Mais uma vez Mary permitia a entrada de Heshikiri em sua casa e vida. Na sala de estar observa o garoto completamente sujo de sangue, em sua mente poderia imaginar mil e uma coisas para explicar o porquê dele está daquele jeito, mas sabendo que ele é um shinobi a razão só pode ser uma, assassinato. Sem falar uma palavra utilizando o polegar aponta para a direção do banheiro, o jovem ferreiro de respiração pesada apenas acena com a cabeça  e diz: – Obrigado.– Sua voz está baixa e desanimada, caminha vagarosamente sem encostar em nada para não sujar. Devido a casa ser pequena não demora nada para chegar no banheiro e se despir, toma banho com o chuveiro e logo em seguida enche a banheira e ficar de molho. Aquele lugar simplório é um dos mais confortáveis que esteve na vida, se sentindo acolhido por aqueles que lá residem.

Evitando que seus pensamentos se concentrem em lembranças tortuosas e nada produtivas, põe em mente sua intenção inicial ao ter saído de casa mais cedo, produzir um novo equipamento de auxílio em combate, das ideias que bolou naquele banho a que mais chamou atenção foi de uma luva, onde não só impactaria nas suas defensivas como também em possíveis contra golpes com um mecanismo em particular. Sua empolgação crescia exponencialmente a medida que imaginava suas utilidades, porém esbarrou em com complicação, para o manuseio perfeito de tal aparato seria necessário um domínio maior em suas técnicas com o elemento vento. Logo escuta batidas na porta que se abre facilmente, a mulher fita ele deitado naquela banheira com uma expressão de concentração, faz um barulho com a boca como de quem coça a garganta e fala em seguida: – Achei que ia dormir aí, está demorando demais. Você demorou demais, Odatta me falou que viria mais cedo. – Com a linha de raciocínio cortada Heshikiri olha para Mary e com o tom de voz restaurado diz: – Desculpas pela demora, tive alguns imprevistos. – A Mestra de Forja bufa e leva uma das mãos ao seu rosto parecendo irritada. – Bem, não deveria está aqui a essa hora, sorte sua que minha filha foi passar o dia na casa dos avós. Você vai poder dormir no quarto dela, mas sem bagunçar nada viu. Vou trazer alguma roupa para o folgado se vestir. – Ela se retira da porta do banheiro e em pouco tempo volta com algumas vestimentas, joga em cima da pia e sai ao falar: – Trate de dormir logo, sabe de que horas eu quero que você esteja pronto. – O jovem Kamishiro observa ela partir.

Cinco horas em ponto, as fornalhas começam a esquentar e embora o salão fosse fechado, podia sentir aquele clima frio de preguiça da madrugada. O silêncio é cortado com um bocejo arrastado e longo, o jovem ferreiro realizava alguns exercícios de alongamento, algo que já tinha tanto costume que era estranho não fazer. Desenhava em uma folha o modelo que seu próximo equipamento teria, tendo dificuldades em elaborar a maneira como o mecanismo funcionaria. A maior limitação era no material que iria utilizar, precisava ser fino, resistente e volátil, três elementos difícil de encontrar juntos. Outra dificuldade era alocar esse mecanismo de forma que não aumente muito o peso ou perca força quando projetado. Sete em ponto Mary desce para o salão de forja, lá encontra o maquinário preparado, no balcão um garoto frustrado arremessando esboços no lixo. Vagarosamente ela se aproxima perguntando: – Não me diga que não dormiu? – Chega ao lado de Heshikiri e olha o que ele desenhava, passa um tempo observando aquela criança que estava tão centrada ao ponto de não a ter escutado, apontando para o esboço das fibras ela diz: – Ideia interessante para um equipamento como esse, mas sabe que a precisão e alcance não serão muito bons. –

Sem desviar seu olhar da folha de papel o Samurai largar o lápis e fala – Primeiramente bom dia Mary, sobre seu comentário vale ressaltar que sou um shinobi. – Dá uma pequena pausa é vira sem rosto para ficar cara a cara com ela, ergue um pouco as mãos e começa a movimenta-las graciosamente, uma pequena ventania se forma e mal balança a folha em cima do balcão. Mary solta uma risada aguda e contida, logo profere com tom de deboche: – Quase desfaz meu penteado com essa brisa. – Um pouco envergonhado ele olha para suas mãos e nota que nunca deu o devido valor a sua natureza elemental, algo que culminou nessa inabilidade mostrada agora. Abruptamente se leva da cadeira e levando as mãos aos seus cabelos dá um nó duplo no mesmo. – Eu domino em partes, mas você tem razão. Não tenho a maestria adequada, porém já sei o que fazer, Odatta-tono vai pode me auxiliar. – Vai em direção a saída falando: – Já preparei a maquinaria, volto ainda hoje. – E saí do lugar.

Seus passos são apressados, porém cuidadosos no intuito de evitar esbarrar em alguém. Não tinha muito costume de andar tão cedo assim de manhã, por isso sempre era uma surpresa a quantidade de pessoas que encontrava nas ruas nesse horário. Passando pelo portão da vila começa a correr com mais velocidade, tão rápido até mesmo para a maioria dos ninjas, sua necessidade de chegar logo em sua moradia se dava a ânsia em continuar a fabricação do seu equipamento, principalmente enquanto a ideia ainda estava fresca em sua mente. Passava pelos portões da residência e abria abruptamente a porta da frente, a mansão é enorme e encontrar Odatta seria no mínimo trabalhoso. Todavia dessa vez não foi difícil de achá-la, assim como em sua primeira manhã naquela residência a mulher observa o local onde realizou seu primeiro treino, o pequeno lago artificial com pedras e bonsais de decoração.


Sua pressa era facilmente notada, passos rápidos e curtos alertando urgência, despertando a curiosidade da kunoichi. Mesmo após toda essa corrida o garoto não demostrava cansaço e nem sequer suor, para por um instante e sua respiração se acalma, as palavras que saem de sua boca soam tranquilas: — Preciso que me ajude com Ninjutsu, não os regulares, busco um melhor controle sobre minha afinidade elemental. — Ela estava com seus braços apoiados em um corrimão de madeira avermelhada com aspecto envelhecido, seu busto ganhava um destaque de chamar atenção daqueles que se atraem pelo gênero. A solicitação de Heshikiri a intrigava de certa forma, são raras as vezes que ele demostra necessitar de outra pessoa, a última vez o levou a conhecer Mary e foi por conta disso que vem novamente a pedir ajuda de sua anfitriã.


Os olhos de Odatta sempre pareciam querer intimidar a medida que buscam intimizar aqueles que os olham diretamente, boa parte do tempo demostra um sorriso malicioso e dissimulado, suas palavras saem macias e com um tom audacioso, todo um espectro moldado ao longo dos anos para que pudesse tirar proveito ao máximo de todos os seus atributos. Expressando todas essas características responde ao shinobi: — Você anda bem… necessitado ultimamente meu pequeno garotinho dourado. Mas vendo essa carinha fofa eu não consigo recusar, porém não entregarei isso de bandeja. — A mulher que havia voltado seu olhar para o jovem ferreiro, volta a encarrar aquele cenário natural cercado pela construção moderna que é sua casa. Sem mudar seu tom de voz leve e macio, continua: — Assim como eu você anda bem ocupado recentemente, sabe como fiz para me aperfeiçoar continuamente mesmo sobre uma enorme carga de tarefas? Eu realizava um pouquinho de cada ao mesmo, sei que você assim como todos os jovens quer tudo logo de uma vez. Mas posso te garantir que assim que conseguir conciliar múltiplas em seus afazeres, seu leque de possibilidades vai se expandir exponencialmente. ─ Uma pequena pausa é dada, nesse tempo é capaz de ouvir o som de um peixe pulando fora d'água. — Pense bem no que eu falei. — Ela desencosta do corrimão, quase se instantaneamente um mordomo aparece ao seu lado, ambos começam a caminha vagarosamente em direção a um corredor, enquanto isso ela solta as palavras finais: — Tenho que cuidar de um assunto importante agora, não fique muito tempo fora de casa. — Ambos param em frente a uma porta e após a identificação da retina de Odatta, a porta de abre e eles adentram, a mesma fecha logo em seguida.


