[Eu sei quem eu sou] -
[Perdendo o controle]

Sentado no pátio em um banco ao lado de um senhor também encarcerado, o Hattori permanecia em silencio, nem ligava para o que acontecia a poucos metros a sua frente, um grupo aglomerado e lutas amigáveis entre os presidiários, cada um apostava cigarros ou o que tinham e trocavam alguns socos. Shion mantinha suas duas mãos juntas as passando uma contra as outras, pela primeira vez depois de muito tempo ele sentiu frio, mas dessa vez ele não estava agasalhado doou tudo para os demais.
- Que foi garoto? – Disse o velho notando a tentativa dele de se aquecer.
- Tome, use meu agasalho, se aqueça um pouco. –
Shion recusou e abraçou seus abraços com suas mãos se esquentando.
- Vai passar. –
E assim aos poucos esse frio ia diminuindo, o velho então decidiu puxar assunto.
- Sabe para um mercenário você é bem esquisito em. –
Shion olhou pra ele de lado.
- Do que você ta falando? –
- Metade desses caras aqui fedem a crime, andam como criminosos, falam como criminosos. Você é um garoto branco, limpo, com um rosto de quem jamais machucaria alguém, claro exceto por esses olhos, tem ganância aí. –
- Sabe ler as pessoas? – Shion dizia com um tom irônico.
- Eu fui um shinobi também, trabalhava em Otogakure em outros tempos, o Líder daquele lugar me mandou fazer algo que não parceria certo, desde então fui jogado aqui, insubordinação, mas quando eu era um “sujeito decente” eu era o interrogador de Otogakure, via toda semana todo tipo de sujeito. – O velho gargalhava levemente. – Era sempre a mesma lorota, “não fiz isso”, “não conheço”, “não sei do que você está falando”, mas no fim todos culpados, os olhos, o rosto, a aparência, o jeito de falar, todos iguais era assim que eu os pegava. –
Shion ranzinza como sempre só despejou algumas palavras e parecia não querer muito papo.
- Bacana... –

O velho acertou um tapinha nas costas dele que o deixou levemente irritado, mas antes que Shion se irritasse mais o velho já o interrompeu.
- Você me conta sua história a verdadeira, não a que contaram para você tá aqui. -
Shion com seu olho fixo para frente.
- Não tenho nenhuma história é exatamente como você ouviu. –
- Ah qual é, toda semana uma garota bonita te visita, você sempre volta mais alegre, sei lá, você não parece o tipo de cara que faz o que dizem que você fez. –
Shion esticou a perna esquerda para relaxar um pouco.
- Então o Senhor era um péssimo interrogador, eu sou exatamente isso ai.  –
O velho mais uma vez deu um tapinha no ombro dele.
- Você é travado mesmo em. -
- Papai, deixa o cara em paz. -  disse um garoto mais ou menos da idade do Shion que se aproximou.
- Ah esse aí é meu garoto, o idiota não conseguia ficar longe de mim e roubou uma caixa de sardinha pra vim parar aqui. –

Shion permanecia em silencio, mas enquanto o pai e o filho conversava ele apenas escutava cuidadosamente a conversa, notava que os dois não eram realmente criminosos, um foi insubordinado e o outro só tinha saudades do pai, não parecia justo.
- Aí H, não ta afim de uma luta você e eu? – Disse o garoto o provocando.
- Não luto sem objetivo. –
- Ta com medo? – o garoto continuava provocando.
- Só de quebrar seu nariz por engano. –
- Besteira. – O garoto insistia em provocar e começava a imitar um frango provocando Shion.

Shion se levantou, estalou o pescoço e foi para a roda encarando o garoto, o garoto foi logo atrás e avisou que os dois iriam lutar. Shion retirou a camisa e entrou em modo de combate e perguntou.
- Alguma regra? –
- Se seu adversário se render ou desmaiar você vence. – Disse o organizador das apostas.
- Certo, vamos então. –

