Um pouco após terminar uma missão rank-D, Shiso parou para se perguntar o quão grande era a sua vitalidade. Ele não era fácil de se derrubar, longe disso, mas o quão longe será que ele podia chegar caso sua resistência fosse levada ao limite? E ainda que fosse longe, será que era o máximo que o jovem Gennin podia dar de si mesmo? Provavelmente não, já que ele nunca havia passado por um real treinamento de resistência anteriormente, e se há uma verdade absoluta no mundo shinobi é que tudo pode ficar mais forte após um bom treino. Mas como? O Senju passava a maior parte do tempo sozinho, e desse tempo uma parte considerável era triste, sua doença lhe trazia como efeito colateral uma grande dificuldade em fazer amizades, e treinar sozinho era bem mais díficil. Foi então até o centro de treinamentos da vila, quem sabe lá pudesse arrumar um paceiro de treino, ou caso não conseguisse, lá ainda seria o melhor lugar para treinar suas habilidades.

Já no campo de treinamentos, haviam alguns shinobi treinando seus talentos também. Uma dúzia, talvez. Shiso ajeitava seus cabelos brancos por fora da sua bandana da vila enquanto observava se algum deles era um candidato em potêncial para a parceria. Um era musculoso e grande, mas sua deficiência na velocidade deixava a desejar, seus golpes desajeitados poderiam ser facilmente esquivados por Shiso, e se deixar ser acertado não parece uma boa forma de treinar. Outro era extremamente veloz, talvez até mais que o jovem Senju, mas os impactos causados por eles eram leves, como se seus punhos fossem acolchoados, eles provavelmente fariam muito pouco estrago no corpo de Shiso, então esse parceiro também foi descartado. Um a um, os candidatos eram descartados, até observar o nono. Um pouco maior que o Gennin, ele tinha uma boa velocidade e golpes potentes, além de ali no treino solo mostrar também algum controle sobre ninjutsu, habilidades que poderiam ser bem aproveitadas num treino em dupla. Shiso se aproxima lentamente dele, aguardando-o terminar a atual sequência de golpes num boneco de treino.

- Hey, precisa de um parceiro aí? Acho que dou mais trabalho que esse boneco, ao menos vou tentar me defender! - Diz Shiso, enquanto sorri amigavelmente e estender sua mão direita para um cumprimento - prazer, me chamo Shiso.

O outro ninja não nega a surpresa na sua expressão facial enquanto pensa, por breves instantes, no que responder. Responde então:

- É claro! Só não garanto que você sairá bem desse treinamento, como deve ter reparado, meus chutes machucam bastante e são difíceis de defender - disse o ninja, enquanto não escondia no rosto uma expressão de prepotência e convencimento.

Então vamos logo, eu estou preparado, me acerta com tudo o que você têm! - disse Shiso, confiante.

Logo, porém, sua confiança foi pelos ares. Há muito tempo o jovem não sentia o calor (e a dor) de uma btalha shinobi real, apenas treinos sozinhos. Quando ele viu o outro ninja se movendo numa velocidade que seus olhos mal podiam acompanhar, sentiu sua espinha gelar um pouco de medo. Poucos instantes depois, por reflexo, Shiso põe o braço na frente do lado esquerdo do peito, e faz isso um instante antes do pé do ninja misterioso acertar o local com uma potência absurda. Shiso, apesar de ter defendido o golpe, sente seu corpo ser arremessado alguns metros para trás e caindo de costas no chão, enquanto ainda se move, sujando todo o manto que o jovem Senju usava de terra. Ainda antes de levantar, ele consegue ouvir algumas risadas do adversário, que diz em seguida:

- Hahaha, eu avisei que seria forte! Se eu tivesse usado alguma técnica, você teria ido parar no País do Arroz.

O que ele não esperava é que Shiso se levantaria tão rápido quanto saiu, tirando o manto com o símbolo do clã Senju que usava por cima de suas roupas, olharia com seriedade de volta pra ele e, mesmo com escoriações em seus braços, aponta seu braço em direção ao ninja que acabou de derrubá-lo e faz o sinal de "vem". Sentindo-se desafiado, o assistente de treino do Gennin parte novamente para cima dele em velocidade máxima e, dessa vez, ao invés de um chute forte, desfere uma sequência de socos muito fortes. Shiso vai, um a um, interpondo os socos com seus antebraços e, apenas no último soco, que vai diretamente no seu estômago, é que Shiso cai sem ar. Sem piedade nenhuma o seu adversário lhe aplica um chute nas costelas, como se chuta um cachorro, jogando-o três metros ao lado.

- Achou que eu estava brincando, garotinho? Você devia parar de levantar dessa vez, já está machucado o suficiente, nem consegue revidar os golpes. Eu sou muito maior e muito mais forte que você, no que estava pensando quando me chamou para treinar? Me chamo Kazuo, e grave bem esse nome, para nunca mais desafiá-lo. - disse o, agora nomeado, Kazuo. O que ele não esperava é que, após essas palavras, mais uma vez Shiso estava se levantando. Com os punhos cerrados apoiados ao solo, lentamente ele se levanta, supreendendo seu oponente e a meia duzia que já tinha parado para assistir o embate. Ali ele já estava superando o limite de sua vitalidade, elevando-a após levá-la ao limite. Ali, mesmo sem ter acertado nenhum golpe em Kazuo, esse já reconhecia a força e a perseverança de Shiso, bradando naquele momento que a luta tinha terminado em um empate técnico. Os que assistiam aplaudiram a persistência e resistência de Shiso, que já esgotado, voltou para casa para recuperar suas forças, tendo ciência que, com certeza, estava mais forte.

Chegando em casa e após sentar-se, o jovem de cabelos brancos olha para os seus braços, e a coloração do local onde os golpes foram recebidos é assutadora. Um roxo muito escuro é percebido no local, principalmente no braço em que se acumularam os socos e o chute. Ele caminha então lentamente para comer algo, pensando que seria bom, antes de enfrentar um próximo oponente, evoluir também sua força, para que seus oponentes não mais fizessem tanto estrago com apenas golpes básicos. Melhorar a velocidade também seria bom, para quem sabe esquivar-se... o caminho para se tornar um ninja completo seria árduo e longo, e o ninjutsu que o jovem dominava até agora era só o começo dessa caminhada.