Com esse dialogo unilateral Heshikiri volta a ficar sozinho naquele lugar, pensando em tudo o que Odatta-tono disse, o chunin como uma bola de Pong saí do local novamente em direção a casa de Mary, assim como anteriormente sua mente borbulha ideias.

Dessa vez ia em um caminho diferente em direção a vila, era bem mais longo e passava por dentro da floresta onde conheceu o seu mestre Samurai. As palavras de Odatta-tono sobre a pluralidade de afazeres o fez notar o obvio, assim como o seu treinamento com espadas, para poder dominar o vento da maneira que deseja deve fazer o mesmo, exercitar sua técnica. Havia uma certa facilidade em adquirir prática com o Fūton, além de  já possuir uma conexão com o elemento, o garoto obteve muita familiaridade em utilizá-lo através dos selos, principalmente em sua última empreitada a qual pode testar a flexibilidade do Fuinjutsu, pôde exercitar bastante suas habilidades com o vento.


Pulando entre as árvores fazias seus galhos balançarem um pouco igualmente os cabelos ondulados do garoto, a ventania começava a se tornar cada vez mais forte. O ritmo que ele saltava e a direção aparentemente pareciam ser aleatórios, chegando até mesmo em algumas ocasiões ir mais alto que as plantas. Porém sua finalidade era mais complexa do que aparentava, sendo o objetivo do shinobi cortar ao meio as folhas das árvores a qual ele se aproximava, o seu exímio controle de chakra ajudava a direcionar a conversão e os movimentos realizados pelo seu corpo ajudava ainda mais, tornando uma união em perfeita sintonia entre ninjutsu e taijutsu. Normalmente levaria minutos até chegar a vila, dessa vez foi necessário algumas horas até que finalmente pudesse cortar – mesmo que de maneira rústica – todas as folhas das árvores em que se aproximava.


O caminho até a casa de Mary foi bem mais rápido e apressado, com uma ânsia tão grande que mesmo indo mais rápido o caminho pareceu mais longo. Chegando ao portar simplesmente bateu palmas ainda manipulando chakra, o som pareceu se propagar mais rápido e em uma distância maior devido a pequena lufada de vento que foi gerada com a aproximação de suas mãos. Sem demorar a mulher de belos cabelos cacheados abre a porta e vai em direção a grade de aço permitindo a entrada do ferreiro noviço, observando atentamente a impaciência do garoto que sem soltar uma palavra adentrou em sua casa e foi direto em direção ao Salão de Forja. O balcão onde ele estava mais cedo estava imaculado, na verdade do o lugar não havia tido alteração alguma, ele imagina que Mary deve ter procrastinado bastante. Colocando os equipamentos de proteção inicia então o processo de produção, começando com as placas de metal que formariam a parte externa do seu equipamento, já deixando em um forno as mesmas ligas de aço que faria para juntar a peças, utilizaria com um processo de têmpera mudar suas propriedades para que assim se torne os cabos perfeitos para os itens que se tornariam uma espécie de projetil. Como da outra vez não iria descansar até terminar.

Dessa vez possui uma prática melhor, todavia esse equipamento é em aparência mais rústico que o produzido anteriormente, sendo a verdadeira dificuldade a produção de seu mecanismo. A parte do forro o garoto costurou e terminou o preparo utilizado pele cozida e um polímero poroso, resistente e incrivelmente confortável, seguindo da cota de malha. O material utilizado para costurar era bem similar ao que utilizaria para fazer os cabos ligados a barbatana. O trabalho manuel dessa vez é predominante e quase como relaxante, estava pegando o gosto da coisa e utilizando como distração. Sendo o único trabalho pesado foi moldar e preparar as placas de aço, para dar a coloração escura ao metal e prover até mesmo uma maior resistência ao material, aplicou uma mistura de ácidos na superfície do material e então deixou em uma capela de exaustão por várias horas. Realizou em paralelo as etapas de produção de cada parte, assim quando terminou de fazer toda a parte interna das luvas, ficou para o final apenas juntar as partes e liga-las com os cordões. As barbatanas foram um tanto complicadas, pois tinha que haver um balanço no quão seriam afiadas, desta forma diminuiria as chances de possíveis acidentardes no dia a dia. Quando finalizou a produção e acabamentos já havia se passado um dia e uma noite, Mary ia ocasionalmente ver como estava o processo e caso notasse alguma irregularidade ou forma de agir melhor, ela dava um toque e assim a cada instante o garoto ia ganhando conhecimento sobre a profissão escolhida.


