Quantas dores o coração de um shinobi seria capaz de suportar? Essa dúvida iria seguir atormentando Ichiro por onde quer que ele passasse. Sua vida percorria um caminho tortuoso até aquele momento, aos poucos aquele garoto irreverente que costumava não assumir diversas responsabilidades estava mudando. Um amplo crescimento era aparente  entre a época que se graduava como um genin, um tempo em que o jovem  não conhecia seu passado e muito menos as habilidades advindas de seu sangue,  até os dias atuais onde tomava posse de uma patente média como um chūnin, atualmente já localizado com suas capacidades e internalizando diversos conselhos e visões de mundo que o acompanhavam no percurso como um shinobi da Névoa.

Diversos fantasmas de outrora assombravam o jovem Uchiha, as lembranças de sua infância sendo tomada por assassinos, jamais seriam esquecidas novamente, e uma vez retomadas, tais memórias sangrariam todos os dias ao serem visitadas pela mente do garoto, porém, dificuldades do presente também roubavam o sono do mancebo. Dúvidas e inseguranças acerca de suas capacidades o deixavam sobrecarregado e ansioso, esses sentimentos que se tornavam comuns desde que o jovem adotara o hábito de se comparar com os companheiros de time. Noboru dispensava quaisquer apresentações, o jounin era conhecido por seus feitos e até era aclamado como “O Conquistador”, porém, sua hierarquia era totalmente diferente, ele era o homem que se encarregava de guiar os jovens, de ensiná-los como que a realidade dos shinobis funcionava. O problema se dava quando Ichiro tentava estipular uma distância entre ele, Chozen e Yohma. Chozen era um rapaz alegre, abençoado pela a herança de uma habilidade que era capaz de fazer brotar florestas do chão, e assumir o controle de suas raízes, uma técnica que foi responsável por tirar o fôlego de Ichiro na primeira vez que foi vista. Yohma era um garoto que não aparentava ser tão alegre quanto Chozen, suas ações geravam diversas dúvidas em Ichiro, o garoto aparentava ser detentor de uma enorme ira, o que volta e meia assustava o chūnin. Yohma compartilhava da linhagem de Ichiro, ambos sendo pertencentes ao clã Uchiha, porém, o companheiro de time demonstrava ser muito mais proficiente em suas técnicas, além de possuir outras peculiaridades dentro de seu arsenal, o que distanciava ainda mais os primos.

Bolsa de armas:

O garoto não deveria continuar alimentando os pensamentos que apenas o fariam se sentir mal, então antes mesmo que o sol pudesse alvorecer no horizonte, o rapaz se levantava da cama que apenas servia como leito para suas divagações naquele momento e se dirigiria até a pia do banheiro, para que assim a água gelada pudesse lavar seu rosto, tentando criar algum tipo de choque para que o rapaz pudesse abrir caminho para outros tipos de pensamentos.

Eu não sou essa pessoa… - Ponderava o Uchiha enquanto enxugava o rosto em uma pequena toalha.

Mas é que às vezes… as coisas ficam difíceis. - O chūnin vestia seu haori, colocava a mão por dentro de seu bolso interno buscando encontrar seu maço de cigarros, porém não obtinha sucesso naquela tentativa.

Em um longo e pesado suspiro o rapaz percebia que havia esquecido de comprar aquilo que sanava seu vício, uma das maiores críticas que o Uchiha recebia era sobre ser um ninja e ao mesmo tempo ser um ferrenho adepto do tabagismo, porém ao conhecer Noboru e descobrir que ele também era fumante, o desinteresse em largar o cigarro só foi reforçado.

Ichiro então se dirigia até a cozinha do casebre em que morava com seu pai, por sorte o encontraria passando um café, o pescador de meia idade sempre fumava um cigarro e tomava uma caneca de café antes de arrumar seus equipamentos e rumar em direção ao litoral de Kiri.

Bolsa de armas:

De pé antes do céu clarear? Será que hoje vou ser acompanhado de um sonâmbulo na pesca? - Kenzo dava bom dia ao seu filho, servia uma outra caneca de café e repousava a mesma em cima da mesa da cozinha.

Na verdade, hoje não estou no pique para ir com você, só queria saber se você tem algum cigarro sobrando… esqueci de comprar um maço da última vez que saí. - O garoto tomava uma pequena porção do café em um gole, seu corpo se arrepiava e seu cenho se franzia, Ichiro era fã  de coisas doces, Kenzo tomava seu café sem açúcar.

Não me admiro, você só tinha cabeça pro shogi nesses últimos dias… eu nem sabia que você jogava isso. - O homem dizia enquanto batia a mão nos bolsos da calça.

Toma, sobrou esse último aqui - Kenzo entregava um cigarro amassado e um pouco torto que estava perdido em seu bolso para Ichiro que prontamente o acendia, e se sentava na mesa de frente pro seu filho para terminar seu café.

Da última vez que nos encontramos aqui nesse horário, você tinha acabado de conhecer seu time… já faz um tempinho né? Não esqueço daquela conversa… mas e hoje? O que te tirou da cama tão cedo dessa vez?

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O clima da casa era pesado, um silêncio desconfortável antecedia qualquer tipo de desabafo do garoto, Ichiro tragava seu cigarro como alguém que parecia tentar escapar das palavras inalando o fumo, dava mais um amargo gole no café, assim como uma pessoa inebriada toma um gole de álcool para se encorajar. Olhava para  cima, e deixava as costas deslizarem pela cadeira, assumindo uma postura largada.

Shogi né?... Aquilo que eu estava aprendendo era tudo menos shogi. - O garoto se recordava das lições sérias que aprendera ao ouvir o velho Renji em sua última tarefa.


Sabe pai… você já se sentiu como se estivesse longe de tudo? Como se você fosse uma ilha, no meio de um vasto oceano? Uma ilha no meio de um nada, apenas um grande volume de água que a circunda, onde tudo o que a ilha tem é a própria ilha.

Não importa o quanto eu corra atrás… eu sinto que nunca alcançarei as pessoas que tenho que alcançar, sinto que o ritmo que eles andam é totalmente diferente do meu. Sempre que eu me pego observando essas pessoas, eles sempre estão alguns passos na minha frente, ficar de pé encarando as costas de quem deveria estar ao seu lado é muito frustrante. Não sei se esse caminho que eu escolhi para minha vida… não sei mais se eu quero seguir nele.- Os olhos de Ichiro eram tomados por lágrimas que se recusavam a cair, apenas marejando seu olhar, que voltado ao teto era impossível de ser percebido.

Bolsa de armas:

Uma ilha… é uma boa comparação, isso que você acabou de descrever não seria o lugar que a gente mora? Uma ilha, cercada por um vasto oceano? - O homem parecia se apegar apenas na comparação do garoto, sem levar em consideração todo o desabafo feito pelo mancebo.

Foi um péssimo exemplo que eu dei para um pescador… - O jovem Uchiha respondia enquanto levava sua destra até a testa frustrado com a resposta de Kenzo  não era fácil se abrir e ser mal interpretado.

Que ótimo exemplo que você deu para um pescador na realidade… Desde que aquilo aconteceu, sabe, aquilo com os seus olhos? Eu te sinto como uma outra pessoa, e eu nem poderia exigir que você  não mudasse… a dor que você deve ter sentido ao revisitar seu passado é maior do que eu posso imaginar, então eu agradeço por você ter continuado aqui com esse pescador.

Não viaja, nada me faria te abandonar, você é meu pai afinal…. - O garoto dizia, reforçando que mesmo sendo adotado, o coração de ambos os homens se conectavam por um laço entre pai e filho.

Quando eu me referi ao teu exemplo, dizendo que a ilha era como Kiri, existia um motivo por trás disso. Imagine essa ilha, uma enorme ilha solitária, perdida dentro de um véu de   névoa, cercada por quantidades inimagináveis de água, é realmente triste pensar nesse cenário, porém, em algum lugar de fora dessa ilha, com certeza vai existir algum pescador corajoso, que vai colocar seu barco em alto mar para chegar e explorar essa tal ilha.

