Os seus olhos se abriam com uma certa dificuldade, sentindo dificuldade em conseguir distinguir um único palmo a sua frente devido à claridade que chegava em seus olhos. Piscou algumas vezes, tentando focar o seu olhar e descobrir onde, de fato, se encontrava.

Sentiu sua pálpebra pesada, sua consciência falhando, assim como o seu corpo reclamando a cada instante de sua tentativa de despertar. Aos poucos, o cansaço foi vencendo, jogando-o novamente nas trevas da incompreensão.

No que lhe pareceu uma eternidade, finalmente conseguiu abrir os olhos, dessa vez de uma única vez. Viu-se amarrado em uma maca do hospital de Kirigakure, em um quarto repleto de aparelhos. Era possível sentir algumas agulhas em seu corpo, assim como uma estranha máscara bombeando oxigênio para seus pulmões.

Sentiu seu corpo tremer levemente, enquanto lutava para entender o que estava acontecendo. Fechou os olhos com força, enquanto lutava para lembrar o que tinha acontecido… Ele estava na guerra, prestes a enfrentar Kumo e Konoha e… O que diabos havia acontecido?

Ele havia perdido a batalha?

Ele, conhecido como Insano? Ele, que sempre buscou por força e poder?

Ele havia… Realmente… Perdido?

Ele apertou os dois punhos e fechou os olhos com força, enquanto se concentrava, para ver se não estava preso em um genjutsu. Somente após alguns segundos que percebeu que realmente havia perdido…

Não sabia de onde havia vindo a nova onda de força, mas do fundo da alma, emitiu um grito. Um grito de dor, de desespero, de puro ódio... Um grito forte o suficiente para alertar os médicos shinobis próximos dali, que lhe deram uma anestesia em meio ao seu grito de fúria, para que, em poucos segundos, a paz se mantivesse por mais algum tempo no Hospital de Kirigakure.

Apesar da aparente calma que os sedativos aplicados no Mizukage faziam em seu corpo, a sua mente estava à beira de uma verdadeira tempestade. Seu corpo não se movia, mas em sua mente, o ódio, a vontade de destruir aquele que lhe acertara por um movimento de sorte movia a sua mentalidade, destruindo, pouco a pouco, o senso de humanidade que o grande período de paz lhe deu...

[Jyu]-AAAAAHHHH!! Malditoooo!! – gritava, enquanto o tempo avançava rapidamente, transformando o dia em noite e a noite em dia em questão de segundos. Sentia todo o seu corpo enfraquecer a medida que gritava a plenos pulmões, expressando a sua raiva que não conseguia desprender de sua mente.

Seu corpo aos poucos ia perdendo cada vez mais a força que o sustentava. Seus joelhos se dobravam, fazendo-o ficar de cócoras para não cair no chão de modo vergonhoso. Suas mãos, fracas, apertavam a terra árida na qual se apoiava, sentindo as suas unhas se quebrarem ao fazer o movimento.

Ele nunca havia se sentido tão humilhado, tão fraco... Mesmo em suas lembranças mais antigas, nas quais ele lembrava vagamente de todo o bullying que ele sofrera nas mãos de outros garotos por ser órfão, por sua timidez extrema... Ele nunca, NUNCA, havia sofrido tanto quanto naquele momento.

Respirando de forma profunda, tentava encontrar a força dentro de seu pequeno corpo em sua mente fragilizada. Um grito gutural, rasgando as suas pregas vocais, fez com que todo o estranho lugar começasse a rachar, como se fosse um espelho ao ser atingido por um pequeno projétil.

Erguendo a sua cabeça para o céu, sentindo o sangue fluir para dentro de sua garganta pela ferida provocada pelo seu grito de ódio, percebeu que seu corpo não era o único a sangrar.

Das nuvens acinzentadas, pequenas manchas vermelhas começaram a ser percebidas. Aos poucos, assim como uma pequena ferida descoberta, a mancha começou a crescer, formando uma enorme bolha de sangue, próxima ao seu ápice.

Mal raciocinando, o Viole socou com toda a sua força o solo árido, fazendo com que as rachaduras do solo se abrissem ainda mais. No mesmo instante em que seu punho acertou o chão, as bolhas de sangue explodiram, fazendo com que uma enorme chuva de sangue começasse a jorrar, se tornando rapidamente em uma enorme tempestade.

No mundo real, havia se passado pouco mais de duas horas que os médicos haviam aplicado o sedativo no corpo do Mizukage, mantendo sempre um enfermeiro na vigilância de seu corpo, assim como dois jonnins de elite da vila para fazer a segurança do Líder da Névoa enquanto se recuperava.

No momento em que a tempestade de sangue começou, o corpo de Jyu teve um forte espasmo, que assustou tanto o enfermeiro que analisava os seus sinais vitais quanto os dois shinobis da guarda.

