Já se tinham passado alguns dias desde que vi o significado de desespero em frente aos meus olhos, ainda não tinha passado tempo suficiente para eu colocar esse turbilhão de sentimentos em ordem, as mazelas físicas e sobretudo psicológicas ainda estavam bem presentes dentro de mim, mas esse acontecimento está e vai ficar guardado comigo.

Eu já conseguia fazer vida normal, quem olhasse para mim nem percebia que eu tinha passado por um teste que me tinha levado ao extremo, e numa volta que dei à Vila fui parar até ao portão, não tinha qualquer objetivo em estar ali, estava apenas a observar os arredores. Uma dezena de metros à frente do portão, estava uma personagem parado, contemplando a entrada da Vila, por momentos comecei a mirá-lo, e o aspecto duvidoso dessa pessoa me fez imediatamente despertar a atenção, provavelmente ele não estava à espera de encontrar muita resistência logo à entrada.

De um momento para o outro, o suspeito começa a iniciar uma corrida em direção à floresta, essa atitude bastante suspeita fez com que os guardas olhassem para mim de lado e acenassem positivamente com a cabeça, eu imediatamente percebi, eles queriam capturá-lo vivo e perceber quem era, o que estava ali a fazer e quais eram os seus objetivos. Imediatamente comecei a correr à máxima velocidade onde adentrei pela floresta. Durante vários segundos eu mantive-o dentro da minha linha de visão, mas ao mínimo piscar de olhos, percebi que ele tinha desaparecido. - Aonde ? - pensei.
A meio da minha correria, numa velocidade e agilidade incrivel, o suspeito reaparece ao meu lado, desferindo um pontapé bem na região do meu peito, o que me fez cair imediatamente no chão a uma velocidade descomunal onde fui parar no meio de uma clareira. Foi nesse momento que percebi que teria muito provavelmente de o enfrentar.

Já fazia muito tempo em que eu não tinha uma espécie de missão destas, correr atrás de alguém que quer fugir faz com que qualquer pessoa sinta a típica injeção de adrenalina, os momentos de silêncio e concentração fizeram com que as minhas batidas cardíacas disparassem, o que fez acontecer algo que já era prevísivel acontecer. Durante alguns segundos senti toda a adrenalina a percorrer dentro do meu corpo, e mal dei conta, a marca que eu tinha na minha nuca começou a ter um comportamento que já teve antes, começou a liberar chakra negro pelo meu corpo, tal como já tinha feito antes. - Agora não... - pensei, desesperado.

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Na situação em que eu estava, somente um milagre poderia me salvar, eu já tivera bastante sorte quando saí vivo do laboratório depois daquela estadia maligna, e sentia-me grato por isso, porque por momentos senti que podia esvanecer e levar com isso todas as minhas esperanças e sonhos. E aqui estava eu novamente, tal e qual como no laboratório, sozinho, isolado, e entregue à minha própria sorte, aqui, era eu que fazia o meu destino, ou me esforçava e lutava contra a marca ou então sucumbia à sua força.

Em momentos de dor e pânico, havia uma voz dentro da minha cabeça, macia e venenosa: - Se entregue... - pensei que poderia estar a alucinar, a única coisa que me passava pela cabeça era que parte do meu sub-consciente já estaria afetado pelo chakra que envolvia o Juin, que me tolhia os pensamentos e a racionalidade, isto era só a ponta do icebergue, passei muito pior no laboratório, ilusões, bastantes ilusões e sintomas físicos indescrítiveis, mas algo me fez pensar que não seria hoje...

Sim, não seria hoje que eu morria, de longe, começou a caminhar em minha direção alguém, o brilho do sol refletia nas roupas brancas, e por momentos pensei que era um anjo, devia ser mais uma das minhas alucinações, mas para o meu espanto, quando a pessoa se aproximou de mim, dirigiu-me algumas palavras: - Está tudo bem, ou sou uma médica, precisa de ajuda, me siga, vamos para um local mais aberto e estéril. - as suas palavras pareciam música nos meus ouvidos, quem diria, eu ali abandonado e em vias de morrer, seria ajudado por um estranho, quem poderia imaginar uma solução melhor para os problemas ?