E você é esse pescador?  -  Ichiro perguntava enquanto um sorriso de canto de boca se formava em seu rosto, enquanto dava a derradeira tragada no cigarro amassado de Kenzo.

Não só eu… Noboru, Chozen, Yohma, todos eles também são, ou eu estou enganado?

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Bom… dois desses pescadores são as pessoas que a ilha se sentia tão longe de alcançar. O sol já está saindo, vou sair para comprar cigarro. Se apresse, se não, não vai pegar peixe nenhum. - O garoto suspirava profundamente enquanto se levantava de forma vagarosa da cadeira.

Um peixe sem nadadeiras já não serve mais para nadar Ichiro, aproveite que tem as suas ainda e vá atrás de alcançar seus objetivos. Tenho certeza que o caminho que você escolheu… foi o caminho certo para você, você é forte filho. Por passar tudo que passou e ainda continuar de pé, eu admiro ainda mais sua força. - Kenzo se emocionava levemente enquanto de alguma forma meio atrapalhada tentava encorajar seu filho. Um homem em que a vida se resumia em pescaria tinha tremendas dificuldades de compreender as questões psicológicas que um shinobi poderia passar, mas mesmo assim o homem não omitia seus votos de confiança no garoto.

Mais tarde eu tô de volta - Ichiro internalizava as palavras de Kenzo, mas não agradecia como gostaria, por algum motivo o rapaz se sentia envergonhado de agradecer mais uma vez os conselhos de seu pai,  talvez o seu crescimento ainda não tinha refletido tanto em sua maturidade, e dessa forma algumas atitudes ainda seriam feitas como um adolescente passando por suas crises, porém, as palavras do pescador acalentavam seu coração por um instante. Fazendo com que o seu caminho até o centro da vila fosse o mais leve possível.

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Naquela altura do dia, o crepúsculo já começava a irradiar os primeiros feixes de claridade,
que se chocavam contra a bruma característica de Kirigakure no Sato, ocasionando um efeito translúcido de manhã. O garoto que caminhara até o centro da vila para comprar seu maço de cigarros, agora se direcionava de volta ao seu lar. Seus pensamentos que antes eram enuviados por diversas cobranças, no momento se encontravam mais amenizados, e de certa forma esperançosos, porém… até quando se manteriam dessa forma?

Enquanto o garoto se aproximava da simples casa onde residia com Kenzo, algo estranho era capaz de ser notado pelo rapaz, a pequena relva que seguia o caminho que levava até a moradia parecia mais amassada que o comum, a névoa branca que sempre se fazia presente no ar da vila aos poucos se convertia  em uma acinzentada fumaça, cada vez mais densa à cada passo que o chūnin dava em direção a sua morada.

Pai!? Você está bem!? -  Ichiro gritava com todas as suas forças enquanto adentrava a região de seu quintal.

E a cena que o garoto se deparava era digna da realização de seus maiores pesadelos. O pequeno casebre, que era afastado do centro da vila, que abrigou por tanto tempo os seus dois moradores e o barco de Kenzo, estava se desfazendo em chamas. O cheiro da madeira sendo carbonizada enjoava Ichiro, as fuligens caíam e encontravam o  solo como flocos de neve, e mais ao fundo, localizados na entrada da casa incendiada… duas pessoas sentadas, como duas gárgulas esperando o jovem aparecer.

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O rapaz finalmente voltou Mei… - Uma voz masculina, chorosa e arranhada era vocalizada por uma das pessoas.

Abriremos caminho então Han… nosso mestre está esperando há muito tempo. - Era difícil entender as palavras emitidas por esta pessoa, suas sílabas se mesclavam com diversas gargalhadas, porém era possível identificar que a voz pertencia a uma mulher.

O casal então se levantava, ambos possuíam aparências grotescas, corpos de magreza extrema beirando o esquelético, olhos vendados por faixas,e sobretudos longos que cobriam todo o corpo demasiadamente esguios.

Estivemos à sua espera… Uchiha- O casal dizia em uníssono de forma pausada, enquanto se curvavam e com os braços apontavam para a entrada da casa que ardia em chamas, como se fossem dois anfitriões.