Os dois entraram em combate, começaram a se encarar e se rodear aos poucos, no entanto o garoto fez um gesto com um punho direito, estendendo para Shion, como uma forma de respeito, confuso o Hattori devolveu o gesto, mas ao tocar o punho o garoto tentou acertar um gancho de esquerda, Shion desviou e fez uma expressão de algo como “espertinho” para o garoto, e então os dois começaram, o garoto dava alguns socos, o Hattori desviava, mas não revidava, não ainda. E assim permanecia, socos de esquerda, de direita, chutes e joelhadas, mas todas desviadas e defendidas, o garoto começava a se irritar com o Hattori.
- Qual é cara? Vai ficar só nisso? –
Pena que o garoto não sabe como um lobo luta, um Hattori observa, estuda seu adversário, encontra um ponto fraco e o derruba em um so golpe, e assim o Hattori fazia desde o inicio, analisava o padrão, a força que ele colocava ao socar, onde perdia força ao executar um golpe, qual defesa ficaria aberta ao se movimentar, tudo isso em poucos segundos.
- VAMOS! – Gritou o garoto ainda mais irritado e já demonstrando está cansado.
Ele resolveu ir com tudo, com uma sequencia de socos cruzados, seguidos um do outro, o Hattori desviou do primeiro soco de esquerda, desviou do segundo de direita, o terceiro de esquerda ele percebe que veio mais fraco pela forma que o garoto estava ofegante e parou o soco dele com o cotovelo, aproveitando do impacto ele avançou a mesma mão do braço que parou o soco e acertou um soco no rosto do garoto arrancando um pouco de sangue de sua boca, quando o garoto tentou reagir com um chute, o Hattori parou com seu joelhou e acertou o cotovelo no nariz do garoto fazendo ele recuar seu corpo para trás um pouco, o garoto demonstrava está tonto, Shion pela primeira vez falou.
- Tem um negócio sujo na sua cara, que desistir? – uma provocação obviamente.
O garoto limpou o rosto sangrando e avançou pra cima de Shion, mas ao fazer Shion se aproveitou da abertura entre os braços do garoto o segurou o deslocando para cima, o garoto gritou de dor, mas não acabou, ainda segurando ele passou a perna por baixo das pernas do garoto o derrubando caindo levemente sentado no chão com Shion ainda o segurando com o braço deslocado, quando o Hattori ia soltar o garoto, ele ouviu uma voz feminina em sua cabeça.
- MATE-O HATTORI! –
Ele quebrou o braço do garoto, o agarrou pela garganta e o jogou contra o chão, subiu sobre o corpo do garoto e começou a socar o rosto do garoto com sua mão direita, um soco, dois e o garoto apagou, mas ele não parou, continuou socando, os gritos eufóricos dos presos foram se calando e o único som ouvido era dos socos, até que um primeiro trincar foi ouvido, e então os gritos começaram.
- HATTORI! Já chega! – Eram os presos.
Dois tentaram segurar ele e arrancar de cima do garoto, mas ele não parou, empurrou eles para trás e voltou pra cima do garoto, em seu rosto uma expressão clara de ódio, e cada vez mais batendo no rosto do garoto, o Hattori gritava e socava quando enfim ele parou apenas porque sua mão começou a doer ele olhou para baixo, o rosto do garoto desfigurado, seu punho ferido e completamente sujo de sangue não o do Hattori e sim o do garoto, o garoto começava a engasgar com o próprio sangue, os presos gritavam. – MÉDICO! –
O Hattori dessa vez foi arrancando de cima do garoto e empurrado para longe, um preso o alertou.
- SAI DAQUI! –
Os oficiais carcerários começaram a chegar e a primeira pergunta foi.
- QUEM FEZ ISSO? –
E era obvio, ninguém viu nada, ninguém sabia de nada, um garoto apanhou até morrer e 70 homens não foram capazes de ver nada, típico.

O Hattori voltou assustado para sua cela, correu para a pia e começou a lavar suas mãos desesperado, ele estava irritado, assustado e ao mesmo tempo perdido, esfregava com força suas mãos limpando o sangue, não para esconder dos oficiais, mas tentando apagar a vergonha de si mesmo. Quando criou coragem e viu seu rosto no espelho, seus olhos vermelhos como de uma besta, mas ele não se via mais quem ele era, aquele não era mais ele, ele era outra pessoa. Continuava ali tocando seu rosto olhando para o espelho, se apoiava na pia decepcionado, começava a chorar, começava a gritar de dor, até que não aguentou mais e caiu sobre seus joelhos no chão.
- Deus... o que eu fiz... eu deixei todos eles morrerem, eu deixei minha família morrer. –

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[Eu sei quem eu sou] -
[Perdendo o controle]

Quando finalmente ele se acalmou Moira aparece na porta da cela.
- Shion... ta tudo bem? –
Shion se levantou, olhou pra aquele cara de cima a baixo.
- Garoto, em que anos estamos? –
Segurando ele pelos braços, Moira obviamente se assustou.
- Você ta me assustando. –
- Responde à pergunta, em que ano estamos? – Ainda mais alterado.
- Ano dezesseis Depois da Guerra. –
- QUE GUERRA? –
- A guerra, a grande guerra ninja em Iwa... –
- Iwa? Lilith? –
- Do que você está falando? Você bebeu? –