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- Noku… Noku… pode vir Noku, trouxe comida - a jovem, que estava a alguns metros afastada, comecei a falar num tom calmo e meigo. As minhas atenções rapidamente viraram para ela.
- O que é que está a fazer ? - num tom apreensivo e desesperado.

À minha frente saiu de um arbusto um homem, bufava que nem um cão, e mostrava os dentes que nem um tigre, a sua expressão demonstrava agressividade, sem dúvida eu iria ser alvo de um ataque. Por alguns momentos senti o meu coração a disparar e a adrenalina a fluir pelas minhas veias, sabia que estava numa situação de vida ou de morte, mas não era a minha intenção morrer, não daquele jeito.

Eu já tinha pensado em algo, não era o tipo de pessoa que ia ficar parado na esperança que alguém aparecesse, eu tinha os meios, os conhecimentos, e sabia que ainda tinha alguma palavra a dizer, e sobretudo, sabia que se tivesse em boas condições nem a jovem nem o .. cão estariam aqui, pelo menos vivos.
Esperei alguns momentos, enquanto sentia a inércia dos meus membros superiores, selos ? Era impossível fazê-los, mas isso não me incomodava, eu treinava todos os dias para nestas situações eu ter os meios para sair vivo e inteiro, e por isso, enquanto que o homem se aproximava de mim, eu olhava atentamente para ele, olhava diretamente nos olhos, se o seu rosto expressava agressividade, os meus olhos expressavam ódio, costumam dizer que os olhos são o espelho da alma, e se isso é verdade, o homem se afastaria de imediato, mas nao foi isso que aconteceu

O homem correu até mim, assim que percebi isso, fechei os olhos, e o mais rápido possível, concentrei chakra Raiton por todo o meu corpo, pelo menos pelas partes que ainda estavam "vivas", chakra suficiente para ser possível ser visto ao olho humano, e dado a quantidade de chakra que fluía através de mim, uma descarga enorme iria acontecer, em muito pouco tempo e num constante fluxo de chakra Raiton, usei uma das técnicas que eu gostava, aquilo que a médica não sabia era que eu não preciso de selos para conjurar técnicas desta natureza, e por isso, durante largos segundos, o meu corpo estava a emanar chakra Raiton, o suficiente para que quando o homem se aproximasse de mim, seria eletrocutado, causando uma possível morte ou paralisar os seus músculos.

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Não era o tipo de pessoa que necessitava constantemente da ajuda dos outros, desde muito novo me tornei autosuficiente dentro dos possíveis, não esperava por ajuda nem tampouco gritava por ela, desejar que alguém me ajudasse ? Talvez isso tenha passado pela minha cabeça, mas nesta vida não existem histórias com finais felizes, quando decidi por esta profissão sempre soube dos riscos que poderia correr, e sabendo disso que me empenhei afincadamente para saber lidar com este tipo de situações. Os frutos dos meus conhecimentos tinham dado frutos, provavelmente uns anos atrás e eu já estaria morto, numa situação destas, eu teria gritado com todo o ar existente nos meus pulmões, mas agora, a minha única preocupação é manter-me calmo, sim, o pânico resultaria em decisões erradas e isso era precisamente aquilo que eu queria evitar. Apesar do homem-animal estar no chão se contorcendo de dores, eu sabia que continuava em perigo, era um alvo fácil naquelas condições, apesar de eu conseguir conjurar técnicas sem uso de selos, isso só me levaria até certo ponto, se algum mal-intencionado decidisse terminar comigo ali pouco ou nada poderia fazer.

Os meus braços estavam dominados pelo juin, pouco ou nada fazia com eles, e sem os meus braços as minhas chances de me libertar destas amarras eram praticamente nulas, aquilo que eu poderia fazer era ter um pouco de esperança, e que no meio de tanta falsidade que a jovem demonstrou, algum "anjo" apareça por aqui.
Foi com alívio que percebi que a médica se tinha ido embora, contudo, não poderia ter garantias que ela não voltasse, pior, voltasse com outras pessoas com intenções parecidas com ela, mas após ter evitado ser devorado vivo, sinto as minhas batidas cardíacas irregulares, era o veneno que ela introduziu no meu corpo a fazer efeito. Pouco ou nada sabia sobre veneno, não sabia como criar uma cura, não sabia identificar o tipo de veneno, até poderia ser mortal e eu não saber.

Os sintomas do veneno aliados ao efeito do selo amaldiçoado formaram uma combinação explosiva, eu me esforçava para conter o avanço do mesmo, mas o veneno atacava a minha fisiologia, por mais que tentasse, o juin continuava a sua progressão conquistando o meu corpo, a menos se alguém aparecesse, eu não sei o que me poderá acontecer.

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Estava mergulhado na escuridão e não havia ainda luz ao fim do túnel. Só sentia desespero e medo, transpirava suor frio e engolia a seco, o meu corpo inteiro tremia e eu apenas conseguia assistir como se fosse um teatro, quase não conseguia me mover e ainda estava amarrado, nos arredores apenas a natureza via a minha desgraça, provavelmente estariam me zombando, por momentos pensei: - Que fiz eu para merecer isto... - o desespero tomava conta de mim.

Aos poucos e poucos o selo continuava a avançar, e atrás de mim comecei a ouvir movimento, o animal que tinha me atacado estava a recuperar os sentidos outra vez, não tardaria e ele estaria de pé novamente e eu entrava novamente numa situação de perigo, isto aliado à força do juin, teria de ter uma força de vontade enorme para controlar ambos, afinal, parte do meu corpo estava imobilizado. O veneno que tinha sido injetado no meu corpo, não sei como, estava deixando de fazer efeito, de venenos eu nada sabia, mas calculei que fosse um dos inofensivos, provavelmente só para me deixar inconsciente e fraco durante algum tempo, e isso de alguma forma me acalmou, mas não durou muito tempo, o animal começou a erguer-se e eu começava a sentir ele a bufar, parecia que apesar do choque a sua agressividade ainda permanecia intacta, olhei para ele no canto do meu olho e reparei que começou a fitar-me, provavelmente ainda achava que eu servia para uma refeição, mas mal ele sabia que não eram as minhas intenções eu ficar ali, apesar de não ser um mau local para morrer, eu ainda estava no início da minha vida.

Com os dentes cerrados e com toda a força, não física mas espiritual, fiz aquilo que dizem para se fazer quando o resto falta, acreditar em mim mesmo, dizem que a força de vontade é algo inestimável, poderoso aliás, e foi nisso que me agarrei para controlar o selo, o juin estava com tanta fome como o animal, queria possuir o meu corpo por completo, a questão era: O juin é mais forte que eu ?

Era isso que ia começar a provar a mim mesmo, estava na hora de pela primeira vez na minha vida eu acreditar em algo que me ultrapassa, e fiz todos os possíveis, reais e imaginários para impedir que o selo avançasse, e enquanto sentia o ardor que o juin proporcionava notei que ele parou a sua propagação, e enquanto isso o animal continuava a fitar-me, será que as intenções dele permaneciam iguais ? 

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Por momentos considerei que eu era incapaz de controlar uma força semelhante a um juin. Eram bastante vantajosas aquilo que trazia para uma luta, mas a certo ponto questionei-me até que ponto. Durante largos minutos senti o meu juin completamente ativo, como se fosse um vulcão em erupção, bombardeando quantidades de chakra enormes para o meu corpo, e à medida que isso acontecia cada vez menos sentia a dor e o constrangimento que isso me proporcionava, notei que o meu corpo estava totalmente escuro, tinha criado apêndices e outras partes do corpo brotaram, tal e qual como eu tinha visto no laboratório quando adquiri o selo. Será este o estágio final do juin ?

Enquanto estava nesta forma senti pouco desconforto, era como se não tivesse passado por um processo invasivo mas algo que era inerente ao meu próprio corpo, e durante alguns minutos contemplei-me desta forma, aquilo que sentia era exatamente aquilo que me tinham dito no laboratório, a minha fisiologia nesta forma estava superior, tinha mais reservas de chakra, sentia-me imponente por ter dominado algo que causou a morte a muitos outros.

Ao fim de algum tempo estava a tentar acostumar-me a estar nesta forma, agora, a minha vontade seria voltar á forma humana, e como um clique no meu corpo, a minha vontade bastou para recuar o juin e por no seu devido lugar, estava novamente na minha forma humano. Olhei durante alguns segundos para o meu redor, tentando descobrir a minha posição, eventualmente, acabo por dar com a vila, onde me dirijo até casa.

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