Pela primeira vez na vida o garoto se via paralisado diante de um sentimento de acovardamento. Seus braços e suas pernas tremiam, denunciando o pavor tomando conta de suas ações. Toda a adrenalina que percorria seu sangue roubava a sua respiração e por alguns segundos o rapaz apenas se mantinha imóvel.

Não é educado deixar os mais velhos esperando, não é Mei?

Nem um pouco Han… nosso mestre e o pescador já devem estar de saco cheio…

Ainda curvados, o casal visava incitar algum tipo de reação ao garoto que estava deixando o trauma impedir seus movimentos… e acabava funcionando. Ao ouvir a palavra “pescador”, Ichiro levava um cigarro aos lábios e acendia para tentar controlar seu nervosismo, em um impulso corria até entrar na casa ignorando as chamas e a bizarra dupla que o recebia

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Adentrar aquela casa era como adentrar o próprio inferno, as labaredas tomavam conta do teto e das paredes, o chão era lavado em um sangue viscoso e vermelho vinho. A visão do garoto começava a se turvar, o cigarro caía de sua boca e em poucos segundos era consumido pelo fogo. Ichiro ignorava todas essas circunstâncias, já não se importava com a casa ou com a sua própria segurança, ele só precisava encontrar seu pai…  precisava confirmar que o pescador estaria em segurança.

Pai!? Você me escuta!?

Pai!? Onde você está!?

Pai!?...

O oxigênio aos poucos ia se esvaindo, o corpo do rapaz ficava cada vez mais pesado, seus pés se arrastavam pelo chão ensanguentado como se estivessem imersos em um pântano lamacento, e ao chegar no cômodo central da casa… a imagem mais aterrorizante era formada, seu pai se encontrava desacordado, largado no chão da sala com ambas as pernas arrancadas e diversas escoriações pelo resto do corpo.

Ichiro não conseguia emitir nenhuma palavra, o recinto era preenchido  apenas por um berro ensurdecedor que facilmente poderia ser confundido com o de um animal. O garoto corria para perto de seu pai, que ao encarar seu corpo naquele estado não conseguia segurar o vômito.

Não faça isso… você vai sujar todo o chão - Uma voz misteriosa surgia do outro lado da sala.

Eu disse que ficaria de olho em você criança… para alguém que não era um ninja, ele deu bastante trabalho- Do meio das chamas um homem velho aparecia, com a sua boca perfurada por um anzol que ainda estava enfincado em sua bochecha.

Acho que vou adotar esse novo acessório… me caiu muito bem não? - O velho caía em uma maníaca gargalhada.

Ichiro encarava com os olhos vidrados e com o rosto congelado e inexpressivo o homem que havia transformado sua vida em um inferno, e percebia que já tinha encontrado aquele psicopata em outra ocasião… ele era o velho que roubaria os olhos de uma pequena Hyuuga se não tivesse sido impedido pelo Uchiha.

Bolsa de armas:

O medo não possuía mais espaço dentro do garoto, seu âmago queimava em pura raiva. O Uchiha não entendia o porquê de tudo isso acontecer…. sua infância tinha sido roubada por ladrões de olhos, e agora, novamente por conta dos orbes avermelhados sua vida estava sendo destruída. O garoto cerrava os punhos, abaixava a cabeça para não olhar para o velho e permanecia em silêncio, apenas cultivando o sentimento de vingança.

Han, Mei, apareçam logo! - O velho bradava comandando o casal.

Parece que o gato comeu a língua do nosso convidado… retirem os olhos dele logo e vamos embora, mesmo longe do centro esse incêndio vai chamar a atenção de alguém em breve.

O casal acenava com a cabeça, e entravam cabisbaixos na casa  como se ambos estivessem amedrontados de estarem perto do homem. Cada um tomava seu caminho para se aproximar do ninja que estava de joelhos, Mei se posicionando a esquerda e Han a direita do garoto. Os subordinados que pensavam que Ichiro estava em estado catatônico retiravam bisturís dos bolsos e aproximavam seus braços do rapaz.