Shion o largou e saiu de sua cela andando confuso pelos corredores da prisão tentando encontrar respostas, ele passava rapidamente olhando por cada local, até encontrar uma televisão ligada passando umas noticias no jornais, falava sobre fome, falava sobre os Greys estarem irritados.
- Greys...? Que palhaçada é essa? – ele pensou

Porém a forma que ele estava encarando a televisão chamou a atenção dos guardas.
- Qual o problema Hattori? –
Ele encarou o guarda que falou com ele. – Sabe quem eu sou? –
O guarda se aproximou. – Bateu com a cabeça garoto? Volta pra sua cela. –
Shion olhou para baixo e viu suas roupas, laranjas com um número de identificação e ao botar a mão no pescoço ele sentiu a coleira, seu rosto mudou completamente.
- Opus... – ele murmurou. – Aquele filho da mãe. –

- Hattori eu vou falar só mais uma vez, volta pra sua cela. –
- Não, me responda imediatamente, onde está Hikari Opus? –
O guarda sacou seu bastão de choque e foi pra cima dele quando o outro impediu.
- Você ta maluco, você sabe que Angell o financia. –
- Angell? – perguntou ele confuso.

Ele se aproximou do guarda.
- Não quero causar problemas, só quero saber algo e se me responderem eu retorno imediatamente pra minha cela. –
- Fala... –
- O Mizukage de Uzushiogakure é Uchiha Senko? Angell é a Hokage. –
- Ta maluco cara? Uzushiogakure é um pedaço de terra de Kumo, Angell é uma Kyuseishuu ela nunca foi Hokage e Uchiha Senko, você mesmo o matou, agora retorne imediatamente. –

Ao ouvir tudo isso Shion mudou sua expressão, ele entendeu onde estava, mas aos poucos ele foi entendendo que as coisas começaram a dar errado, algumas memorias dessa nova vida começaram a rondar sua cabeça, mas no momento ele só queria algo, Hattori Angell, retornou para sua cela e imediatamente foi na direção de Moira.
- Moleque, como eu faço para me comunicar com alguém lá de fora? –
- Só através de visitas, mas você já teve essa semana, agora só semana que vem. –
- Merda... -

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[O homem de outro tempo] -
[Em que inferno eu estou?]

Ele pediu pra Moira fazer silencio ele precisava se concentrar, queria alcançar alguém que naquele momento estava distante, juntou suas mãos próximas a outra aproximando apenas os dedos encostando as pontas um ao outro, sussurrou algumas palavras.
- Angell... –
Sem respostas, ele insistia um pouco mais, continuava tentando conectar de alguma forma.
- Angell... onde está você? –
Mas não funcionava, se irritava por não conseguir se comunicar.
- Quanto tempo eu não utilizo o Darma? Porque eu não consigo acessá-lo. –
Moira de fora ouviu a conversa e novamente tentou falar com ele.
- Você, você é o cara que Angell sempre falava, não é? Sarutobi Shion o pai dela. –
Shion bufou e olhou pra aquele cara.
-  Mais ou menos, Sarutobi Shion é um outro cara, é complicado... –
- Irmão gêmeo? –
- Outra parada. –
- Clone? –
- Não. –
- Oh meu Deus o multiverso é real, a teoria das cordas, realidade multidimensional, deslocamento de matéria, tudo real, eu sempre acreditei. –
- Você é cientista, não é? –
- Sim, sou genético. –
-  E é de Suna não é? –
- Como sabe tudo isso? Viu nas memorias do outro Shion? –
- É inteligente e fede a ganância, só pode ser cientista de Suna, tive péssimas experiencias com uma cientista de lá. –

Shion se levantou.
- Moira, não é? –
Estendendo a mão direita para cumprimentar Moira, que apertou a mão dele e ao mesmo tempo sorriu.
- Aí, que aperto forte. –
Shion revirou os olhos.
-  Cuidado, eu sou casado e minha esposa é muito ciumenta. –

Shion olhava ao redor tentando achar uma forma de sair dali.
- Moira, quanto tempo, eu, o outro cara, que seria eu, você entendeu, vai ficar aqui? –
- Bem se tudo correr bem e o sistema judiciário manter firme, apenas três perpetuas. –
- Merda... –
Um guarda começou a andar pelo corredor batendo nas paredes.
- Senhoritas retornem para suas alas vamos fechar os portões. –
Moira rapidamente tratou de retornar a sua cela, Shion voltou a se sentar em sua cama e ficou pensativo. Tentou novamente acessar suas habilidades e o máximo que ele conseguiu foi uma minúscula fagulha de fogo, nada que causaria impacto, o que restava para ele era se comportar e aguardar o dia das visitas.

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