Estava um pouco entediada e decidi sair de casa, era um dia questionável para passear, o céu nublado não parecia que iria derrubar suas gotas tão cedo, o vento leve e frio que se mantinha soprando no topo de Kumogakure era agradável, aquela sensação da brisa batendo no rosto e movendo o cabelo nunca cessava de me rejubilar, mantive um passo acelerado até o campo de treinamento, donde havia um rochedo alto próximo a beira do desfiladeiro, e lá que eu escalaria e ficaria sentada, com as pernas cruzadas absorvendo o clima.

Me mantive de olhos fechados aproveitando a natureza com um bom tempo, quando o vento subitamente se tornou mais gélido, a sensação se tratava do anúncio da chuva, talvez houvesse estendido minha estadia, porém agora não adiantava correr em busca de abrigo, a água no final é apenas isso, água.

A chuva começava a cair sobre minha pele, causando pequenas contrações nos primeiros contatos, simplesmente erguia minha cabeça ao céu e deixava-me banhar pela tempestade que se sucedia, abrindo os braços e a boca, abri os olhos e percebi que o ritmo da água aumentava gradualmente de modo agressivo, as nuvens escuras estavam bem carregadas, olhei ao horizonte a vista, era algo magnífico.

A vista não se estendia muito, nem mesmo para meus olhos aguçados, a neblina e chuva intensa criavam uma barreira natural da qual diminuía a visibilidade, sombreados e semblantes dos picos que se estendiam eram percebidos de maneira distorcida, formando imagens diferentes a cada momento que a chuva dançava, o vento fazia desenhos com a água enquanto ela mudava o horizonte. Já encharcada, decidi me levantar, esticar um pouco as pernas enquanto erguia os braços aos céus, o vento forte e chão molhado podiam apresentar perigo para alguém descuidado, e era por isso que mesmo relaxando, não ficava desatenta.

Foi então que o primeiro brilho se alastrou entre as nuvens escuras, cortando rapidamente em uma bifurcação e atravessando os céus, nem mesmo o som conseguía competir com a velocidade da luz, o clarão criado pelo raio era visto muito antes de chegar aos meus ouvidos, e aquela tempestade estava completa, um sorriso se abriu em meu rosto sem que percebesse, fazia tempo que não simplesmente apreciava o que o mundo já havia me provido.

Observar o comportamento dos raios eram tão atrativo para mim quanto manter o rosto erguido em um vendaval, tão misteriosos e poderosos, conseguiam partir os céus em um calor imenso, eletrificando o local que atingiam e ao mesmo tempo causando um estrondo poderoso, começava a imaginar se algum dia seria capaz de produzir aquelas belezas com meu Raiton? Não era muito apta em Ninjutsu, mas a ideia me apetecia e servia de combustível para talvez futuramente treinar mais minha capacidade.

Fiz alguns selos, em uma tentativa de brincar com os céus, utilizaria um cão elétrico para pular do penhasco e atingir o solo distante de mim, como se eu mesma estivesse criando relâmpagos, contudo meus dedos escorregavam de maneira que acabei errando a parte final, e uma forte brisa em atingiu, quase me derrubando.

Franzi o cenho e olhei em direção de onde havia me atingido aquela corrente, era de uma fonte diferente da tempestade, estranhei aquilo e comecei a buscar em minha volta, sem compreender como o vento havia mudado sua direção de maneira tão brusca sem eu perceber; "Talvez eu simplesmente tenha resvalado." Pensei, enquanto decidia que era hora de sair dali, não havia chance para um humano de competir com os céus.

Enquanto me virava para descer, mais um clarão se estendeu no céu, como se me instigasse a continuar e provar meu valor — Ao menos era o que eu acreditava — E decidi dar mais uma chance, realizando os selos e criando o jutsu, de maneira banal ele caiu sem qualquer clarão ao fundo da ravina, contudo um som alto parecia se prover de minhas ações — Mesmo que fosse apenas mais um trovão distante.

Com um sorriso de satisfação, decidi sair, ao pular de onde estava, uma corrente forte me acertou, arremessando meu cabelo para o lado e erguendo minha camisa, pondo os pés no chão sentia que até mesmo o vento desejava brincar comigo, e fui em sua onda, porém não havia nada compatível para lhe oferecer, então que me veio a cabeça, ninjas possuem duas naturezas, eu nunca havia testado algo além de minha afinidade. Havia uma chance mínima, todavia real de que aquele baque de ar que me atingiu havia sido criado por mim mesma, refiz meu Jutsu elétrico, agora propositalmente errando o último selo, e a minha frente duas correntes de ar se chocaram, criando um vórtice momentâneo antes de ceder e vir em minha direção — É claro, não havia como vencer a natureza.

Ainda sim, felicidade enchia meu coração, além de confirmar que minhas habilidades continuavam a avançar de maneira rápida, havia sido abençoada por um dos elementos que mais me apaixonava, e de maneira infantil comecei a pensar em como poderia combinar os dois, talvez conseguisse afinal me comparar, nem que de maneira pequena, a uma chuva de outono.

Passei meus dedos na terra úmida, pegando um montante de lama em minhas mãos e apertando entre meus dedos, deixando escorrer enquanto a água levava embora, havia tanto no mundo que eu não sabia, e ainda sim, tanto dentro de mim fora de meu conhecimento.