Já chega… me deixem em paz… me deixem em paz!!  -  A voz do garoto passava por uma progressão de volume, começando como um pequeno sussurro, e findando como um enorme alarido.

Não existia outro caminho para Ichiro naquele momento a não ser submergir em puro ódio. O garoto fazia de tudo para evitar esse caminho até aquele dia, porém a vida parecia que tinha outros planos para o Uchiha, e não importava o que o garoto fizesse… seus olhos sempre trariam imensa dor para o seu coração.

Enquanto o grito ressoava pela casa, uma manifestação de chakra começava  a envolver seu corpo que já beirava a exaustão.  Costelas roxas circundavam o rapaz, impedindo que o grotesco casal conseguisse encostar nele, logo em seguida dois braços também se formavam a partir da caixa torácica, e de forma extremamente violenta esmagavam Han e Mei sem que qualquer reação pudesse acontecer… mesmo que inconscientemente, aquela era a primeira vez que Ichiro assassinava pessoas, porém, o que deveria ser um fator marcante para sua história, não significava mais nada para o garoto que apenas desejava se vingar.

Após esmagar a dupla, o garoto lentamente se levantava, a cada segundo que passava o espectro de chakra tomava proporções maiores, assumindo um formato cadavérico, como se todos os sentimentos ruins do Uchiha tivessem assumido a forma de um enorme esqueleto. Uma imagem realmente perturbadora que se formava entre as chamas da casa.

Susano'o? Não… não era previsto que você atingiria tal habilidade… isso é impossível, apenas aqueles com…- Pela primeira vez o velho conversava sem se perder em risadas, demonstrando medo genuíno o homem encarava os olhos de Ichiro que se aproximava vagarosamente.

Mangekyō Sharingan é claro… você deve ter despertado agora. - O homem que tinha a boca ferida por um anzol de pesca voltava a rir, como se tivesse aceitado que a sua morte era certa.

Esses olhos sempre foram o meu sonho… se eu soubesse que esse era o gatilho para que eles despertassem, eu teria deixado o pescador respirando por mais alguns momentos… agora veja, perdi meus dois melhores experimentos, e imagino que você não terá piedade de deixar um pobre senhor fugir. - E pela última vez, o ladrão das Kekkei Genkai gargalhava de forma copiosa, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas.

Ichiro se movimentava como um morto vivo, seus olhos se mostravam diferentes, o que antes eram três vírgulas que rodeavam sua pupila, agora se pareciam mais com duas shurikens. Sua feição era inexpressiva, seus passos eram cambaleados e frios, e na verdade o corpo do Uchiha parecia ser empurrado pelo Susano’o.  

O espectro agarrava o velho com uma das mãos, apertando o suficiente para que seus ossos se quebrassem e diversos órgãos fossem esmagados, e para finalizar de uma vez por todas aquele embate, Ichiro fazia o espectro bater a mão que segurava o inimigo com toda força no chão, terminando de esmigalhar o que restara do velho. O impacto era tão forte que o solo se rachava, fazendo com que a casa que já estava comprometida pelas chamas desmoronasse de uma vez, só não soterrando o rapaz por causa da proteção de sua nova habilidade.


A cena que restava era melancólica… a chuva de Kirigakure apertava, fazendo com que as chamas desaparecessem, restando apenas um adolecesnte perdido no meio de diversos cadáveres e escombros carbonizados. O Susano’o se desfazia, seus olhos também voltavam ao habitual, porém sua visão parecia estar um pouco prejudicada, pelo menos naquele momento.

Ichiro então ainda inexpressivo e traumatizado, procurava o corpo de Kenzo debaixo dos destroços, retirava o corpo do falecido com todo cuidado e levava até onde era a entrada da casa, vendo que a única coisa que tinha sobrado de todo aquele desastre, era o pequeno memorial que o pescador tinha feito para os pais biológicos de Ichiro.

Um peixe sem nadadeiras já não serve mais para nadar pai… por favor… descanse… me perdoe por não ter conseguido te salvar… me perdoe - Ichiro então desabava em lágrimas ao posicionar o corpo sem vida do pai ao lado do memorial, esperando que outros ninjas da vila aparecessem para o auxiliar.

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