Estava em decadência, todo aquele mundo. Todos os dias, acordava com ódio e dormia com ódio de não poder fazer nada. Em algum lugar, havia uma criança chorando em desespero, e eu nada poderia fazer para ajudá-la. Ausente, eu era falho em todos os aspectos e sabia que mesmo com a Respiração do Vento sob meu domínio, ainda estava longe de estar em meu auge completo de poder. Eu era apenas um aprendiz no entanto, um aprendiz de mim mesmo. Acordado desde muito cedo, estava no quintal da moradia, observando o céu e as estrelas com as espadas gêmeas embainhadas em minhas costas, sentia que era a hora de dar um passo além do que poderia neste exato momento. Chegado o momento de despertar o potencial máximo do selo amaldiçoado, ativei o primeiro estágio sem hesitação enquanto Kiryu observava em um canto do jardim, temerosa do que poderia acontecer mas preparada para me parar caso fosse necessário. Sorri para a infante enquanto as marcas dominavam todo o meu corpo e eu utilizava de meu controle de chakra para começar a desestabilizá-lo.

— "Kiryu, preste atenção. Se eu ficar fora de controle, tente me reprimir com quaisquer jutsus que você tenha. Uma hora o meu chakra terá que superar o do Selo Amaldiçoado, então não precisa se desesperar, o papai sempre vai estar ao seu lado, tá bom? Enfim, fique aí por enquanto, não faça nada até que você perceba que as coisas estão ficando fora de controle. Vou ficar com minhas espadas, quero testar todo o poder destrutivo que esta marca tem a me oferecer." — Disse, enquanto a pele lentamente começava a tomar um tom levemente acinzentado.

Kiryu acenou com a cabeça e concordou, aguardando o momento certo para me parar caso fosse necessário uma intervenção. Estava com medo do que poderia acontecer, afinal, eu poderia ferir ou mesmo matar minha própria garota caso saísse totalmente de controle. Suando levemente, ainda sim teria que arriscar tudo e todos ao meu redor se quisesse ter a chance de criar um mundo melhor para as futuras gerações. Sentia cada vez mais o chakra de minha pessoa sendo substituído pelo selo, e então, tudo começou a escurecer.

Minha visão nada tornou-se além de um horizonte perdido de um absoluto nada. A pele antes acinzentada começou a escurecer e tomou uma coloração amarronzada, espalhando para todo o corpo. Pequenas garras surgiam no lugar das unhas, alguns dentes alongavam-se e os olhos tornavam-se completamente negros, com as íris amareladas.  Meus cabelos cresciam ainda mais e tomavam uma coloração acinzentada, enquanto marcas sombrias surgiam ao redor dos olhos. Por fim de todo o torturante processo, uma enorme cauda similar a de um dinossauro emergiu do fim de minhas costas, sendo quase tão longa quanto o próprio corpo. Kiryu observava aquilo aterrorizada, como se um demônio acabasse de emergir frente a seus olhos. Sentia os últimos resquícios de consciência me deixando lentamente, mas caso ficasse totalmente inconsciente enquanto neste modo, me tornaria uma máquina de guerra incontrolável. Iniciei o processo de controle do selo amaldiçoado, chocando meu próprio chakra contra o da marca infernal que fazia todo o meu corpo arder como se estivesse no próprio inferno. Tremendo e agonizando em dor, não pude conter os gritos. Não conseguia ver o que acontecia com Kiryu, mas ao menos tinha noção de que não me movia muito. Com apenas a lateral esquerda de meu rosto totalmente sob meu controle, conseguia dar força a rebelião de energias opostas que acontecia em meu interior. A cauda abanava de um lado para o outro, com tanta força que geravam ventos capazes de arremessar pequenos objetos para longe. Batendo os pés no chão, o solo deformava-se e buracos eram fixados no local. O controle lentamente caía para a marca amaldiçoada enquanto os dedos tremulavam e baba escorria das laterais de meus lábios. Os olhos reviravam-se as pernas tremiam descontroladamente, mal conseguindo suportar o próprio corpo. Mesmo que baixo, ainda conseguia ouvir a infante dizer algumas palavras.

— "Por que..? Por que? ....Isso é como Douma..." — Kiryu dizia.

Douma? Não fazia ideia do que seria ou de quem ela estivesse falando sobre, mas conseguia ouvir que tentava segurar o choro e não entrar em pânico. Aos poucos, o chakra de meu corpo conseguia colapsar as vias bloqueadas pelo Selo Amaldiçoado, mas em outros locais a marca da maldição conseguia prevalecer, o que deixava o resultado deste treinamento perigoso incerto. As palavras começavam a se embaralhar e perder o sentido na mente, enquanto os sentidos do corpo também se esvaíam. Já não sabia o que poderia estar fazendo a esta altura, não sentia os braços e nem pernas, tendo apenas parte da visão do olho esquerdo totalmente sob meu controle. Mesmo assim, não pderia ceder tão facilmente. A resistência contra a energia sombria do selo perduraria até o fim, nem que para isso eu tivesse que pagar um alto preço.

