Acordei sobressaltado com os barulhos da forja. Esta semana o meu pai estava cheio de trabalho, ao contrário de mim que tinha aproveitado para dormir, já que após a minha graduação ele tinha parado de pedir ajuda na forja porque achava que eu tinha coisas mais importantes para fazer. Obviamente que não me tinha dado ao trabalho de o corrigir. Pela quantidade de luz no meu quarto assumi que fossem umas nove ou dez da manhã. Desci as escadas e fui à forja dar um bom dia amigável ao velhote. - "Faz mais barulho que eu gosto. Porque raio é que o meu quarto é do lado da forja?" - Disse, claramente aborrecido por ter sido acordado daquela maneira, mas fui rapidamente repreendido. - "É para ver se acordas a horas decentes! Já viste as horas? É meio dia!" - Os meus olhos esbugalharam. Meio dia? O velhote continuou. - "De qualquer maneira, deixaram-te uma carta há umas duas horas, deixei-a na cozinha." - Uma carta? Oh não que não seja uma missão, eu estava tão bem a dormir. Fui para a cozinha sem dizer mais, ia ler a carta enquanto comia qualquer coisa. Tinha restos do jantar do dia anterior, que aqueci num instante, e sentei-me à mesa, com a refeição à minha frente, e a carta ao lado. O pergaminho tinha um selo com o símbolo da vila, algo que eu não tinha sequer reparado na altura, só dando conta depois. Infelizmente para mim, eu tinha razão, a carta detalhava uma missão que me tinha sido atribuída. Não me podiam ter dado uma coisa mais fácil? Jesus. A missão consistia em encontrar um outro shinobi da minha patente, que aparentemente tinha andado a roubar comida de vários estabelecimentos, e, nas palavras deles, dar-lhe uma lição.

Tinha passado cerca de uma hora, estava a usar a roupa do costume, com as minhas duas espadas penduradas à minha esquerda. O clima estava bastante agradável para um dia de inverno, algumas nuvens, mas para além disso nada de incomodativo. A carta mencionava o nome de alguns dos estabelecimentos roubados, e a minha primeira ideia tinha sido entrevistar os seus donos, à procura de pistas. Já tinha acabado a lista, mas nada relevante até ao momento. Os roubos aconteceram todos durante a madrugada, altura em que ninguém estava presente. O método de entrada e saída também era desconhecido, o que não era conclusivo devido à falta de uma investigação extensiva. Em frustração fui para um telhado qualquer, deitei-me e pensei um pouco. Ele vai cometer algum erro, eventualmente, acho que é só esperar pela noite. Para além disso, duvido que ele fosse roubar o mesmo sítio duas vezes, e já não há muitas opções. Decidi fazer uma lista dos restaurantes que ainda não tinham sido roubados, e partir daí, tinha várias horas para tomar uma decisão, então estava confiante.

O sol já se tinha posto há umas horas, devia ser mais ou menos meia noite, e os restaurantes deveriam estar vazios por esta altura. Ao longo da tarde estive a analisar os restaurantes que ainda não tinham sido roubados, e achei por bem que devia observar de perto o que parecia o melhor alvo para o ladrão. Era um pequeno restaurante de família, num edifício pequeno e sem qualquer tipo de segurança aparente, era moleza comparativamente às outras opções. A minha aposta tinha sido certeira, vi movimento no telhado do restaurante, era uma figura humana que claramente tinha uns quilinhos a mais. A figura arrombou com uma precisão brutal uma das janelas laterais do restaurante, e entrou por lá. Bem dizem que a prática leva à perfeição. Esperei uns minutos, e por lá saiu a figura com um saco na mão. Tentei-me aproximar mas fui imediatamente detectado, e o ladrão iniciou uma fuga. - "Pára quieto anda cá!" - Ele era lento e eu estava a conseguir ganhar terreno rapidamente, não demorou muito para o encurralar num beco.

- "Vá agora faz-me um favor e entrega-te já, não me apetece lutar." - Ele recusou e investiu contra mim de Kunai em mão, deixando o saco para trás. Levei a minha Kitetsu de encontro à Kunai dele, e aquele som viciante do metal a chocar despertou algo em mim, e a adrenalina assumiu controlo. Desequilibrei-o ao rodar sobre o ponto de encontro das armas, apanhando-o desprevenido. Ele tentou responder com um soco, mas as acções dele eram precipitadas, e lentas. Saltei por cima do ladrão, agarrando no seu ombro, e desviando-me do soco. Ao aterrar espetei a Kitetsu no chão, e utilizei-a como apoio para levantar o ladrão e enviá-lo diretamente para o chão, com toda a minha força. Ele rodou quase imediatamente, como se nem tivesse sentido o impacto, mas pela altura que ele se mexeu já tinha a minha Kitetsu encostada ao pescoço. - "Mexes-te um centímetro que seja e levo a tua cabeça ao Kage." - Parecia que estava a ter uma experiência extracorpórea, aquilo não era algo que eu diria normalmente, mas a verdade é que funcionou, o ladrão desfez-se em lágrimas e desistiu, o que causou uma mudança quase imediata em mim. - "Então vá toca a levantar que eu quero ir dormir." - A expressão séria tinha saído da minha cara, e agora havia um sorriso tolo, típico de criança inocente. Levei-o aos meus superiores de forma tranquila, já que ele estava completamente apavorado, e fui dormir.