Medo. Ansiedade. Estresse. Ânsia. Excitação... Não havia uma boa palavra para descrever o que eu senti naqueles breves instantes, quando os céus partiram e a voz que só podia ser carregada por uma entidade suprema ecoou pelo mundo inteiro... E eu sabia muito bem quem estava falando aquelas palavras. Eu sabia o peso que elas carregavam. E eu não pude rejeita-las, pois, apesar das diferenças ideológicas entre mim e os seguidores do Pastor... Eu era uma Jashinista, afinal.

E aquele, cujo palavras ecoavam através do éter universal, preenchendo a mente e corpo de todos que podia escutá-lo, com terror e admiração... Era simplesmente impossível considerar que era qualquer outro do que próprio Jashin, em espírito, trazendo o arrebatamento para os seus seguidores. Mas estava aí a parte que mais me feria - não era meu Jashin. Não era em quem eu acreditava. Não eram as ideias que me representavam... Não se encaixava no mundo que eu havia construído.

Por alguns instantes, considerei, se aquilo a que eu havia me dedicado não era do que apenas mais uma farsa, se meus poderes fossem tirados de mim, se meu deus havia me abandonado... Do que restava continuar? Uma lâmina cruzou minha garganta, meu sangue jorrando do meu pescoço em um jato... Mas fios negros se juntaram. Carne nova se formou. Em instantes, um ferimento que seria mortal para qualquer outra pessoa... Nem me causava desconforto.

Não. Aquilo não era meu deus... Não tinha como ser. Aquilo não era a mais pura e definitiva forma de Jashin. Era um farsante, uma cópia barata...! Um deus, sem a mínima dúvida, mas apenas uma versão inferior. Eu permanecia viva por que algo além do poder desejava minha perpétua existência. Que com meus poderes, fosse criado um novo caminho para a terra, livre dos impuros e nefários...!

...Era só isso que podia ser, não é? Por favor, me diga que é isso... eu imploro... Qualquer um, por favor me diga! ME DIGA ALGO! NÃO ME DEIXE MSOZINHA AQUI!

...Não... Não era assim que devia ser... O que era real, e o que era apenas construção da minha mente, eu já não sabia mais dizer. Jashin, Vazio, ou algo a mais? Algo além? Eu não sabia dizer... Não sei se jamais saberia como dizer. Eu fui deixada sem saber qual era o mais pleno caminho. Procurava meu destino entre as cinzas que ficavam entre o resto do mundo, procurava uma mensagem, qualquer coisa, que me dissesse para onde ir, o que fazer...

Mas apenas minhas palavras ecoavam em minha mente. – “Não sou serva de ninguém!” – Eu havia falado – “Não sou serva de nenhuma seita, nenhuma pessoa, nenhuma crença, nenhum deus!” – E... Agora, aqui estava eu. Procurando algo para seguir, e completamente perdida. Seria eu mesma que carregaria o peso do meu próprio destino...? Seria eu mesma que carregaria o fardo das consequências dos meus próprios feitos?

E esse peso em minha alma não era algo que eu consegui superar. Esse... Vazio, dentro de mim, foi o que me tomou. O fervor que agitava minha alma, um dia, agora era ocupado apenas por... Uma escuridão. Um frio. Algo que devia estar ali, mas não estava.

E eu desabei. Não sei como cheguei em casa, mas eu cheguei. Não sei como me coloquei em cima da minha cama, mas eu consegui... Não sei por que eu continuei viva, mas eu continuava.

Mas tudo estaria certo, uma hora, não estaria? Sim, tudo estaria bem, tudo estaria bem... Pois Kumo logo voltaria para casa. Sim, sim. Kazuha-sensei voltaria, Mei-san voltaria, Kaonashi-san voltaria, todos eles voltariam... E poderíamos continuar, esquecer destes terríveis dias, e apenas liderar uma vida maior, melhor, e mais plena.

Mas quando eu me dei notícia disso, eles já estavam de volta. Quantos dias eu fiquei ali, apenas desgastando em meu leito? Eu não sabia dizer mais...

Mas eu tinha que me levantar... E com terríveis dores em todas as partes do meu corpo, tudo tentando me segurar ali, o peso do universo em meus ombros...

Eu me levantei.