A Sensação infernal que cobria todo o meu corpo me consumia cada vez mais. De uma hora para outra, senti meu próprio corpo desabando, e por alguns instantes meus sentidos retornaram, sentia diversos pontos de meu corpo serem atacados de maneira simultânea por dedos - O Juken - Estava sendo usado contra mim. A primeira vista não compreendi o motivo de tal, mas logo recordei-me de que deveria ser parado caso começasse a sair fora de controle. Com os pontos da marca amaldiçoada sendo restringidos pelo estilo de luta Hyuuga, meu chakra começava a dominar o corpo por mais uma vez, e meus sentidos lentamente retornavam. Uma forte sensação de coçar meu pescoço veio, e assim o fiz, o que indicava que ao menos existia alguma esperança de me sobressair sobre o controle do selo sombrio. Levemente sorrindo e ainda sem muitas forças, continuei-me a focar totalmente na batalha de chakras que ocorria em meu interior, esperando uma vitória de mim mesmo sobre este poder descontrolado e completamente obscuro e perigoso que reside nos interiores de meu ser. Uma mudança drástica que chegou até mesmo a me assustar, o chakra do selo enfraqueceu-se de maneira tão repentina que cheguei até mesmo a cair no chão pela sobrecarga e velocidade que o chakra puro consumia os caminhos em meu corpo, mesclado a uma sensação de alívio. Mesmo assim, ainda estava longe de acabar. Kiryu continuava a trancar e destrancar diversos Tenketsus com o Juken, na esperança de ajudar-me ao mesmo tempo que restringia possíveis atitudes idiotas que me viessem a cabeça por influência da marca.

Enfim, de volta a mim mesmo. A estratégia da pequena de bloquear os tenketsus que possuíam prioridade da marca amaldiçoada aceleraram em um ritmo assustador o domínio de meu chakra sobre o do selo, forçando-o a recuar e então colapsar-se por mais uma vez. A cauda desaparecia como se fora pó e a pele/cabelos retornavam a seu estado original, e mesmo que ainda estivesse internamente ferido por conta dos danos causados pelo próprio uso do selo, ainda podia me considerar "bem", a julgar pelo processo a qual fui submetido. Se tivesse demorado demais, o coração com certeza teria sido fortemente atingido pela influência do chakra negativo da marca, que agora selava-se por completo em minha pele, como uma espécie de tatuagem. Me tornei um só com o poder, totalmente sobre meu domínio e controle em quaisquer níveis e ocasiões. Mesmo com motivos para comemorar, me mantive calado enquanto caía de joelhos por conta dos efeitos negativos os quais assolavam meu próprio ser. Ofegante e sem forças - Nem mesmo para caminhar, tive que ser resgatado pela mais nova, o que não era vergonhoso. Recebendo alguns remédios e faixas pelos locais mais fisicamente danificados pela marca, mantive olhares atentos na garota, que parecia desconfiar de mim pela primeira vez em muito tempo. Talvez ela já tivesse percebido que eu havia ouvido algo o qual não deveria, mas era tarde demais para que Kiryu recuasse. Talvez houvesse uma pequena chance de que aquela frase possa conter uma pista ou mesmo respostas para os mistérios ocultos de meu passado. Quem seria Douma, afinal?

Após os ferimentos parcialmente se fecharem, finalmente poderia voltar a andejar lentamente e falar o que tinha em mente para Kiryu. Assobiando para chamar sua atenção, a garota logo fora fisgada pelo mesmo e lentamente aproximou-se de minha posição, com cabeça baixa e expressão de medo. Como se soubesse o que eu iria dizer, ainda sim parecia estar com medo de ser repreendida pelo seu próprio erro de ter deixado uma informação valiosa e oculta escapar de sua boca. Não sabia o que ela queria dizer com aquilo, mas deveria descobrir o motivo para tais apontamentos.

— "Mais cedo, você disse que na forma final do selo eu me parecia com um tal de 'Douma'. Quem é esse? Por acaso é algum conhecido seu, filha?" — Questionei-a.

— "N-Não! Não realmente...Eu não sei nada sobre ele, eu juro! Eu só achei que vocês são parecidos..." — Ela respondia.

— "E de onde vocês se conhecem? Por acaso eu já me encontrei com ele antes sem perceber ou você está saindo escondida com um namoradinho?" —

— "Não, não é nada disso! Ele...Ele é o homem que matou Kanao e que me trouxe até aqui." —

O Leve sorriso que se fazia em meu rosto desapareceu, sendo que eu deixei a taça com café quebrar-se no chão. Paralisei por alguns instantes, refletindo sobre o que havia acabado de ouvir. Após tal declaração, Kiryu começou a choramingar e simplesmente correu para seu quarto, rapidamente subindo as escadas com medo do que poderia acontecer depois. Mesmo assim, não iria puní-la, e sim agradecê-la por ter me dado uma informação tão importante. Mesmo com o corpo doído, fiz questão de agarrar as espadas gêmeas sobre a mesa e realizar um ataque em "X" em minha frente, simbolizando que o contra-ataque de minha pessoa contra Douma se iniciaria. Enfim, eu me aproximava cada vez mais da verdade sobre tudo. Mesmo assim, havia muito mais a ser espremido de Kiryu, apenas bastava aguardar o momento certo e ahora certa para agir e fazê-la contar. Será que ela sabia de algo a mais, ou isto era realmente tudo? Entrei em um conflito mental e continuei observando a rua através da janela, sem expressão ou emoção alguma. Seria um longo dia...Mas...O último, quem sabe?