Estava particularmente chateada com aquela guarita que chamava de casa, quase no subsolo da aldeia onde inúmeros experimentos em seu corpo eram realizados, enquanto observava tudo em silêncio, em especial os métodos que sua suposta mãe utilizava para que a menina alcançasse o ápice de seu poder, o nível máximo que seu sangue poderia atingir.

— Hoje iniciaremos o protocolo 4, vamos tentar desenvolver ainda mais seu poder de ilusão bem como sua velocidade a medida que essa combinação de força possa ser um requisito para que alcance grande poder de batalha.

Asami olhou para o rosto de Ai e apenas sorriu, um sorriso que dava nojo a cientista, como se um demônio felino estivesse pronto para atacá-la, o que era, na somatória de todas as possibilidades, assustador. É importante notar que Ai tinha diversas ferramentas para parar a criança Chinoike, inclusive, matá-la caso fosse necessário, assim, nesse sentido, Asami começava na desvantagem por não ter a técnica necessária para subverter a ordem em que estava imposta.

— Foda-se, não ligo para essa merda.

Essa era a maneira menos perturbadora de se dizer “sim”, sabia, entretanto que, na verdade, seu poder de escolha nunca existiu e aquela desordem que procurava causar nada mais era que conseqüência desse desejo particular. Queria por alguns segundos ter controle de sua vida, mas no fim, tudo o que resultou na sua existência foi um mar de acasos e a única coisa capaz de quebrar isso seria romper com a ordem pré-estabelecida e criar um novo conceito de realidade.

— Vamos fazer essa merda ou não? — perguntou — Existem coisas que ainda quero ver lá fora, sinto falta de me apaixonar por algo.

— Guarde seus pensamentos pervertidos pra você, a mim eles não interessam!

Asami sorriu corando o rosto, fingiu que aquilo não passava de uma brincadeira e guardou mais uma vez uma humilhação para si, seu coração palpitava mais forte, de ódio, rancor e contrariedade, aquela relação nociva estabelecida entre as duas chegava num extremo tão grande e caricato que qualquer observador externo gargalharia. O teatro estava formado.

— Comprei alguns pergaminhos ninjas e apliquei a uma lógica cientifica para aprendizado eficiente, assim não perdemos tempo com bobagens. É importante que você tenha consciência disso para dominar o máximo do que você tem e caso não consiga não servirá de nada esses anos todos.

— Não me subestime mamãe, minhas habilidades estão cada vez, como posso dizer? Intensas... Não quer dançar comigo hoje?

A cientista sorriu. O treinamento iniciou-se com a leitura e interpretação de pergaminho sobre genjutsu intercalando com a prática de controle de chakra. A idéia era misturar a teoria com a prática de maneira a criar um espectro maior de possibilidades na área. O manejo da Chinoike na arte da ilusão era notável e se desenvolvia cada vez mais a medida que o treinamento fluía, é importante ressaltar que, por mais que ela demonstrasse suas habilidades, sua mente se retorcia naquele passado latente, intrínseco a sua condição como ninja.

“É assombroso o nível que essa menina alcança em tão pouco tempo, creio que o treinamento físico possa demonstrar se os limites desse clã são apenas intelectuais ou ultrapassa isso.”

Deixou que a ninja continuasse seu treinamento até que chegasse a exaustão mental ao ponto de lágrimas jorrarem de seu rosto, como se as ilusões produzidas, mesmo que na teoria, fossem lançadas contra ela, a Chinoike vomitou, mas seu nível de habilidade havia aumentado. Mais uma vez engolia a humilhação de se conviver com aquela cientista maluca.

— Levante-se Asami-chan.

Asami a olhou por cima, ainda para sobre seu vomito, a feição era de um demônio encurralado pronto para matar.

— Não ouse me chamar assim de novo...

— Nesse estado e ainda é capaz de manter a prepotência, lamentável.

A menina pensou em lançar sobre sua mãe uma ilusão que permitisse que ela eliminasse aquela forma de existência medíocre, mas se conteve e permitiu-se o silêncio.

— Faça o que tem de fazer — disse a menina se levantando — qual a próxima etapa? — concluiu.

— Iremos treinar sua força ou velocidade, decidi pela força, de maneira a ver as influencias de seu clã no aprendizado de técnicas físicas, porém, pelo que tenho teorizado, esse seu sangue se limita a uma habilidade incomum em genjutsu.

— Que seja!

Levantou-se e iniciou um módulo de treinamento de velocidade. Assim como o outro, misturou teoria e a prática, porém, a forma que se deu o treinamento foi mais extenuante do que a própria menina pensava que seria. Em muitos dos momentos pensou em chorar, enquanto sua perna se redobrava de dor na mesma intensidade de que os dias se passavam.

— Isso é tudo Asami-chan? Patético... — a mulher riu, observando a menina caída ao chão, respirando com dificuldade e se levantando, pronta para iniciar aquela exaustiva forma de treinamento.

E assim ele continuou, o treinamento tomava quase quatro horas do dia da menina, ela mesma quase não tinha tempo pra comer e, durante o processo, chegou a perder alguns quilos. Sua feição cada vez mais apática demonstrava que a dedução de Ai estava correta, a excepcionalidade dos Chinoike estava apenas no campo de vista do genjutsu e não físico.
— Pelo que calculei até agora, sua velocidade tem aumentado constantemente, contudo, do ponto de vista cientifico, o peso desse treinamento tem sido maior até mesmo daqueles pergaminhos que você tem maior dificuldade para aprendizado.

A menina a observou resiliente, caiu no chão inconsciente, o treinamento serviu ao seu propósito e, no fundo, a dor do coração de Asami só havia aumentado.

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