Passei por um período em que encontrava verdadeira dificuldade ao levantar cedo, mas, depois que me acostumei com as novas atividades em que estava engajado, me programar para acordar antes do que deveria se tornava gradativamente mais fácil. Kanae, minha mãe adotiva, não se importava em me impor regras sobre mim; talvez por eu ser fácil de lidar, talvez por eu na verdade estar numa posição familiar hierárquica teoricamente superior à dela, ou talvez pelo humano sentimento em seu íntimo de que não era minha verdadeira mãe. Pela combinação destes sentimentos, é digno de nota, que eu fazia questão de tratá-la com o maior respeito que era capaz de demonstrar, elevando-a constantemente e relembrando-a de que era minha superior. Sinto que, vez por outra, nosso relacionamento é agradável e, por este motivo, continuava me impulsionando a manter as formalidades cordiais.

Aparentemente, ninjas de meu nível tinham uma determinada quantia de missões que éramos aptos (e autorizados) a realizar semanalmente e, já que trabalhei duro nos últimos dias, descobri que já havia esgotado minha cota da semana. Perguntei-me, portanto, se teria de me manter parado e inerte até a próxima semana, aguardando com impaciência até que chegasse. Decidi que, independente das permissões dadas ao meu cargo, não me manteria acomodado. Recebíamos, de acordo com nossas aptidões, uma espécie de ficha ninja, esta que por sua vez categoriza todas as vertentes ninja que são utilizadas em combate, quebrando-as em números que são atribuídos aos ninjas para que possam melhor organizar a discrepância em habilidades dentre os vários guerreiros que tinham de administrar. Não custaria nada, portanto, ver o que eu poderia fazer para melhorar meus pontos fracos.

Ao ler minha própria ficha, ficou evidente algo que perturbou-me assim que notei; considerava-me um ninja razoavelmente rápido e ágil, e, mesmo assim, não recebi virtualmente nenhum ponto no atributo mencionado. Talvez não fôssemos avaliados individualmente, mas sim fosse feita uma média de cada atributo para que então, através duma comparação individual com esta média, nos fosse atribuído um número. Talvez mesmo que eu fosse rápido, portanto, não era rápido quando posto em comparação com os demais ninjas da vila. Independente dos motivos, a realidade é que eu era considerado devagar e decidi que mudaria isto nesta mesma exata semana. O sistema de treino que elaborei para melhorar minha velocidade era simples o suficiente, mas ao mesmo tempo melhoraria tanto meu conhecimento geográfico quanto o atributo em questão. Com um contador sendo disparado no momento em que eu começasse a corrida, compararia cada volta em determinada área da aldeia e com a velocidade que eu fosse capaz de fazer, não cessando os treinos assim que diminuísse pelo menos dois segundos. Assim o planejei e assim o executei. Não pareceu uma tarefa difícil, afinal de contas.

O mais recente treino de velocidade não foi tão difícil, afinal de contas. Chegar em casa completamente ensopado de suor não foi muito agradável, apesar de que o rosto de Kanae-sama quando viu meu estado foi irrefutavelmente interessante. Por efetuar uma corrida de longa distância ao redor da vizinhança, pude melhor conhecer as redondezas que circundavam minha casa também. Não achei muito agradável, fatidicamente, o fato de que meus vizinhos me viam exaurindo-me fisicamente por aí, portanto, talvez por capricho ou falha de personalidade, não faria aquele percurso novamente. O treino, entretanto, foi completamente proveitoso e iria repeti-lo. E assim o fiz. Novamente, acordei cedo. Saber que teria de treinar duro no dia seguinte me dava mais um motivo para levantar nas primeiras horas do dia. Trajei-me com uma vestimenta própria para corrida, com uma camiseta e uma bermuda de coloração igualmente escura, e sandálias ninja de mesma coloração em meus pés. Meus cabelos estavam crescendo rapidamente, quase em meus ombros agora, então amarrei-os para que não atrapalhassem minha visão e, por fim, despedindo-me de Kanae, expliquei desta vez o que faria e quais eram as probabilidades de voltar exaurido novamente.

Não me esqueci também de levar o contador de tempo. Caminhei por alguns minutos até que desenvolvesse um novo percurso, desta vez um onde as chances de eu ver alguém durante o trajeto fossem menores do que o da última vez. Mentalmente tracejei a distância, o tempo que levaria e o caminho tomado em questão e, apertando o botão, comecei a sequência de corridas. Efetuei uma volta. Duas. Três, quatro e cinco. Estava começando a me cansar, mas algo que não se alterou foi o tempo. Estava fazendo, proporcionalmente falando e adaptando os números, a mesma velocidade que já estive fazendo da última vez. Não estava surtindo resultado. Parei por alguns instantes e comecei a raciocinar. Não demorei muito tempo pensando, e cogitei a possibilidade de que minhas pernas se adaptaram ao atrito regular de corrida. Incerto se faria sentido ou não, rapidamente adquiri algumas polainas com pesos integrados em si próprias para exercícios numa loja especializada não muito longe dali. Adaptei-as para minhas pernas e, trajando-as, voltei a correr.

Seria óbvio que meu tempo seria inferior carregando os pesos em minhas pernas, mas este não era o objetivo ainda: realizei umas quatro ou cinco voltas com os pesos em minhas pernas, e, assim que as concluí, removi-os. Descansei por alguns instantes, bebericando água direto da garrafa que havia trazido comigo. Estava na hora da segunda tentativa. Desta vez, não atei os pesos em minhas pernas. Preparei-me novamente e, apertando o botão, disparei mais uma vez. As primeiras voltas após minha nova estratégia ter sido desenvolvida apresentaram o mesmo tempo de antes, mas não permiti me desanimar. Após algumas repetições, assim que minha pernas se acostumaram novamente com a nova quantia de força que deveria ser exercida, finalmente aumentei minha velocidade mais uma vez. Satisfeito com os resultados positivos em tão pouco tempo, retornaria para minha casa mais uma vez.