Ao terminar Heshikiri estava extremamente satisfeito com o trabalho que havia feito, sendo aquelas luvas de uma qualidade bem mais elevada que a de sua espada. Sentia a fadiga de todo o trabalho, mas estava animado demais para repousar, necessitava testar o mecanismo, buscar por falhas e ainda tentar manipular da maneira imaginada. Entretanto na casa de Mary não havia lugar algum para testar os itens produzidos, algo que o shinobi acha bastante estranho para alguém a qual sua forma de sustento é a produção de armas. Assim como seu primeiro item, utilizando um saco de couro guardou as luvas e partiu em direção a mansão de Odatta-tono. Utilizando ainda as roupas suadas caminhava para a saída da casa de Mary, assim que ele abre a porta a mulher lhe chama a atenção: — Ei! — O garoto se vira e fita os olhos dela que continua: — Essa não é a melhor forma de lidar com as coisas, direcionar suas preocupações em tarefas e afazeres pode funcionar por um tempo, mas o problema vai continuar lá. Só quero que saiba que caso precisar de algo além disso pode vir falar comigo. — Heshikiri serrava os olhos e pensava no que ela tinha dito a respeito, era estranho a forma como ela falava, era algo pessoal demais para simplesmente ser lançado com palavras assim ao vento. É então que algo raro acontece, ele olha para o lado e baixa um pouco a cabeça decido a relevar o que lhe foi dito. — Desculpa, mas acho que você está cometendo algum equi- — Antes que pudesse continuar ela toma a vez da fala: — Não evite isso, você sempre vem de forma abrupta aqui e passa horas concentrado só em seus afazeres. Isso claramente é uma válvula de escape, não me importo que negue. Sei que apesar de jovem você pode suportar o peso do que é que te aflija, mas vai por mim, é bem melhor se livrar de qualquer carga e viver livre. — O silencia se instala naquela sala, Mary encara Heshikiri enquanto ele evita olhar diretamente para ela. É então que o garoto se expõem um pouco mais dizendo: — Eu sei do que está falando, mas o peso sobre meus ombros é o de uma nação inteira. Algo que somente eu posso fazer, porém sou mais que lucido de que não farei sozinho. — Volta a olhar para ela e prossegue: — Volto a afirmar que está equivocada, nada que eu faço é uma válvula de escape. Tudo, absolutamente todas as minhas ações seguem um curso e mesmo que as vezes acabo me deleitando do que estou fazendo, meu foco é apenas uma coisa e nada poderá me desviar disso. — Logo a cumprimenta baixando um pouco a cabeça enquanto diz: — Agradeço a sua preocupação, mas tenho que me retirar. Até outro momento. — Saí da casa e passa pelo portão enquanto a Ferreira apenas o observa se afastar, confusa sobre tudo o que ele falou a pouco tempo.


Chegando a mansão de Odatta-tono, vai direto em direção a sua sala de treinamento. Colocando as luvas e sentindo o peso, realiza alguns movimentos para se acostumar com o equipamento. Sem demora decide testar o lançamento das barbatanas, aponta para um dos bonecos de treino e fechando bem os punhos aciona o mecanismo acertando em cheio. Todavia é agora que se começa o verdadeiro testes, concentrando chakra no ambiente ao seu redor o vento começa a se movimentar mais rápido, é então que mesmo lançando as barbatanas de uma das luvas em direção perpendicular ao do boneco, utilizando o vento ao seu redor muda a trajetória e ainda assim atinge o alvo. Sentia nesse momento que suas habilidades do o Futon havia chegado a um novo patamar.