Ser um homem impaciente me fazia perder a noite de sono, durante longas madrugadas e semanas. Meus sonhos na maioria das vezes me faziam ver a figura de uma mulher, completamente gelada, com a pele azulada e visual parecido com o da minha falecida mãe. Apesar de novo, ainda assim conseguia lembrar da feição dela. Além disso, vestes brancas, não congeladas e os braços estendidos na minha direção. Conseguia me ver, também, como se estivesse em terceira pessoa e visse o Kōga do passado, com não mais que oito anos de idade.

Aquilo me tirava do sério. Não conseguia focar em mais nada, apesar de tentar e muito. Estava em casa, tentando expandir um pouco da minha habilidade inata em diminuir a temperatura do ambiente. Suna merecia ter um clima mais agradável, não? Talvez, quando eu me elegesse a líder, colocaria como pauta um clima mais agradável e brisas gélidas a todo o povo, seja rico ou pobre.

Brincadeiras a parte, às vezes conseguia manipular algo mais além de somente a temperatura ao meu redor.  Vira e mexe eu moldava o gelo que conseguia criar graças a baixa temperatura que eu mesmo diminuía em forma da imagem que atormentava meus sonhos. Infelizmente, o molde não falava, sequer tinha emoções. Mas, pra mim, tinha um grande significado. Significado de que eu precisava aumentar meu poder e talvez o sonho significasse exatamente isso.

Encarando o molde, sorri, antes de realizar um único soco sobre a face daquela escultura à minha frente.

— Preciso aprender a dominar esse poder logo. Se Seiji tivesse aqui, o que ele diria? — Tentei imaginar. Talvez ter o velho Salgueiro fosse importante, afinal, mas ele estava sumido a semanas, talvez em mais uma missão especial e bla bla bla. Balancei a cabeça tentando voltar ao foco quando, na verdade, fui atrapalhado por uma batida forte sobre minha porta.

Me movi até ela de forma lenta, imaginando o que seria.

— De novo não… — Bufei ao ver o mesmo garoto com uma carta em mãos. Era LeBron, o cientista que me ensinou um pouco sobre, me convidando para passar uma tarde no laboratório dele. Ele estava me convidando a alguns dias seguidos, para conhecer sobre uma habilidade distinta. Eu peguei o convite, paguei o garoto e o enxotei dali, batendo a porta na cara dele.

— Não é possível que esse cara ainda não desistiu. — Abrindo o convite, falei. Notei uma diferença marcante desse convite, para os outros. Se tratava de uma explicação dos motivos dele ser tão chato.

— Habilidade diferente? Imortalização? — Aquelas palavras me lembravam o motivo deu ter conhecido o cientista. Serroy tinha uma habilidade diferente e, de acordo com ele, provinda de jashin. Tanto LeBron quanto eu acreditávamos que era uma anomalia genética e somente isso. Mas, com a morte repentina e prematura do velho, não tivemos a oportunidade de descobrir mais a fundo sobre. Ele finalmente havia ganho minha atenção, conseguindo rivalizar até mesmo com minha tentativa incessante de aprender mais sobre o elemento gelo.

Só me restava ir de encontro a ele. Talvez soubesse me ajudar sobre o Hyouton, também. Pelo desespero, poderia aceitar ajuda de qualquer um, pra ser bem sincero.

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Já não me restava escolha senão ir visitar LeBron e entender melhor sobre a mensagem enviada junto ao convite. Peguei minhas coisas, principalmente as duas adagas que andavam comigo para cima e para baixo, onde quer que eu fosse. Além do maço de cigarro e do isqueiro, obviamente.

Me sentindo pronto, sem a sensação de que esqueci algo, sai de casa batendo a porta e trancando-a por consequência. Respirei o ar de Suna pela primeira vez no dia. Estava começando a me acostumar com as baixas temperaturas graças ao treino constante e não seria diferente. Comecei a manipular ao mesmo passo que andava de forma vagarosa, a temperatura ao meu redor.

Os cidadãos, conforme eu percorria o caminho, sentiam a brisa gélida e a temperatura mais amena. Alguns me olhavam de forma estranha. Outros, que me reconheciam, não sabiam ao certo do que se tratava mas evitavam olhar e encarar, afinal, ainda era um dos guardas de Altria, apesar de não estar praticando ativamente com meus deveres perante a líder da Areia.

Quando vi a fachada do centro científico, de longe, cancelei qualquer manipulação da temperatura, e fiquei exatamente no que tinha à minha frente. Com um cigarro em mãos, recém aceso, adentrei o local, encontrando a mesma balconista da última vez. Ela me encarou por meros segundos, com um sorriso entre os lábios.

— Boa tarde senhor Kōga. Veio visitar o senhor LeBron? — Não gostava da forma com que tinha de me justificar, mas apenas consenti com a cabeça. Se eu quisesse entender sobre a habilidade que o cientista havia descrito no papel, tinha de ao menos parecer sociável.

Realizando todos os trâmites necessários para que eu recebesse um crachá de visitante, finalmente estava livre para explorar o centro científico e encontrar LeBron. Lembrava de onde ficava a sala dele, afinal, não fazia tanto tempo assim desde a última visita. Apenas algumas semanas, talvez meses.

Acessei o extenso corredor, me lembrando de onde ficava a sala dele. Olhando para a parte é o nome escrito nela, tinha certeza de onde estava. Bati duas vezes na porta, escutando uma voz rouca permitir a minha entrada. Assim, após a permissão, abri a porta com certa rapidez, talvez um pouco afoito. Vi LeBron sentado sobre uma banqueta de madeira e analisando alguns frascos junto do aparelho que permitia enxergar algumas vezes mais que um olho humano normal.

— Finalmente jovem Kōga. — Ele sorria ao me ver, largando o que estava fazendo e levantando da banqueta com certa rapidez para me cumprimentar.

— Acredito que a explicação tenha sido suficiente para fazê-lo vir até aqui, não é mesmo? Hahahaha — E de fato ele estava certo. Só estava ali pelo conteúdo escrito no convite e nada além disso. Balancei a cabeça afirmativamente.

— Sim, muito me interesso pelo conteúdo que estava escrito no convite. Aliás, se pudermos irmos direto ao ponto… — Por mais que eu tentasse, minha personalidade fria não deixava com que lidava bem com outras pessoas e o quanto antes terminássemos aquilo, estaria livre para continuar meu treinamento diário. — Como você bem sabe, estou precisando treinar um pouco aquela habilidade de criar gelo e diminuir a temperatura. — Conforme expliquei, ele sorriu, como se soubesse de algo a mais.

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Ele sorria ao escutar meu pedido para que fossemos direto ao assunto. Consentindo com a cabeça, LeBron se moveu até o centro da sala de pesquisa, próximo a única maca dali. Assim, ele apertou um botão vermelho disposto sobre a maca que fez abrir uma escotilha, recolhendo a maca e fazendo aparecer, no seu lugar, uma espécie de televisão antiga. Estranhei, mas imaginei que ele iria utilizar aquilo para me mostrar algo.

— Então, melhor do que somente falar, irei lhe mostrar um pouco sobre uma habilidade extremamente rara chamada Kimera no Jutsu. Ela, em resumo, te concede habilidades dos corpos que irá absorver. Um exemplo seria eu utilizar ela em você, Kōga. Nesse caso, eu iria conseguir sua habilidade inata em moldar e criar gelo a partir do nada. E ela pode ser utilizada mais de uma vez. Meus estudos dizem que, o máximo foram quatro vezes. A partir do quarto uso, o usuário ganha o poder da imortalidade… — Ele pausou um pouco, buscando apertar um botão disposto na parte lateral do televisor, ligando-o.

— Pelo menos é isso o que meu mentor me explicou e ensinou, Kōga. Agora, vamos ver como funciona essa habilidade. — Disse ele, conforme o filme começava a passar. Primeiro, uma voz estridente e forte podia ser escutada, enquanto a imagem permanecia escura por alguns segundos. Até que, depois dos segundos, conseguia ver que o homem pertencente a voz estridente estava em uma sala, similar a que estava agora, mas extremamente rústica e com um homem preso por correntes, sobre uma maca de metal e amordaçado. O homem se debatia diversas vezes, como se estivesse vendo a própria encarnação do diabo à sua frente.

LeBron viu que meu semblante mudou, entretanto, gesticulou para que eu continuasse prestando atenção no que viria após.

— LeBron, meu maior pupilo… essa é uma aula diferente nfufufufu. Estarei lhe ensinando, na prática, como o Kimera funciona. Esse homem… bem, digamos que ele tenha uma habilidade extremamente importante e forte. Agora, preste atenção no que irá acontecer a seguir. — E a câmera se aproximou da maca. Apesar da qualidade péssima, deu para entender o que estava sendo feito. Alguns selos foram executados e, após, o homem colocou ambas as mãos sobre a barriga do que estava deitado e acorrentado. Um líquido azul escuro saiu das mãos dele, assimilando ao corpo conforme ele tentava se debater sem parar, mas sem êxito algum.

O processo demorou alguns minutos. Após, o líquido viscoso voltou ao corpo do mentor de LeBron, que olhou na direção da câmera com um sorriso sádico estampado sobre a própria face.

— Esse é o processo prático da coisa, meu querido prodígio. Espero que um dia você consiga alcançar seus objetivos. — Assim que ele comentou, a imagem escureceu e, após, ficou cinza, com um chiado agudo. LeBron buscou desligar rapidamente, evitando que ficássemos escutando aquele barulho chato por mais tempo.

— Bom, Kōga, essa é a habilidade da qual te falei. Você viu ela agindo na prática, mas, preciso te falar um pouco sobre uns problemas que ela trás ao seu usuário. O maior deles é a forma com que, pelo menos aqueles que conhecem e sabem pelo menos o mínimo da habilidade, lidam com usuários do Kimera. Eles não veem com bons olhos, afinal, se trata de roubar as habilidades de outros. Os outros problemas… bem, eles não são tão importantes assim e tenho certeza que você irá conseguir superá-los. — E assim o silêncio se perpetuou. Fiquei pensando por alguns minutos. De fato, uma habilidade única que me trará poder, mas, será que vale?  

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