Eu não queria mais esperar por minha outra metade, eu tinha em meus ossos tutano o suficiente para me guiar através dos próprios passos e levar ao encontro dele. Tempo demais se passou e nem mesmo o sumiço do Hokage me impediria de deixar a vila à procura daquela mulher. Em meu íntimo senti como se fosse explodir, tanto de saudade quanto de raiva, a desnaturada estava demorando mais do que o necessário e, se eu não me engano, já havia sido muito ruim o modo como nos despedimos, meio brigadas uma com a outra, sem dúvida comecei a considerar que ela estivesse me evitando. Nas costas eu carregava uma mochila comum, roupas para troca e apenas isso, nada mais nada menos que um cantil com água e algumas frutas para saciar a fome ao longo da viagem. Eu não conhecia o caminho como a palma da minha mão, mas sabia que era fronteira com a vila da folha, se seguisse o mapa que eu tinha em mente, com certeza conseguiria chegar. Dos portões eu passei, sozinha, mas a ansiedade logo se fez minha companheira, se apegando a mim, como uma parasita se alimentando de meus sentimentos. Eu tinha raiva, amor e saudade, uma combinação de emoções que considerei perigosa, mas talvez eu conseguisse canalizar da forma correta ou controlá-la da melhor maneira possível, mas eu estava nervosa o suficiente para não me importar em ter que passar por cima de todos que tentarem me impedir de avançar.

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Antes que eu pudesse avançar muito encontrei algo que poderia me parar, ou melhor, tentaria, mas não conseguiria, sendo este algo aquele grunhido que eu já me familiarizei tão bem… “Samehada?” Questionei girando em meu eixo, dando de cara com aquele homem mais uma vez, meu conhecido aliado, Togata. Infelizmente, meu humor não era dos melhores, por isso fui direta a ele, como uma bala disparada por uma arma de fogo.

— O que veio fazer aqui? Sou grata por tudo, mas não ouse tentar me impedir. — Eu estava determinada a sair, contudo, minha personalidade ainda sim não era tão rude a ponto de deixá-lo falando sozinho, eu era paciente, até certo ponto.

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Rapidamente eu o acompanhei, tínhamos trabalho a fazer e, eu em particular, tinha que conversar seriamente com minha companheira. O acompanhei por onde ele iria, estava em silêncio e me reorganizando sobre o que poderia vir a ocorrer em breve. Estávamos indo ao nosso destino, a Oto.

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Sinceramente eu achava que estávamos prontos para começar a nossa missão especial, mas... bem eu apenas tinha essa impressão, pois quando estávamos chegando no portão e quase partindo, meu professor mais uma vez se pronunciou. Questionou-me sobre algo que considerei interessante, mas que com certeza não queria resolver naquele momento da minha vida, eu estava focada em ir para Oto. — Não, ela não me disse nada sobre esse templo. Precisamos ir para aquela direção. — Apontei com meu indicador para o exterior dos portões, mas instintivamente ele se virou de costas para mim e começou a andar, talvez ele já sabia que eu iria reclamar e questionar sua liderança, naquela altura minha teimosia já deveria ter ficado nítida a ele. Fiquei furiosa, mas o segui, eu definitivamente queria que ele não me atrasasse muito, já que sinceramente tudo que eu podia pensar naquele momento era em encontrar os rastros de minha namorada e, se fosse possível, voltar logo para casa. Acompanhando-o, notei que ele se dirigia ao centro da vila.

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Eu o arrastei por tempo suficiente para que meu tom de ameaça surtisse efeito sobre seu corpo, ele obedeceu a mim, eu estava incrivelmente alterada naquele momento. A parte racional não se fez presente e, mesmo que ele tentasse me encher de sermões de nada adiantaria naquele minuto. Andamos às pressas até o portão da vila mais uma vez, naquele ritmo havíamos nos atrasado muito e eu estava mais rabugenta do que nunca.

— Diga. — Andava ao lado dele e o respondi prontamente, porém de forma seca e focada na estrada à frente. Ouvi o conselho dele e sendo sincera parei para pensar sobre o que ele tinha a dizer. — Pouco me importa poder. Não é porque pessoas loucas no passado se mataram que eu tenho que fazer isso… A única coisa que me motiva no poder, é PODER vê-la de novo. — Me referi ao trocadilho da palavra com um sorriso irônico de canto. Talvez eu estivesse sendo tola, mas minha determinação me guiava como um farol numa praia oculta na escuridão, eu tinha foco e por isso sabia que deveria continuar meu caminho. — Sabe de uma coisa… E se ela ainda estiver zangada comigo? Talvez ela não queira mais me ver... — Tremi ao considerar essa opção, já fazia muito tempo desde o último contato e saber que agora estava indo encontrá-la me deixava ansiosa e apreensiva.

Sem dúvidas esses questionamentos vieram à cabeça. Quase para me lembrar que eu havia feito tudo para reencontrá-la, mas ainda assim não tinha feito nada para pedir seu perdão. Eu havia falhado em consequência ao ódio que senti ao perder meus poderes do gelo e descobrir ser aquilo que nunca imaginei ser; Uchiha. Talvez eu devesse dar meia volta e correr para o quarto... Não, não o mesmo quarto que adormeci sobre a proteção do abraço dela, seria egoísmo, aquele não era meu lar. De qualquer forma levei a mão até a bolsa ninja em minha cintura, cogitando pegar a carta e entregá-la ao meu professor, eu estava começando a me abalar de verdade com essas hipóteses cruéis.

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Eu estava tão ansiosa que senti meu peito saltar a cada batida do coração. Estranhamente nós estávamos conversando sobre a pessoa a quem jurei amor eterno e, se eu parasse para analisar, eu estava falando de meus medos com um rapaz. Ironicamente o sexo oposto não me parecia nenhum pouco atrativo, tanto que desde menor nunca me dei ao luxo de imaginar conversando sobre sentimentos com um… Bem, nesses últimos tempo eu havia mudado tanto que mal pude perceber que eu fisicamente não era tão magricela como quando conheci minha amada, claro que naturalmente não foi algo absurdo, mas mesmo assim mudei, o fato do Hokage ter me olhado com um jeito estranho ainda me incomodava ao lembrar, acho que foi ali que comecei a perceber o quanto garotos são complicados e talvez metade dos meus sentimentos e medos não fariam sentido nenhum para o Uchiha do meu lado, talvez fosse apenas um ogro, afinal. Em todo caso, minha ansiedade me pregou uma dura peça, dando liberdade para que eu me expusesse ao medo de ser rejeitada de alguma forma. Intimamente eu traçava alguns planos de como reagir a cada situação ao vê-la novamente, mas sendo bem realista, eu sabia que iria falhar miseravelmente em agir conforme minhas estratégias. Ouvi o que Togata tinha a dizer, primeiramente ele me dizia o que esperar, tentando me tranquilizar. De fato, naquela altura ele era a figura mais próxima de um irmão que eu tive, tirando é claro Inori, minha falecida irmã de consideração.

— Ora… Eu, pra começo de conversa, não deveria ter deixado ela sair de casa sem mim. Eu errei nisso… Segundo que eu deveria ter aprendido a lidar com meu poder ainda com ela sob minha supervisão… Ela parecia querer me ensinar algo, mas não sei o que é, acho que ela tinha planos para mim… — Lembrei-me de nossas conversas mais íntimas e corei imediatamente, virando o rosto por conseguinte. Obviamente eu havia desfrutado de muito mais do que apenas conversas. — Argh… Eu lembro que quando ela descobriu que eu era Uchiha… Bem, eu só conseguia usar o primeiro estágio do Sharingan, se hoje ela me encontrasse, conhecendo-a bem, provavelmente era daria uma surra em quem tocou em mim na hora de fazer a cirurgia de transplante, antes de se orgulhar. — Sorri olhando-o de lado. As mãos foram de encontro a minha nuca, onde as prostrei entrelaçando os dedos uns nos outros. — Eu preciso me controlar, eu sei… Aliás queria te fazer um pedido… Se eu por algum motivo, aparentar estar muito, muito fora de mim, por favor peça pra Mordred para me conter. Sim? — Eu não era do tipo que pararia por outro motivo, eu acho que a única pessoa que teria influência sobre minhas ações, mesmo estando muito abalada, seria ela, por isso fui sincera ao pedir isto ao meu professor.

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Não sei se fui muito tola ou sincera ao transbordar meus desejos e inseguranças com ele, eu confio em sua amizade, como uma irmã confiaria os segredos ao irmão mais velho, instintivamente, buscando desabafar um pouco e respirar mais aliviada. Por ser mais velho que eu, achei que tivesse discernimento para me trazer juízo a mente, talvez até me corrigir, caso necessário. Eu senti que ele era isso, um amigo próximo, porém eu tinha medo de desapontá-lo, pois eu tinha em meus ombros o peso do mundo que eu mesma criei, trazendo em cada ombro um legado. Do ombro direito, o lado que governa a razão, estava ele. Do esquerdo, o lado que impera o sentimento, estava ela, Mordred e, se fosse destino ou não, o mesmo ombro que feri no dia que ela me salvou, em Kiri. Seria essa uma coincidência ou uma analogia ao fato de meus sentimentos por ela estar tão machucados desde nossa última briga? Em verdade, eu não sabia. Eu estava desconfiada de minhas capacidades, já que obviamente eu não era nada além de um grão de areia na praia, mas por um momento eu sentia que tinha uma tarefa importante. “Ela vai voltar, prometo.” Parei para pensar sobre o que eu vim a prometer ao Hokage, sinceramente, fiquei movida naquela hora pelo sentimento, não pela razão, pois quando analisei minha postura naquela sala eu consumi uma parte de mim ao qual carinhosamente chamo de meu “querido ego”. Querido porque às vezes eu me apego a ele para me sentir viva e me atribuir algum valor, foi assim quando destruí Sainan, no passado, foi assim que me senti quando Inori morreu para me proteger e fantasiei em ser uma pessoa boa e sem ódio, assim como ela me pediu, antes de se cristalizar. Meu “querido ego” era a chama que me acendia por algum tempo, mas que ao mesmo tempo me destruía e, por essa simples razão, eu volto a dizer que me sinto pressionada dentro do mundo que eu criei, paralelo ao verdadeiro, por criar obrigações que eu deveria cumprir e não sabia como. Eu andei ao lado dele em silêncio até que o tom normal de meu rosto retornasse, com isso, meu calor à vergonha desapareceu. Em minha mente o tempo demorou uma eternidade, mas quando vi, ele ainda olhava para mim, sorrindo e dizendo que não queria se encrencar com a Sannin da folha.

— Não se preocupe. Eu vou contar a ela que você é a razão pra eu não ter caído literalmente em uma escuridão eterna. — Tentei acalmá-lo, se fosse necessário. Inconscientemente, ao ouví-lo falar sobre eu queimar alguém, sorri. Levei a mão esquerda ao antebraço direito e o apertei um pouco, enquanto eu olhei para o céu, buscando as estrelas. — Eu não me referia a queimar. Mas vou seguir sua orientação. — Dali não falei mais nada. Apenas caminhei ao lado dele, pensando no que eu ainda poderia fazer. Não seria segredo que eu estava com medo, mas o motivo em si, não fiz questão de partilhá-lo.

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Perpassei os portões do vilarejo e rumei para lá.

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