[Enfermeiro]-Segurem o corpo dele, tomem cuidado para não o deixar sair da maca! – gritava, enquanto saía desesperado do quarto para procurar o médico plantonista, deixando com que os dois jonnins tentassem segurar o corpo do seu líder, que se debatia forte e de forma inconstante.

[Jonnin 1]-Mas que car... – começou a reclamar, parando ao tentar segurar o corpo de Jyu, quase deitando o seu corpo sobre o do Grace.

[Jonnin 2]-Como diabos ele tem tanta força ainda sedado? – perguntava, rangendo os dentes enquanto tentava manter o tronco e os braços do rapaz imobilizados, sentindo todo o impacto a cada leve mexida do corpo dele.

A porta se abriu com força, entrando um dos médicos plantonistas acompanhado por seis enfermeiros, incluindo o que havia saído da sala para chamar por ajuda.

[Médico]-Saiam de perto, antes que o machuquem! – ordenava, enquanto os enfermeiros se acomodavam em uma meia lua em torno de seu corpo, deixando o médico ficar na cabeça do rapaz.

Fazendo alguns selamentos, os enfermeiros criaram pequenas linhas de chakra esverdeado, cobrindo todo o corpo do rapaz, enquanto o médico usava um jutsu direcionado diretamente para a sua mente, cobrindo a mesma com uma névoa esverdeada.

Aos poucos, com o chakra medicinal sendo injetado por todo o seu corpo pelos enfermeiros e com a névoa agindo como um calmante neural, o seu corpo foi, aos poucos, entrando em um estado de torpor, o que permitiu que aplicassem um sedativo ainda mais forte em seu corpo.

[Médico]-Mantenham-no em observação. Utilizem 50 miligramas do sedativo a cada uma hora. Caso o corpo manifeste qualquer sinal de que voltará antes, apliquem metade da quantidade a cada meia hora. Temos que tomar cuidado para que ele não tenha quaisquer sequelas do tratamento, então tomem cuidado! – ordenava, com uma certa preocupação, já que a quantidade de sedativo que havia utilizado era bem alta para alguém tão jovem quanto o líder da Névoa.

Com um suspiro, deixou com que os seis enfermeiros ficassem ali para observar o comportamento do Mizukage, enquanto ele voltava para a sua sala. Definitivamente, havia algo de errado com aquele shinobi e ele iria descobrir o que era.

Já na mente estraçalhada de Jyu, as coisas estavam totalmente diferentes. A tempestade havia manchado todo o ambiente de um vermelho sangue tão profundo que parecia não ter fim, enquanto seu corpo, agora, jazia deitado no chão, quase sem forças.

Se qualquer pessoa se aproximasse dele naquele ambiente agora totalmente inóspito, poderia ver que ele não estava nem um pouco bem. Seu corpo estava repleto de escoriações leves e suas roupas, totalmente rasgadas, mal escondendo suas partes íntimas.

Suas mãos estavam em uma situação catastrófica. Não havia mais nenhuma unha em seus dedos, que por sua vez haviam perdido tamanho pedaço de carne que, em alguns pontos, era visível totalmente o osso de suas mãos. Seus olhos se encontravam fechados, com a respiração pesada, sentindo o gosto de seu próprio sangue em sua garganta, ainda ferida pelo esforço desnecessário que havia realizado.

[Isobu]-Jyu? – chamava, enquanto sua voz retumbava em todo o ambiente, quase como se ele implorasse para que fosse respondido. – JYU!!! ACORDE!! – seu grito se fazia ouvir, mas não havia mais forças para o Grace, nem para responder, nem para sequer se mover. De fato, o Mizukage estava nos seus últimos suspiros.

[???]-Patético... – ouviu uma voz indistinta, quase robótica, vinda de algum lugar de sua própria mente, mas sem conseguir discernir de onde ela verdadeiramente vinha. –Você é verdadeiramente patético, Jyu Viole Grace...

Com um esforço sobre-humano, abriu os seus olhos, conseguindo vislumbrar apenas pesadas botas negras, assim como as que ele costumava usar. Sentia os mesmos tentando se fechar, mas empregava toda a força que tinha para se manter lúcido, se agarrando a uma tênue linha de vida.

[???]-Experimentou de sua própria fraqueza pela primeira vez e sua humanidade chega a este estado deplorável? – continuava, dando uma pequena gargalhada da situação. – Você é fraco, inútil e ainda tem a capacidade de perder uma luta que não podia se dar o luxo de perder. Você não merece viver, Jyu Viole Grace...

Um leve gemido se fez na garganta do Mizukage, enquanto ele tentava retrucar. Tentou fechar os seus punhos, mas a dor provocada o fez desistir. Uma pequena lágrima começou a se formar em seus olhos, escorrendo levemente em sua face. Se ele pudesse ver o seu reflexo, veria que aquela não era uma lágrima qualquer.

Veria que ele estava chorando lágrimas.

[???]-Patético! – diria, pegando a cabeça de Jyu e a erguendo, fazendo ele ver com quem ele estava conversando. Sorriu ao ver o seu olhar de desespero ao ver a si mesmo ali, na sua frente.

[???]-Essa humanidade te mantém fraco, te mantém em um patamar abaixo do que realmente merece... – dizia, enquanto remexia em uma pequena bolsa, pegando uma kunai extremamente vermelha. – Deixe-me te mostrar o que você pode alcançar assim que essa sua parte repugnante morrer... Deixe-me mostrar onde você pode alcançar ao atingir o seu verdadeiro ápice... – dizia, enquanto com um sorriso, fincava a kunai em sua garganta, fazendo com que o seu corpo finalmente alcançasse a paz.

[???]-Está na hora de seu melhor lado assumir a sua mente. Espero que não ligue, humanidade idiota... – dizia, dando uma gargalhada de modo ensandecido, abrindo os braços no mesmo instante em que todo o ambiente desolado quebrava, dando lugar a um vermelho intenso, em um ambiente em que não havia nada mais que sangue em todo o seu entorno. – Vamos brincar um pouco com o seu corpo, Humanidade idiota...

No mesmo instante, os olhos de Jyu Viole Grace se abrem. No olho esquerdo, o Sharingan nível 3 brilhava tanto quanto o seu olho direito. Ao invés dos brilhantes olhos dourados cheios de vida, o seu olho direito adquiria um brilho tenebroso, de um vermelho tão intenso e poderoso quanto o esquerdo.

Virando o seu rosto para a direção dos guardas shinobis, demorou um tempo para que percebessem que ele havia aberto os olhos. No mesmo instante em que perceberam o seu despertar, Jyu quebrou as amarras que o prendiam, esticando as mãos para ambos.

[Jyu]-Morram! – e disparou duas pequenas agulhas de seu próprio sangue na altura do coração de ambos, surpreendendo-os e os matando quase no mesmo instante.

Os enfermeiros mais que rapidamente utilizaram do mesmo jutsu de antes, tentando prender o corpo de seu líder nas linhas de chakra medicinal, em uma tentativa de pará-lo e relaxar o seu corpo. Entretanto, os movimentos de Jyu Viole Grace não eram comuns. Não havia hesitação em nenhum de seus movimentos, desviando com uma certa graciosidade dos fios que tentavam lhe amarrar. Com movimentos rápidos, os jogou contra a parede, quebrando os aparelhos que se encontravam na sala.

[Jyu]-Se atrevem a me atacar? A me prender numa maca? Quem acham que está aqui? – perguntou, com um sorriso ensandecido no rosto. Ele não iria, de nenhuma forma, ficar parado quando tinha uma vingança para planejar.

Quando se virou para a porta para sair do quarto o enclausurara, viu o médico que o havia cuidado instantes atrás, acompanhado por cinco outros jonnins, provavelmente seguranças do hospital.

[Médico]-Mizukage-sama, o senhor deve...

[Jyu]-Eu estou bem o suficiente para derrubar esses inúteis que deveriam cuidar de mim, então não tente me impedir, Hisashi... Eu ainda sou o Mizukage aqui... – dizia, com um olhar que indicava que ele não aceitaria qualquer outra resposta que não a sua liberação daquele lugar.

Alguns segundos de silêncio fez parecer que o próprio ambiente ficou extremamente pesado. Engolindo em seco, o médico apenas acenou afirmativamente, enquanto Jyu começava a sua caminhada até a sua casa.

[Jyu]-Boa escolha, doutor... – dizia, em um tom irônico, batendo levemente em seus ombros quando passou por ele, caminhando em direção à saída.

[Jonnin]-Doutor Hisashi... Por que você... – começava, quase um minuto depois que Jyu já tinha saído de suas frentes. Por algum motivo, a aura que saía do corpo do líder da Névoa os havia paralisado de medo.

[Hisashi]-Seus olhos... – dizia, engolindo em seco e ainda sentindo todo o seu corpo tremer. - Sempre pensamos que ele era descendente de um Hatake, mas hoje... Hoje ele estava diferente... Aquela habilidade, ele... Ele... – e não conseguiu terminar de responder, deixando em aberto a sua resposta.

Mas mesmo que ele não completasse, aqueles pobres jonnins entenderam perfeitamente que algo havia mudado. E, definitivamente, aquela mudança não era nada do que esperavam...

E após alguns minutos, voltaram ao trabalho, sem saber que aquela mudança que eles haviam presenciado, indicava a uma Nova Era, tanto para Kirigakure quanto para todo o mundo Shinobi...

Considerações: