naquele dia, taichi estava sobre o sobrado do prédio em que morava desde que se tornara um shinobi. o espaço era bastante amplo e arejado, com as proteções gradeadas grandes o suficiente para impedir acidentes, mas convenientemente pequenas para que pudessem ser puladas por alguém com habilidade. ali, taichi se sentia verdadeiramente em casa, e não era exagero dizer que era um dos locais que o fazia gostar da sua vila. a paisagem era bonita, ainda que passasse a maior parte do tempo escondida pela espeça névoa do país das águas; o que também era um charme, taichi pensava, já que era a raridade da ocasião que a fazia ser tão especial. e era verão! o sol brilhava forte no céu, saudando o povo, e taichi respondeu abrindo os braços, como se convidasse o astro para um abraço.

sentindo-se energizado, ele se preparava para potencializar o seu poder. a vista do sobrado era estonteante, mas o que taichi mais gostava, ali, era poder treinar sem ser interrompido por transeuntes, como às vezes acontecia no campo de treinamento. ele poderia disparar seus jutsus contra o ar à vontade, forçando o seu limite para extrapolar o seu poder, criando novos recordes que quebraria logo depois. ele reuniu o chakra, focando nos pensamentos positivos que preenchiam sua mente, e condensou a energia sob a forma de escuridão ao seu redor. como objetivo da vez, pretendia impulsionar a potência das suas técnicas a fim de aumentar os danos inferidos delas, e para isso, precisava refinar ainda mais o controle do seu chakra, balanceando a quantia exata, para causar o estrago desejado.

disparou uma rajada de yamiton para cima, que subiu pelo ar como uma coluna de trevas concentradas. parecia um turbilhão de liquido obscuro, taichi pensou, enquanto assistia à manipulação subir por 10, 15... 20 metros, antes da massa se desfazer em pleno ar. mais uma vez. outra vez. não desista. insista. persista. consiga.

taichi repetiu o processo quantas vezes achou necessário, induzindo a matéria negra a rodopiar contra as nuvens. não pretendia aumentar o seu alcance, mas procurava concentrar ainda mais a força negra para aumentar a sua carga destrutiva e autoridade. só se deu por satisfeito quando se convenceu de que a coluna de yamiton estava relativamente mais grossa e opaca. finalizou o treino a tempo de receber o chamado de uma nova missão. entendeu de imediato os requerimentos e as orientações, e partiu logo em seguida para encontrar a sua cliente.

ele já detinha certa experiência com escoltas. não muito antes obtivera êxito ao levar uma atriz famosa à sua terra natal, e taichi sentia que poderia fazer aquilo novamente. não esperava, contudo, encontrar uma menina mais ou menos da sua idade, com altura similar até, mas com os olhos cheios de lágrima. lembrou-se das informações contidas no pergaminho, e lamentou pelo luto que ela enfrentava. se aproximou devagar, a postura ereta, e educadamente a cumprimentou.

“me chamo taichi. vou te acompanhar até o outro lado do vilarejo.” se apresentou, mas a garota respondeu com murmúrios quase inaudíveis. taichi fisgou uma ou outra sentença aqui e ali, e tentou entender o que ela queria dizer. foram eles? o genin deu de ombros. “vamos por aqui,” orientou, dando início à sua missão.
 

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ele estava se sentindo temporariamente aliviado. enquanto seguia o caminho tortuoso estipulado pelas orientações da missão, taichi não pôde deixar de ficar satisfeito pelo desenrolar positivo que estavam tendo naquela situação. não que taichi esperasse encontrar alguma desventura realmente preocupante em um percurso tão limitado quanto aquele, mas o pouco tempo no mundo ninja já o havia ensinado a nunca acreditar demais em boa sorte.

a sua cliente parecia concordar com o pensamento pessimista, taichi reparou. ao longo de todo o trajeto, ela lamuriava lamentações que ele não conseguia compreender. tentou puxar assunto algumas vezes, fazendo questionamentos banais como passatempos e comida preferida, mas era como se a sua voz não a alcançasse de forma alguma, mesmo que estivessem lado a lado. por um lado, taichi ficou grato pela falta de resposta, uma vez que não gostava de conversar; por outro, se sentiu igualmente frustrado porque a sua tentativa de distraí-la havia sido um fracasso. queria poder ajuda-la, de alguma forma.

taichi percebeu a situação tornar-se ainda mais incômoda a cada novo avanço que davam pela estrada. por alguma razão, a estrada estava mais desafiadora do que ele se lembrava, e a neblina que os cercava o deixava apreensivo; nas tardes ensolaradas do verão, qualquer bruma levantaria suspeitas, mesmo em uzushiokagure. mais estranho ainda foi se deparar com o obstáculo em forma de cratera à sua frente, e foi só então que percebeu quão próxima a garota estava dele. não se importou. sua única preocupação era atravessar aquele buraco, e não conseguia encontrar soluções para além do seu yamiton.

não obstante, antes que pudesse refletir sobre a sua situação, a kunai vinda de lugar nenhum chamou a sua atenção e ele se virou para confrontas as duas figuras encapuzadas. colocou-se na frente da menina e atentou-se para a conversa dos homens, a adrenalina disparando como resultado da sua surpresa. poderia confessar que havia sido pego desprevenido, mas estava ocupado demais estudando seus interceptadores. mais surpreso ficara quando descobriu que a sua cliente parecia ser mais valiosa do que aparentava, e sentiu vontade de praguejar por acabar naquela enrascada. aparentemente, uma missão tranquila seria uma exigência grande demais para o santo destino.

taichi ponderou as suas opções. não podia abandonar a menina, e fugir seria impossível com aqueles dois em seu encalço; ao mesmo tempo, lutar diretamente com qualquer um deles poderia abrir espaço para que o outro conseguisse raptar a sua cliente, o que também faria com que a sua missão falhasse. mordeu os lábios. sua única opção seria igualar os times daquela disputa.

“datenshi no eisei,” proferiu para si mesmo tão logo viu seus inimigos se movimentarem em sua direção, e vomitou algo muito semelhante a piche sobre o chão. da poça negra, a criatura cresceu rapidamente, assumindo a forma e o tamanho de um homem adulto com asas no lugar dos braços. taichi rezava para que seu anjo tivesse tamanho suficiente para lidar com ambos os inimigos, atento enquanto o assistia voar contra seus alvos, mas voltou a reunir chakra por precaução. receoso como era, ele usaria seu jutsu amanogawa: tori no kyoen como um curinga a fim de evitar surpresas – não estava disposto a esperar para ver se seu servo conseguiria defende-los ou se os inimigos fariam qualquer coisa inesperada.
 

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quando os pássaros irromperam pela estrutura do anjo e atacaram os bandidos com a força de um exército, taichi se deu conta do quanto havia exagerado. entrara em frenesi ao imaginar que poderia colocar a garota em perigo, e por isso não poupou poder de fogo na hora da retaliação. por contexto, taichi nunca havia matado alguém por conta própria, e sempre imaginara que, quando ocorresse, não saberia como se sentir. para ele, a morte, muito além de uma consequência das escolhas individuais, era também um castigo severo quando não abraçada de forma natural.

ainda assim, taichi estava estranhamente... calmo. sentia como se tivesse acabado de fazer xixi, por isso reconheceu o sentimento como alivio. decerto taichi presava a vida mais do que qualquer coisa, razão pela qual evitava confrontos, mas talvez, por considerar a situação justa, seu coração não fosse capaz de sentir arrependimento ou tristeza.

não obstante, o genin ainda sentia certa compaixão. enquanto verificava os corpos para certificar-se de que estavam realmente mortos, ele tentou imaginar o que levara aqueles homens para um caminho tão cruel. certamente, não tinham uma alma boa, mas taichi acreditava que o mundo possuía a sua parcela de culpa na perdição das pessoas. fazia parte do ciclo, diriam os mais velhos, e ele fingia acreditar na naturalidade da corrupção.

fora a sua cliente que o tirara do devaneio quando o abraçara, agradecendo pelo serviço prestado. taichi sentiu o seu coração palpitar um pouco mais forte, e, enquanto se despedia – de uma forma muito encabulada, ele reparou no quanto a garota ficava bonita com um sorriso no rosto. ele sentiu um calor no peito, seguido de um aperto, e lamentou um pouco por já ter que se despedir. bom, que seja. deu meia volta em direção à uzushiogakure, lembrando-se que ainda havia um relatório para entregar.
 

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