Hōki Yui
ホウキ佑泉
Observava o ambiente enquanto me movimentava em direção ao local onde costumeiramente treinava. Nessa época do ano, onde o sol brilhava sobre nós, mas quase não trazia seu calor, as ruas eram costumeiramente menos movimentadas. As pessoas da vila pareciam preferir o calor, mas chega a ser irônico como eu sou diferente da maioria deles. Acredito fato de eu ter nascido no inverno nunca foi uma característica que definisse essa afinidade, mas tudo parecia ser tão mais... brilhante. Era como se a luz do sol deixasse de ser ofuscante para iluminar tudo, não com uma luz que cega e queima, mas como algo clarifica, e isso sempre me agradou.

Enquanto me afastava dos centros civis da vila começava então a encontrar as grandes escadarias que direcionavam à diversas plataformas de pedra em meio as nuvens. Saltei por algumas até alcançar o que parecia ser a última por ali. O céu parecia refletir a cor azul acinzentada das nuvens, o que tornava aquela visão como um extenso espelho que refletia a si mesmo infinitas vezes. Talvez essas paisagens fosse o que eu gostava mais naquele lugar. Fosse inverno, verão, primavera ou outono você sempre poderia encontrar uma imensidão única, passava do azul ao laranja e alcançava as misturas mais únicas de cores. Soltava um suspiro e via minha respiração aquecida condensando ao entrar em contato com a atmosfera. Eu poderia ficar a vida toda simplesmente encarando aquele cenário, mas meu objetivo ali era outro.

“Para um ninja médico o controle de chakra deve ser preciso, perfeito”. Já havia parado de contar a quantidade de vezes que ouvira o comentário acima. Mesmo quando vivo, meu pai nunca tinha tempo para me treinar, então todo meu treinamento ficou por conta da minha mãe. Trabalhando no hospital, nunca sobrava muito tempo para minhas aulas, então, o que não aprendia na academia, eu devia treinar ou sozinha ou com breves orientações teóricas dela. Quando ela conseguia tempo para alguma prática era um grande milagre, mas nunca durava muito. Eu não a culpo, afinal ela sempre está trabalhando, então não consigo nem imaginar seu cansaço.

Por outro lado, a vida dentro do hospital foi muito útil para meu crescimento. A biblioteca estava sempre repleta de informações sobre medicamentos e maneiras de tratar os feridos, mas o que me fez crescer foram os livros de anatomia. O treinamento da academia sempre ajudou na aprendizagem de técnicas, mas a possibilidade de mentalizar isso só veio quando comecei entender o que de fato acontecia quando você realizava os selos de mão.

Meu treinamento era baseado nisso. Era comum você ver nessas grandes construções de terra outros ninjas travando batalhas como forma de treinamento. É uma ótima maneira de exercitar certas habilidades, mas no momento me sentar na posição de lótus era suficiente. Com os olhos fechados mentalizava a rede de chakra vivia estampada nos diversos livros da academia. Talvez fosse apenas minha imaginação, mas eu podia jurar que sentia o chakra se movimentando em meu corpo. Como uma rede de rios que correm para o mar, eles se seguem para que possamos utilizar as diversas formas de jutsu. Apesar de não ser esse meu objetivo, era possível ver o efeito que aquela movimentação causava. Aos poucos, era como se meu corpo expelisse vento. Com a movimentação do chakra em meu corpo meu cabelo e vestimentas começavam a se movimentar como se uma brisa passasse por mim. Meu objetivo ali era então treinar justamente a quantidade de tempo que eu poderia manter o fluxo, afinal, o preciso controle do chakra é uma das chaves para os ninja-médico e, mesmo que meus objetivos finais buscassem curvas nesse caminho, aquele deveria ser meu ponto de partida.  

Abria os olhos para ver no horizonte o antes mar acinzentado tomando cores que se misturavam no cinza das nuvens e trazia uma indescritível visão até mim. Voltava a mim quando uma gota fria de suor respigava sobre meu tornozelo esquerdo. Uma risada irônica saia de meus lábios enquanto eu passava o lado posterior da mão em minha testa para notar a quantidade de suor que se acumulava ali. Talvez fosse difícil imaginar como um treinamento que requer praticamente nenhuma movimentação física exigisse tanto de alguém. Usei meus dedos como pente e arrumei meus cabelos sentindo os fios e o coro cabeludo tão molhados quanto minha testa. Chegava a ser engraçado ver alguém encharcado de suor no clima frio de Kumo naquela época do ano. Avaliando a movimentação do sol, que agora se preparava para deixar a lua assumir o comando do céu, eu havia passado, além de parte da manhã, toda a tarde na mesma posição, realizando a mesma atividade. Uma risada escapou enquanto pensava que se alguém estivesse me observando provavelmente pensaria que sou algum tipo de monge, capaz de passar um dia todo meditando, apesar de que talvez esse tipo de atividade pudesse ser considerado algum tipo de meditação em alguma modalidade shinobi pelo mundo.

Ainda com um sorriso tímido no rosto e negativando meus pensamentos bobos com a cabeça me levantava de uma vez; erro meu. Minha cabeça girou e meus músculos gritaram enquanto a dor tomava conta da maior parte do meu corpo. – Droga... – amaldiçoei para mim enquanto pensava na idiotice que acabara de fazer. Um dia todo na mesma posição, sem se alimentar e fazendo esforço contínuo. Mais um suspiro enquanto mentalizava o erro para não cometê-lo novamente.

Meu estômago respondeu a necessidade do corpo com um ronco enquanto eu realizava alguns movimentos de aquecimento para não sofrer um desmaio no caminho de casa. Esse definitivamente é o que qualquer nativo de Kumo não quer arriscar, pois a queda é grande. De maneira calma e moderada me direcionava então ao rumo de casa para finalizar o dia; de alguma maneira ele deve ter sido útil.
  

Considerações: