O vento transcorria-me. Meus olhos assimilavam o caminho que fazia. De facto, não era a primeira vez que passava por ali, nem sequer a décima. Todos os dias, desde que tinha cinco anos, corria por aquela mesma rota, e hoje não estava sendo diferente.

Minhas pernas seguiam adiante, uma na frente da outra. Não tinha exatamente uma boa resistência e por esse motivo acabava esgotado num período de tempo curto. Isso era um dos muitos problemas que tinha, o qual precisava urgentemente ser corrigido. Mesmo que minhas pernas doessem, continuei o caminho que fazia. Contudo, às vezes parava brevemente para dar uma respirada. Enquanto fazia isso, podia perceber que algumas pessoas observavam-me e cochichavam sobre mim. Quando eram pegas no ato, elas apenas disfarçavam e fingiam não terem dito nada.

Já estava acostumado com isso. Sabia o que as pessoas falavam sobre mim, de como eu era preguiçoso e descompromissado. Alguns até diziam que eu estava jogando minha juventude fora não dando o máximo de mim como um ninja. Eu poderia fazer algo, mas trabalhar duro persistentemente é muito complicado para uma pessoa que deseja levar a vida suavemente. No entanto, também entendia que não poderia ficar parado para sempre, então, às vezes eu treinava, como agora.

Meus pulmões já estavam acostumados com a altitude da vila de Kumo. Não era mais difícil caminhar, correr ou treinar. Talvez esse fosse mais um fator que ajuda-se com minha tenacidade física. Aumentei o ritmo de minha corrida, novamente ao máximo que podia chegar. Tentei perseverar com esse padrão rítmico durante uma distância maior a que havia percorrido antes. O resultado? Nenhum pouco agradável.

Acabei não aguentando as dores em meu estômago e o vômito saiu antes que eu conseguisse impedi-lo. Felizmente, nenhuma pessoa havia visto o que tinha acontecido, me livrando de uma enorme vergonha. No entanto, era deplorável o que tinha acabado de fazer. Não só isso, pois agora sentia o corpo pesado e sem vida. Meu corpo parecia pesado como chumbo. Deveria ter parado para um breve descanso quando comecei a me sentir mal. Infelizmente, fiz a escolha errada e acabei desse jeito.

Andei para longe de lá, parando no restaurante mais próximo. Tomei um gole de água, que apesar de ter me dado vontade de vomitar de novo, acabou revigorando um pouco de minha energia. Recostei-me numa cadeira e descansei por um longo tempo enquanto esperava meu mal estar passar. Depois que comecei a me sentir melhor, voltei ao meu treinamento. Não deixaria que uma coisa tão pequena como essa atrapalhasse meus planos.

Claro, dessa vez moderei minha velocidade. Algumas vezes acelerava o passo, enquanto outras apenas dava uma leve caminhada. Continuei assim por mais duas, três horas. Quando senti que havia chegado em meu limite, quase desmaiando de cansaço, voltei para minha casa.

O repouso fizera bem ao meu corpo. Não possuía mais dores ou incômodos. Minha energia havia retornado para mim. Felizmente, não tinha precisado mais do que uma boa noite de sono. Com certeza, minha juventude se mostrava ativa e em sua força total. Gostaria de ficar descansando para sempre, mas sabia que uma hora teria que levantar de minha cama, e com isso em mente saía para mais um dia de treino. Depois de fazer os devidos alongamentos, comecei outra longa caminhada. Acho que já posso me considerar um maratonista.

Percorri um caminho diferente do que normalmente faria. Sabia que por lá, onde sempre passava, encontraria as mesmas pessoas que me julgavam, por isso havia decidido escolher uma rota diferente. O trajeto fora silencioso e calmo, ninguém além de mim andava por ali. Tomei um gole de água de minha garrafa enquanto diminuía o passo, mais à frente encontraria o lugar ideal para o que iria treinar. Um pouco afastado da vila existe um campo de treino, o qual servia especificamente para aumentar a resistência e a velocidade daqueles que ali se exercitam. Era para lá que estava rumando, possuía o intuito de continuar aumentando minhas condições físicas, pois sabia que elas eram de suma importância numa batalha, embora eu prefira evitar confrontos.

Apesar de na última vez ter acabado vomitando por causa do cansaço, hoje seria diferente. Afinal, já colhia os frutos da prática anterior. Mesmo que ainda não fosse algo surpreendente, minha estamina havia melhorado e já não me cansava tão facilmente. Livrei-me dos pensamentos desnecessários, precisamente das vozes que sempre ouvia e que continuavam incomodando-me. Arrumei o cabelo e tirei o pó da camisa com umas leves batidinhas de minha mão esquerda. Comecei, então, o percurso íngreme. O exercício consistia basicamente em subir e descer o que chamavam de 'colina na montanha', uma elevação em declive do local.

Não era fácil manter o ritmo, depois de subir e descer cinco vezes começava a sentir minhas pernas pesadas. Suor escorria por meu corpo, levando meu vigor consigo. Realmente, não era uma tarefa simples de ser concluída. Entendia, finalmente, o porque de muitos desistirem desse caminho. Contudo, era preciso que eu aumentasse minhas forças, só assim conseguiria progredir. Não parei para descansar e continuei subindo e descendo. Mesmo que meu corpo pedisse por um descanso, mesmo que meus pés gritassem de dor, segui adiante. Não deixaria que coisas banais como essas atrapalhassem meu treinamento. Sabia que era capaz de fazer isso, talvez até mais. Mas isso não tirava o fato de ser algo pesado e esgotante.

Desabei no chão. Não estava desmaiado, mas sentia que a qualquer momento isso poderia acontecer. Minha respiração estava ofegante, sentia o coração bater em minha garganta. O céu que antes estava azul, tornava-se laranja e ao longe roxeado. O que indicava que havia passado horas treinando. Permaneci ali, deitado, por mais algum tempo. Não tinha coragem para levantar, muito menos força para isso. Felizmente, de pouco em pouco minha situação melhorava. Recobrei um pouco de minhas energias e com ela rumei para minha casa. Finalmente, poderia descansar e dormir por uma semana inteira, quiçá um mês inteiro.


Considerações: Treino para aumentar 1 ponto em velocidade e 1 ponto em stamina. São ao todo 989 palavras.