Ele sabia que fazer qualquer coisa muito acima do próprio intelecto seria sua ruína, portanto separou cuidadosamente em partes a sua defesa à comitiva e o ataque aos animais.

Shizuke acendeu seu chakra como uma lanterna na esperança de que o artifício fosse mais que suficiente para espantar o possível bando de salteadores que andava à espreita, ladeando a estrada. Para sua surpresa, viu a figura canina surgindo da vegetação, olhos brilhantes, presas à mostra e salivando; dar um passo para trás foi instintivo, mas ele se deteve nisso. Poder pairava ao redor dele em uma aura, estava confiante. Teve de resistir ao impulso de olhar sobre os ombros para checar como estava a comitiva, pois o animal o atacou. Ligeiramente mais rápido que o animal, conseguiu se defender impulsionando-se para trás, fazendo seu melhor para não perder o equilíbrio e pousar de pé, com as costas cada vez mais próximas da carruagem. Sem perder tempo, revelou duas armas laminadas nas mãos, imitando as presas da fera, dessa vez se impulsionando uma técnica que havia aprendido — ainda era difícil conceber a drástica mudança que sua vida tinha tomado, de um delinquente juvenil para alguém capaz de usar aquilo — para flanquear o animal e usar da velocidade extra para tentar atingi-lo nas costas e no peito, fechando ambas as armas contra ele como se fossem presas.

A voz em histeria vindo das costas foi o segundo alerta que recebeu naquela noite. Feito seu ataque, recuou. De onde estava, a luz lunar revelou o segundo lobo. Shizuke ainda tinha as kunais empunhadas quanto partiu contra o segundo animal, usando de uma estratégia similar. Correu em zigue-zague para ganhar impulso e nos metros finais deixou seu chakra impulsioná-lo ainda mais. Dessa vez, ainda atacando pela lateral, como forma de evitar os dentes do animal, iria tentar cravar ambas as armas por sobre a cabeça do mesmo, visando seus olhos com as pontas das armas.

Preparado para tudo dar errado, recuaria logo em seguida, ainda sem retrair as lâminas.

Além da tarefa que tinha sido passada para ele, a qual ele pretendia cumprir sem perdas, também era seu orgulho que estava em jogo, sua defesa ferrenha da carga e da comitiva era a forma de silenciar os olhares que duvidavam de suas capacidades. Seu corpo tinha ameaçado um enjoo múltiplas vezes no microintervalos entre o uso daquela técnica, que embora básica ainda levaria um tempo para se acostumar — o impulso abrupto, a perda de chakra.

“Fiquem perto da carruagem onde posso protegê-los”, embora fosse óbvio à altura, queria apenas garantir que não haveriam mais surpresas.

Hp: 850.
Ck: 840.

Spoiler:

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Até mesmo para sua própria surpresa, o movimento de Shizuke foi primoroso. O primeiro lobo foi atingido e morreu sem sequer ter a chance de contra-atacar. As kunais que tinha feito de presas estavam encharcadas de sangue e, no tempo que levou para tomar consciência de seu feito, o segundo animal aproveitou para tentar fugir. Ele viu a tempo, mas quase hesitou — não fosse a adrenalina e seu poder oculto tomando conta ele teria cedido à tentação paralisante que era remoer aquele trauma do passado; fez o possível para sufocar aquela angústia. “Agora não”, pensou, virando o corpo bruscamente, procurando pelo segundo animal banhado pela luz da lua. O uivo de dor do lobo abatido ainda parecia ecoar pelo ar noturno, avançando floresta adentro.

Agiu sem pensar, sem soltar as armas. Sua velocidade natural não seria suficiente, então ele mais uma vez se valeu do truque: um salto e um impulso em zigue-zague, novamente saltando num ataque que utilizaria de ambas as armas para tentar cravar agora não nos olhos, como tinha intenção antes, mas em ambos os flancos do animal, num movimento que seria como um abraço não tivesse armas laminadas nas mãos. Embora pudesse ter usado algo mais engenhoso, não havia porquê: velocidade e letalidade, brutas, cruas, mas facilmente acessíveis para cumprir o objetivo de alcançar e matar o animal.

Durante a ofensiva, percebeu que teria de se adaptar. O primeiro golpe no flanco não o fez parar e então ele golpeou ambas as patas traseiras, para terminar de abatê-lo perfurando, agora sim, ambos os olhos quando ele virou para o encarar e atacar de volta. Suas mãos, suas roupas, seu rosto, tudo respingado com sangue dos animais. Estava dividido entre deixar ambos ali, na estrada, e dar ao menos um funeral decente às feras, pela coragem de desafiá-lo. Todo seu ódio se direcionava à vila e outros seres humanos, não havia motivos para sentir-se daquela mesma forma contra uma fera que apenas seguia sua natureza. Limitou-se a recuperar a carne da boca do animal morto e a entregá-la para o homem responsável pela parte financeira da comitiva.

Parecia que somente então a adrenalina começava a arrefecer. Percebeu que precisaria usar o que ainda restava para consertar a lateral da carruagem, danificada na fuga do segundo lobo. Aproximou-se e agachou rente a roda direita, observando a tábua que tinha sido partida ao meio com o impacto do tronco do lobo em fuga desenfreada. Usando uma das kunais como uma espécie de martelo, com a parte não-lamina, destacou uma outra tábua usada na parte traseira do coche, que servia somente para encosto e cuja falta não seria sentida, terminando de destruir a parte danificada, removendo os restos de madeira danificada para substituir pela tábua boa. Não parecia uma solução permanente, mas bastaria para chegarem ao destino; o histórico com trabalhos manuais artísticos na prisão o ajudou nas noções básicas. Depois de ter deixado passar o pingo de adrenalina que lhe faltava, assim como os últimos resquícios de poder, finalmente estacou.

“Não se preocupem, está tudo resolvido”, falou, tentando disfarçar a voz trêmula, pedindo que fossem na frente. Tinha ficado paralisado, evocando memórias de seu abandono, porém foi temporário. Chegou a perdê-los de vista mas depois conseguiu correr e encurtar a distância, chegando junto deles no destino.

Hp: 850.
Ck: 835.

Spoiler:

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