Todos aqueles prédios me deixavam claustrofóbica. Ironicamente, me sentia assim somente quando entre ruas, a sensação desaparecendo no mesmo instante caso eu estivesse no interior de minha casa ou um estabelecimento qualquer. Já não mais trabalhava no ateliê, portanto meu tempo era todo livre: para admirar minha marionete, muito mais em busca de imperfeições do que contemplação propriamente dita, e dedicar-me um pouco mais a vida como ninja. Nesse dia em específico tive uma atribuição.

Um homem alto, de cabelos grisalhos, embora parecesse ainda novo, abordou-me enquanto eu atravessava a praça em direção a minha casa. Sabia meu nome mesmo nunca me tendo visto antes, logo entregando um envelope selado em minhas mãos. Tão rápido surgiu, desapareceu. Fiz algo de errado?, pensei imediatamente. Só a carta me diria. Portanto a abri rapidamente, sem nem mesmo correr para casa. Tratava-se de uma atribuição pequena, logo percebi, eu havia sido designada a encontrar uma criança que se perdeu no interior da vila. Em meio a tantos prédios altos e espelhados não era de se espantar.

Para muitos a tecnologia representava uma fonte de ameaça e insegurança. Os ninjas temiam que seu trabalho eventualmente fosse minado ao uso de ferramentas e o que mais a tecnologia pudesse conceber; trabalhadores, braçais especialmente, temiam as máquinas tomarem seus lugares. Eu temia tudo isso. Naturalmente, me provara incapaz de corresponder até mesmo às expectativas de meu atual cargo.

Fui ter com um grupo de homens encostados numa parede próxima a calçada, eles conversavam, mas pareciam ainda atentos a tudo que acontecia em volta. Tirei do meu bolso o envelope, que havia dobrado depois de ler, e mostrei uma foto que estava junto ao conteúdo da carta. Todos sacudiram a cabeça imediatamente, muito mais por não quererem se intrometer do que por um desconhecimento daquela face. Um deles, porém, se demorou um pouco. “Eu vi ele”, disse, embora não me parecesse muito seguro da fala. “Se perdeu na multidão da área comercial, acho.” Agradeci com um gesto tímido, curvando rapidamente a cabeça, depois parti correndo.

Encontrei-o sem dificuldade alguma — o nível da tarefa equivalia a sua dificuldade, supus —, dobrado em posição fetal bem ao lado da entrada de um famoso restaurante de frutos do mar. Todo mundo passava indiferente à ele, entrando no restaurante ou cruzando a rua ou alcançando o beco logo atrás. Não poderia culpá-los, afinal, é razoável escapar das responsabilidades das próprias crias, imagine quanto isso diz respeito a uma criança desconhecida. Laços familiares em grande parte eram nomes, nada mais que isso.

Abordei a criança e a fiz me acompanhar, tocando a bandana que levava amarrada frouxa em volta do pescoço. Peguei na mão dela e levei até o quartel general, onde a deixei com um oficial, entregando-lhe minha carta quando percebi que ele não havia entendido a situação.

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