguira deixar de pensar no seu avô. O velho nunca foi considerado um prodígio pelos outros e nem era dotado de uma inteligência invejável, mas, mesmo assim, conseguia fazer quase qualquer coisa. Tudo isso era fruto da confiança exagerada que ele tinha em si mesmo. Não importava o que fosse, Miyamoto nunca abaixava a cabeça e se dava por vencido. Sendo essa uma das principais lições que fazia questão de passar para o seu neto. “Podemos não saber tudo, mas quem disse que precisamos desistir de querer possuir tudo que pudermos?”, ele vivia dizendo. Era nessas palavras que Eiji tentava ao máximo se agarrar. Ele não queria se dar por vencido assim, sem lutar. Para acabar com a sua determinação, precisariam muito mais que alguns termos complicados de anatomia.

A sua primeira parada após decidir eliminar pela raiz uma de suas fraquezas, foi justamente o Centro Médico da Vila. Podia não saber de muitas coisas, porém, tinha certeza que melhor lugar para aprender sobre o que pretendia não existia. Sempre que precisava ir ali, seja pelo motivo que fosse, era impossível não ficar boquiaberto com o que via. Todo aquele lugar parecia ter sido projetado para arrancar suspiros do garoto.

Sem perder mais tempo, partira em direção a recepção. Quando chegou lá, a sua primeira atitude foi perguntar pelo paradeiro do único médico que conhecia, aquele que geralmente assinava os documentos que chegavam até a sua mesa. A informação que procurava não veio tão prontamente quanto gostaria, mas minutos depois obteve a informação que tanto desejava. Agora, só restava ir à sala onde o Dr. estava.

A breve conversa que tivera com aquele médico de queixo pontudo e pele clara tinha sido muito esclarecedora. Como não podia simplesmente chegar lá e exigir que o homem o ensinasse tudo o que sabia, procurando um meio-termo, buscou conselhos para aqueles que estavam interessados em aprender um pouco mais sobre o corpo humano e seus inúmeros segredos. Além de conselhos valiosíssimos e uteis, também havia ganho um livro de anatomia de presente. Reconhecendo a sua incrível falta de objetividade, o médico esperava que aquele livro fosse ser mais útil que as suas palavras confusas e cheias de simbolismo.

Os dias que se sucederam foram bem atípicos para a rotina consolidada de Eiji. Pela primeira vez desde a academia ninja, o Uchiha estava concentrado em algo que agregaria valor na sua vida. Tendo a sua luminária de mesa como fiel escudeira, e as moscas que voejavam à sua volta, passava noites e mais noites em claro. Com isso, pretendia extrair tudo o que aquelas páginas tinham a lhe dizer. Queria tomar todo o conhecimento para si; se preciso, não hesitaria em usar a força.

Mesmo tendo se aprofundado no estudo sobre o corpo humano nos últimos dias, ainda estava longe de ser um expert no assunto. Mas, ao contrário do que possa parecer, isso não chegava a ser um problema para o Chunin. Eiji sabia exatamente como aprender. Vendo de fora, pode até parecer que ele era algum tipo exótico de gênio, que apenas precisava um empurrãozinho para mostrar do que era capaz. Porém, a explicação para tal não se permitia ser tão fascinante assim. O fato é que a primeira lição básica que aprendera, com o seu finado avô, tinha sido em como aprender. Sua primeira lição foi o despertar da confiança em sua capacidade de compreender.

Em paralelo às suas noites em claro, seu trabalho diurno como investigador continuou. Do jeito que estava indo, Eiji achava que não demoraria muito para se acostumar com o trabalho. Lidar com todas as exigências e competências requeridas por alguém na sua posição não era mais encarado como algo impossível por ele. Os seus afazeres ainda eram trabalhosos e cansativos, porém, a experiência que ganhava diariamente tornava as dificuldades mais toleráveis.

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