ㅤ
   ㅤEra mais um dia comum em Konohagakure, dando continuidade as mesmas tramas que aquele universo tinha a ofertar. Aparentemente havia ocorrido o Exame Chunnin há alguns dias e grande parte da massa daqueles shinobis haviam se dirigido para fora da aldeia, onde, por escolha própria, foram fazer suas peregrinações em busca de adaptar-se melhor a situação que estariam a enfrentar e ter um nível mais condizente com o rank que agora possuíam. Kiyomi, no entanto, não compartilhava do mesmo entusiasmo para com aquilo, afinal, havia se quer tornado um genin e muitos problemas rondavam sua vida.
   ㅤEm um dos episódios mais tristes dos muitos que lhe aguardavam, Kiyomi perdeu sua avó e seu cachorro - que não estaria morto, mas desaparecido - e, no lugar do sentimento que tinha pelos dois, únicos familiares do garoto, nasceu a vontade de se tornar um forte ninja, assim como os que lia nos livros que era, literalmente, viciado.
   ㅤAntes, vivia em prol de Mira Uzumaki, Chibi e do seu grande espaço de folga para atividades improdutivas. Com o transcorrer dos anos, dia após dia, trilhava mais e mais seu caminho ninja que agora era o único ímpeto que tinha para preencher seu peito. E surpreendentemente, no meio da poeira, desordem e solidão daquela casa, aos poucos o garoto alcançava o almejado título que coincidia junto com o dia que os nobres guerreiros que haviam enfrentado desafios em Uzushiogakure retornaram para a vila (depois de dois anos). Era irônico como aquela transformação que Kiyomi passava e o espaço de treino dos atuais chunins da vila se entrelaçavam; o Uzumaki tinha certeza que não era por acaso e não queria ficar para trás dos seus companheiros. Já era genin e sabia que, aplicado como estava, não demoraria em progredir; entretanto, aquela leva de shinobis de sua geração já estavam a sua frente e, após tanto esforço, mais próximos que nunca de se tornarem tokubetsu jounin.
   ㅤSeus esforços estavam em ter seu tão sonhado momento de brilho, mas todos os holofotes estavam nos ninjas que regressavam. Kiyomi estava no limiar entre estar feliz, pois sabia que aquela geração que ele também pertencia tinha jovens qualificados, mas também via amigos de outrora em posições acima da sua, atenuando o quão ainda era fraco. Não deixava de estar feliz por eles, mas sabia que isso significava que o Uzumaki tinha muito a avançar.
   ㅤAquilo tudo era uma confusão em sua cabeça, não tão grande quanto a que tivera dois anos atrás, mas, que estava lhe causando problemas e tratando de dar-se uma imagem de incapacitação. "Se eu sobrevivi e cheguei até aqui, não tenho o que temer. Vou me tornar mais forte e alcançar essa nova geração e meu amigo, Tatsuo Uchiha. Isso é uma promessa!” Pensara, incumbindo-se de uma responsabilidade enorme e que, naquele momento, era tanto obscura quanto inimaginável para o garoto. Mas... Antes de tudo, por que não ir para um lugar que pudesse colocar todas as ideias no lugar e voltar de “mente vazia”, não é mesmo? Afinal, tanta preocupação, stress e cobrança excessiva - enquanto já sabia seus planos e só tornava-se mais ansioso - só viria a atrapalhar, concorda? Ao menos era assim que pensava o jovem.
   ㅤPortanto, assim fazia. No meio de suas primeiras missões, antes mesmo de ser convocado para um time, partia agora na sua peregrinação, longe de quaisquer datas previamente combinadas, nadando contra a corrente de tudo que ocorria. Kiyomi, naquele dia, decidiria ser o Astronauta de Mármore da sua própria história, afastando-se de tudo e todos, em um lugar em que, da sua visão, a Vila Oculta da Folha não era nada mais do que um ponto. Em sua tentativa de voltar mais puro e mais incisivo do que iria fazer, o Uzumaki ia parar em uma cabana abandonada, ainda no País do Fogo, com o mínimo que precisaria para sobreviver - na verdade, menos do que o necessário, pois ainda não passava de um tolo que não sabia planejar nada e agiria, na maior parte das vezes, de modo impulsivo.
   ㅤTrajando suas vestes habituais, sempre com o símbolo da Vila Oculta do Redemoinho que há muitos anos tinha acordos com a sua vila e o menino ouvia das histórias vagas de sua avó, se punha naquele dia a pescar em busca do resto de alimento que lhe faltava. Em sua busca pela chance de viver sem dor, afogava-se nos pensamentos do passado afetuoso com seu cachorro. Mira não estava mais viva, mas Chibi ainda estava e foi por um descuido que deixou que fugisse ainda filhote sem saber como voltar para casa. A culpa era inteiramente sua, estava ciente disso e enquanto esses sentimentos emergiam dentro de si, sua destra e canhota cerravam a vara de madeira que usava para pescar, transpondo o sentimento de ira que o Uzumaki tinha dentro de si e até mesmo por si.
   ㅤTudo aquilo fora interrompido quando enfim um peixe azarado caia em sua isca e findava suas forças, tornando-se alimento do genin naquele dia. Tudo era muito bagunçado para ele: sua casa após a morte de sua avó, a incerteza de que conseguiria se tornar um bom ninja, o possível (ou não) retorno de Chibi para sua vida. Não tinha como afirmar que nada daquilo daria certo, não naquele momento, mas encarrando as estrelas e a lua, deitado na planície verde que se encontrava, via o manto negro que cobria a lua nova daquela noite, distante da sua visão e isolada, como o próprio garoto também se encontrava. A lua, o lado escuro é sempre igual.  Mas sabia que, era apenas uma questão de tempo para que mudasse de fase, crescesse e seria novamente uma lua cheia. Grande, visível, cobrindo a maior parte do sol, destacando-se sobre todas as outras.
   ㅤNaquele momento levantava sua destra, ainda com a canhota apoiando sua cabeça com os cabelos esvoaçados devido à ventania daquela noite na floresta, apontando-a para sua "amiga" também em fase de transformação e melhoria, prometendo para o universo que iria se tornar tão grande e importante quanto ninguém jamais poderia prever, assegurando que sua energia positiva fosse encaminhar de realizar coisas grandiosas - afinal, quanto mais esforçado, maior as chances de tudo ocorrer bem; assim pensava.

---