O frio se fazia presente em Kumogakure e muito cedo, Saori já encontrava-se nos campos de treinos, disposta a melhorar suas habilidades em taijutsu. Sempre foi decadente nesse quesito, mas desde que descobriu que podia usar o Byakugan e seu Juuken ficou mais efetivo, decidiu que tinha que melhorar esse aspecto de sua vida como uma kunoichi. Afinal, do que adianta ter uma Kekkei Genkai tão invejada como a dela e não poder usufruir dela em todo o seu poder? De nada. Ainda oito da manhã, o céu estava limpo, com poucas nuvens visíveis. Contudo, o sol brilhava fraco e envergonhado. O campo escolhido diferente do usual: tratava-se de um fosso circundado por altas paredes de pedra e pouca vegetação, próximo aos portões da vila.

Atacando um boneco de madeira, os gritos da morena ecoavam por todo o campo de treinos àquela hora pois não havia mais ninguém ali. Com seu Byakugan ativo, levou atacava o boneco como se fosse um humano. A madeira morta não possuía fonte de chakra, mas, ainda assim, melhora seus ataques era uma boa forma de melhorar seu Juuken; então, com os cabelos negros esvoaçando pelas costas ela corria, girava, descrevendo piruetas no ar e atacando a madeira inerte até que seus membros começaram a doer. As mãos ardiam e os pés latejavam, mas ela não queria parar ainda. Ou melhor, não podia. Desde que sua mãe descobriu que ela havia finalmente ativado sua Kekkei Genkai, estava pegando no seu pé mais que nunca. Antes, acreditava que a filha só havia herdado os dons do pai, Kagayaki, sendo uma ótima junja quando se tratava de ninjutsus de cura, mas com zero habilidades em taijutsu.

Passou a manhã inteira socando, estapeando e chotando um pedaço de madeira enquanto esperava sua mãe no campo para finalmente começar de verdade. Aquilo foi um aquecimento e tanto. — Acho que alguém se empolgou demais. — A voz de Yumi ecoou até a garota. — Até que enfim você chegou! Achei que não viria. — A garota reclamou com a mãe. Com três horas de atraso, a mais nova já estava irritada. Exausta por treinar sozinha e dolorida por ter passado grande parte da manhã batendo em um pedaço de madeira com toda sua força. — Olha como fala comigo! Sou sua mãe! — A mais velha a repreendeu, e tinha razão. — Mas desde quando você se esforça tanto treinando? Que eu me lembre você era a garota do ninjutsu, não? — Brincou. — É... Eu quero ficar mais forte, quero participar do Chuunin Shiken e me graduar como uma para poder pegar missões que valham a pena. — Explicou. Se bem que todas as missões as quais havia saído até o momento, ainda que rank C, foram de grande aprendizado para a jovem.


— Ah, faz sentido... — A mãe respondeu. — Quando estive pronta. — Se colocou em posição de batalha do clã Hyuuga, com a base bem sólida, a mão direita na frente do corpo e a esquerda mais próxima ao tórax. Saori fez o mesmo porém a disposição de suas mãos era oposta por não ser destra. — Podemos. — Disse a morena, ativando seu Byakugan sem a necessidade de selos de mãos. Sentia seus músculos e membro doerem e já estava ofegante por causa do treino sem descanso, mas não desistiria. Sua mãe havia chegado para ajuda-la e ela iria até o fim com aquilo pois precisava melhorar seu combate corpo a corpo.

A íris da genin, antes verde e pequena, agora grande e branco gelo devido a ativação de sua Kekkei Genkai chamava atenção. Saori sentia as veias pulsarem ao redor de seus olho, era seu corpo levando maior oxigenação aos olhos, de modo a ativar melhor a rede de chakra e manter a técnica visual ativa. A garota ficou parada por alguns instantes enquanto se concentrava em notar cada um dos pontos de chakra de sua mãe (que não ativou o Byakugan) e em seguida iniciou seu ataque. Correu na direção da mais velha e começou a bater, mirando nos pontos de chakra. Saori atacando e Yumi defendendo, como uma dança sem fim; a pancada dos ataques ecoava por todo o campo de treinos. Pelo visto a mais nova ainda tinha muito o que melhorar pois sua mãe sem usar o doujutsu do clã estava lhe dando uma surra.

Mais rápida e mais eficaz, Yumi começou não só desviar dos ataques da filha, mas também contra-atacar. Os rastros de chakra eram vistos no ar e o barulho da batalha aumentou quando a mais velha ativou seu Byakugan e as duas começaram a lutar através do Juuken, uma tentando bloquear os pontos de chakra da outra, fazendo de tudo para não acertar os pontos errados e causar danos internos pois era um treinamento amigável entre mãe e filha, não uma batalha real.

Exausta, Saori foi lançada para trás e caiu de costas. Tentou se levantar mas não conseguiu pois seus músculos estavam muito cansados. — Já chega por hoje. — Disse a ruiva. — Vamos pra casa, você precisa se recuperar. Amanhã continuaremos nosso treino. — Finalizou. A mais nova tentou se levantar novamente, mas não conseguiu. — Vai na frente, vou ficar mais um pouco. — Ela não quis pedir ajuda da mais velha. Queria se mostrar forte, então, esperaria o cansaço passar um pouco antes de tentar se levantar mais uma vez e ir para casa. Yumi suspirou. — Você é quem sabe, mas volte pro jantar... — Disse em resposta a sua filha, em seguida saiu do campo de treinamento a passos lentos. E Saori permaneceu ali, conseguindo levantar-se apenas trinta minutos depois.


Quando finalmente conseguiu se levantar, Saori ainda não queria ir pra casa. Não conseguia treinar seu taijutsu, mas se se esforçasse um pouco conseguiria sucesso com um treino em sua maior especialidade: ninjutsu. Procurou um lugar mais aquecido e encontrou ao centro do campo de treino, onde não havia nada fazendo sombra e o sol incidia diretamente sobre a pedra. Por mais fraco que fosse, ficar ali era mais agradável e confortável do que na sombra. Assim, a garota se sentou e começou infundir seu chakra. Era ótima com o elemento água devido a uma afinidade natural como a natureza suiton, mas ha algum tempo a garota vinha tentando treinar outra natureza de chakra: o raiton. Acreditava que se combinasse as duas técnicas durante suas batalhas conseguiria ótimos resultados.

Seguindo a ideia de seu pai, todo o conteúdo sobre o assunto que pode ler na biblioteca da vila, e seu excelente controle de chakra, Saori fechou seus olhos e se concentrou em sentir cada um de seus tenketsus e se concentrou apenas naquilo por um período de tempo. Feito isso, ela começou a focar seu chakra nas palmas de suas mãos até sentir um certo formigamento. Segundo seu pai e os livros, aquele era o momento certo para tentar mudar a natureza do chakra normal para o elemento raiton. Assim ela o fez. Imaginou seu chakra saindo de seus tenketsus como agulhas finas e azuladas, linhas de energia, tudo o que lhe lembrasse um verdadeiro raiton, mas não teve muito sucesso na primeira vez, sendo que tudo o que conseguia era lançar um montante de chakra ao ar sem resultado algum. Ainda assim a morena continuou insistindo em seguir esse passo a passo até que conseguiu a primeira faísca. Entre seus dedos indicador e polegar houve uma linha de energia elétrica azulada que se manteve por cerca de dez segundos com sua concentração. Era um início, se conseguia uma corrente elétrica, conseguiria um raio completo. Assim, a jovem Miyamizu continuou seu treinamento até não aguentar mais de fome e, enfim, foi para casa.

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