Sem vontade de passar pela sala e ter que lidar com questionamentos antes de sair de casa o garoto pulou a janela e desapareceu rumo a um campo de treinamentos qualquer. Por algum motivo, ultimamente, estar em constante movimento seja em missões ou treinando lhe trazia certo conforto e paz, mas seu pai ainda fazia falta diári mesmo depois de tantos anos de falecimento. Depois de caminhar por algum tempo ele se viu em seu destino. Havia grama cobrindo todo o solo com pouquíssimas partes de terra meio molhada devido a hora e o clima frio do inverno, algumas árvores grandes e pequenas espalhadas por todo o circuito e um rio raso cortando a área. Haineko o acompanhou para o treino, pra variar um pouco, visto que ela era uma das ninjas mais habilidosas conhecidas pelo garoto.

Depois de uma breve conversa sobre a tensão que era seu ambiente familiar sempre que tinham que a data da morte de seu pai se aproximava, começaram um treino rápido. Estando a cerca de vinte metros de distância do rapaz ela conseguiria analisar melhor a situação como um todo, então a ideia de se afastar partiu da mulher. Pra início, Haruka alcançou a bolsa de armas ninja e sacou quatro shurikens, lançando-as em direção ao corpo de sua acompanhante. Mirou no torso, mas sua intenção inicial não era ter êxito em seu ataque, distraí-la. O garoto sempre se destacou por sua inteligência e capacidade lógica; com certeza conseguiria bolar um plano contra ela.

Como era esperado, assim que as armas se aproximaram Haineko começou a se mover para desviar e rebatê-las. Sempre se moveu lindamente, mas naquele dia em especial a fluidez de seus movimentos davam o aspecto de dança à sua esquiva. Claro, a mão esquerda da mulher não era boa o bastante quanto a direita — disso ele sabia devido a convivência —, mas isso não foi impedimento algum, ela continuou sendo capaz de se defender contra aquele ataque básico. — Qual é, garoto, você pode mais que isso! — provocou com um sorriso no rosto. Ela sabia que para aquele treinamento o uso de genjutsus estava vedado, já que eram a especialidade de Haruka, então ela podia provoca-lo a vontade e ainda assim tinha chances de ganhar a luta.

Algumas das armas haviam passado direto pela mulher e outras foram rebatidas com uma kunai que a mesma recolheu do chão enquanto se movia.  — Você tem os sentidos melhorados, isso não vale. — disse Haru em resposta a ela e se colocando em posição de batalha, com as pernas um pouco mais abertas para se defender melhor no caso dela se aproximar para derrota-lo com o seu conhecido taijutsu. Segundos depois percebeu que não adiantava esperar, ela não partiria para cima, então ele teria que continuar atacando.

Haruka adorava lutar contra ninjas fortes, gostava de se desafiar a manter suas mentes dentro de um genjutsu, mas sempre detestou o combate corpo-a-corpo, por isso é fraco nesses quesitos e dificilmente derrotaria alguém apenas com essas técncias. Com um sorriso malicioso no rosto, Haru levou ambas as mãos à sua hip-pouch localizada sobre seu osso sacro e tateou quatro shurikens preparadas previamente e uma kemuridama. Primeiro lançou a bomba de fumaça e, calculando o timing perfeito, lançou as quatro shurikens tentando aplicar certa tensão nas armas para causar uma leve curvatura em seu percurso.

A bomba de fumaça estourou a cerca de quatro metros da mulher a sua frente, sem tocar o chão, quando foi partida ao meio por uma as shurikens lançadas por ele — a única lançada em linha reta. Quando a cortina de fumaça subiu ele perdeu a visão de Haineko, que ficou distraída tentando desviar das shurikens lançadas sem enxerga-las. Ele, então, aproveitou-se desse momento para atacar com um jutsu. Após os selos necessários e concentrar o chakra nos pulmões Haruka soprou tudo pra fora de uma só vez, liberando uma imensa bola de fogo que partiu acelerada em linha reta, para a exata posição em que se ela se encontrava quando a cortina de fumaça tomou conta do ambiente. Ainda realizando selos, o garoto concentrou outra parcela de chakra nos pulmões e soprou uma saraivada de bolas de fogo menores miradas ao redor da grande principal, para o caso da mulher tentar desviar.

Uma forte corrente de ar dissipou a fumaça das bombas e mudou o percurso das bolas de fogo lançadas. Haruka se forçou a ficar parado firme no mesmo lugar com toda aquela pressão e, quando olhou para a frente, Haineko ainda estava lá, sorrindo, no mesmo lugar de antes e com aquela velha expressão de quem diz: — Só isso?. Ela se aproximou correndo à máxima velocidade e saltou sobre Haruka com uma kunai na mão direita, mal dando tempo para ele se defender. O garoto abaixou e rolou para frente, caindo de pé com uma kunai em cada mãe, como se isso apresentasse alguma ameaça para ela. — Aonde você tá com a cabeça? — perguntou, aparentemente preocupada. — Você sabe que dia é amanhã, não sabe? — a réplica deixou a mulher pensativa por alguns momentos. — É o aniversário... E o que nós estamos fazendo treinando? — largou a kunai e se aproximou do garoto com os braços abertos para um abraço. — Acho que é o que ele iria querer... Que eu ficasse forte e me vingasse. — respondeu sem pensar muito no peso de suas palavras. — Olha... Sei que não conheci ele, mas tenho certeza de que você está errado, Haru. Nenhum pai desejaria isso pra um filho. — concluiu, comprimindo seus corpos em um forte abraço. — Que tal se a gente fosse visitar ele? — sugeriu e, pelo fraco sorriso formado em seu rosto, ele concordava plenamente com sua amiga. — É... Acho que podemos visitar a vila dele. — sorriu em resposta. — Ok, agora vamos pra casa? — perguntou ela ao se afastar do garoto e encarar seu rosto molhado úmido pelas lágrimas que escorriam. Haruka apenas assentiu e os dois voltaram caminhando e conversando sobre a viagem que fariam no dia seguinte. Haineko, como sempre, tentando estimula-lo a esquecer da tristeza por hora e focar nas coisas boas que poderiam fazer durante o percurso ou até quando chegassem na vila.

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