Ainda tenho em minhas memórias a maneira como meu pai olhava durante meus treinamentos. Ele preferia que eu me focasse em práticas de ninjutsu, então era isso o que eu fazia. Desenvolvi os conceitos básicos em menos tempo do que outras pessoas e, ainda assim, não tive nenhuma satisfação. Era inútil para mim. Sempre vi ninjas usando as mais diversas armas ninjas e quis ser uma dessas kunoichis famosas usando enormes lanças e espadas um dia, porém, para isso, era necessária força. Ninjutsus podiam realmente me ajudar com isso, mas não eram primordiais de tal modo que dediquei muitos dias em treinamentos às escondidas após me formar na academia ninja.

De começo mal conseguia fazer trinta flexões. Isso tinha muito a ver com a minha força, claro, mas também com meu domínio nas aptidões físicas. Se me perguntassem, eu diria ter grandes capacidades ninjas através do ninjutsu. Controlava algumas naturezas de chakra sem grandes usos reais, aprendi as técnicas da academia e alguma coisa dentro de mim ressonava ao estar perto dos outros — uma coisa que descobri mais tarde, ou seja, história de outro capítulo. Porém, treinando flexões, corridas, socos e chutes em árvores, eu me sentia realmente viva. Diferente da existência branda nos treinamentos de aptidões ninjas avançadas, assim eu me sentia viva e útil. Os ninjas mais aptos eram os mais fortes na aldeia, todos sabiam disso. Kumogakure era conhecida por ter ninjas monstruosos de socos capazes de rasgar o mundo. Eu desejava ser assim um dia, mas com armas. Contudo, precisava antes me desenvolver fisicamente a fim de ter controle suficiente nas atividades determinantes do bukijutsu.

Chutava troncos por horas, acertava socos até minhas mãos sangrarem, fazia curativos e retornava em seguida. Mesmo os dias frios onde a neve se acumulava pelos cantos da paisagem rochosa não eram suficientes para me impedir. Colocava um cachecol rosa envolvendo meu pescoço e retornava aos treinos, precisando removê-lo entre os golpes pelo calor provocado nos movimentos. Quando percebia a incapacidade em minhas mãos, sangrando cada vez mais depressa, enrolava-as em ataduras e decidia fazer práticas de acrobacias beirando o risco de vida. Assim meu coração me impulsionava a sobreviver e acertar cada vez mais os movimentos físicos. Saltava entre galhos desenhando grandes arcos com meus cabelos cor-de-pêssego. Pousava no chão e reproduzia movimentos de esquiva, danças silenciosas onde meus pés eram os verdadeiros maestros. Quando a noite caía, retornava para casa, tomava banho, melhorava os curativos feitos às pressas e desmaiava na cama tamanho cansaço. Tudo para no outro dia repetir a mesma rotina. Minhas mãos ficaram em carne-viva após a primeira semana consecutiva usando-as feridas. Precisei ficar de repouso durante alguns dias até elas cicatrizarem minimamente e retornei aos treinamentos até notar a facilidade com a qual meu corpo se movia. Talvez fossem minhas medidas; não tão alta e extremamente magricela. Mas eu estava mais habilidosa, conseguia sentir flutuando em meus movimentos.

Todavia, os treinamentos precisavam continuar. Eu ainda era fraca. Apenas uma ninja recém-formada na academia sem nenhuma capacidade impressionante. A menina aprovada com boas notas e nenhuma habilidade. Não era assim que me chamavam, porém, eu sabia que era assim que pensavam. E talvez seja bobagem se preocupar tanto com os pensamentos alheios, mas são através deles que ficam conhecendo nossas imagens da boca dos outros. Como uma kunoichi, eu precisava me tornar reconhecida e forte. Jamais chegaria a um cargo alto, nunca teria força para me tornar uma Raikage como Rukia um dia foi, porém, eu precisava ao menos ser uma ninja incrível. Capaz de dar esperança aos corações alheios. Por isso eu continuei treinando, desenvolvendo mais das minhas capacidades físicas.

Passados um mês e meio de treinamentos, percebi como estava respirando mal. Cansava depressa, pois meus pulmões não tinham acompanhado o crescimento de minhas habilidades físicas. Por mais que eu tentasse praticar durante horas os movimentos mais aguçados, os músculos, pulmões e batimentos cardíacos ficavam cansados depressa e isso me prejudicava. Comecei a praticar de outras maneiras, continuando com as práticas físicas. Adicionei escaladas de árvores como forma de aumentar minhas reservas de chakra. Bastava evoluir a maneira como controlá-la e estaria também apta a usar mais dele. Da mesma forma como treinei nadando, desenvolvendo mais meus pulmões. E também continuei correndo, socando e chutando até sentir meus músculos aceitando melhor.

Mergulhava em um lago próximo do campo de treinamento onde não se via a profundidade máxima. Nadava até sentir a respiração acabando, então insistia deixando um pouco de água entrar nos pulmões e somente ao sentir o afogamento retornava à superfície tomando fôlego. Saía do lago e retornava a terra firme, praticando os golpes às madeiras exigindo o controle da respiração e movimentos precisos para não me cansar depressa. Era como retornar à academia. Podia escutar os professores distantes mandando cuidarmos de nossas posturas e respiração, preparando nossos corpos às necessidades de um ninja. Treinava assim até os machucados começarem a ficar insuportáveis e ia às árvores treinar escaladas. O chakra sendo usado continuamente começava a dar indícios de expansão. Conseguia sentir um fluxo maior atravessando meu corpo, ainda que não tivesse tanta diferença.

Chegando próximo de três meses de treinamento minhas capacidades estavam aumentadas consideravelmente. Tinha o controle da respiração melhor, conseguia ficar submersa durante mais tempo – ainda que limitado pela minha humanidade – e conseguia sentir o fluxo do chakra cada vez mais intenso. Tinha ainda os músculos menos cansados, suportando mais horas acertando os troncos em busca de mais habilidades físicas. A neve acumulada no fim de inverno começava a derreter com a chegada da primavera. E assim como as flores, minhas capacidades tinham desabrochado e tudo o que me restou foi encerrar os treinamentos e descansar.

Considerações: