Muito, muito tempo atrás, havia uma grande planície chamada de Adachigahara, localizada na província de Mutsu no País do Arroz. Aparentemente, tal planície era atormentada por um goblin ancestral que tomou para si a aparência de um humano. A criatura mística expulsava das terras de seu domínio todo e qualquer invasor. Sua fúria metafísica não poderia ser alvo de mera interpretação humana. Aqueles atingidos pela sua ira tiveram o rosto desfigurado para todo o sempre, sendo incapazes de voltar a vida comum que levavam antes do fato.

Obviamente, estas linhas descreveram nada além de uma lenda. No entanto, ainda que fosse verdadeira, será que alguma coisa neste mundo poderia assustar ou sequer intimidar um imortal? Lúcifer, seu nome denotava os motivos de ser tão grandioso. Em vãs palavras seu nome significa aquele que porta a luz. Este homem dotado de tanta magnificência em seu nome carregava consigo um inevitável e irresistível fato: a vida eterna. Sem dúvidas, aos olhos mundanos, aquela poderia ser uma característica louvável ou até mesmo desejável, todavia, somente aqueles com esses poderes em mãos sabem quão grande é o fardo de carrear a imortalidade.

Neste mundo de imortalidade e habilidades que ultrapassavam a mera consciência humana, por qual motivo inventariam uma lenda sobre um goblin?! Afastar forasteiros?!


A cena volta-se ao redor de um bar. O bar se localiza nos arredores do país, no meio de um vilarejo ocupado por, principalmente, viajantes diversos. Geograficamente, estava ao extremo norte da vila, bem próximo da costa do país. É meio dia e, apesar de ser outono, uma onda de calor passava pela costa e arrebatava aquele pequeno punhado de terra, aquecendo o vilarejo e suas moradias à, aproximados, trinta e um graus centígrados.

Sendo uma vila de viajantes, você se deparará com diversas lojas de comércio. Algumas estarão fechadas, visto o clima assolador. Outras, entretanto, comandadas por donos mais ambiciosos, continuavam a funcionar. O motivo? Contratação escravagista, pura e simplesmente. O bar estará no centro do vilarejo, funcionando também como uma espécie de encontro entre várias pessoas.

Em um espaço de aproximados duzentos metros abrigam-se quase cem pessoas. Além de ser um ponto central no vilarejo,  o estabelecimento utiliza-se de um sistema de refrigeração próprio, sendo estes os motivos por estar tão lotado.

Você anda, vê que há uma cadeira vazia virada para o balcão, este sendo circular e concentrado ao centro do bar. Restam duas opções a você e sua racionalidade: sentar-se e, quem sabe, conversar, ou então simplesmente deixar o bar vendo o quão lotado estava.

considerações de narração:

— O que desejas, homem? — inquiriu o garçom. Pomposo e trajando gala, esfregava um pano contra uma bela taça de vidro. A depender do que pedisse, serviria. Do contrário, simplesmente continuaria a limpar o copo. — Dia frio, não? Há muito este vilarejo não via dias tão frios quanto estes. — conversou enquanto juntava taças, uma a uma, ao longo do balcão. — É verdade... — escapou de um senhor confirmando a história. Seus cabelos brancos e rosto abatido mostravam o quanto de experiência carregava consigo. O velho sentava ao seu lado, bebia whisky de uma maneira bem seca. O álcool descia sua garganta e aquecia aquele casco vazio. Numa tarde tão fria, aquele parecia ser seu único refúgio. Quantos problemas carregava um homem como aquele em um local tão distante e bebendo uma bebida alcoólica forte de uma maneira tão banal. Não deveriam restar dúvidas da ausência de uma condição normal.

— Garoto... —  o velho virando seu rosto para o seu lado, olhando-o em seus olhos. — Você tem uma aura bem estranha... — falou com a voz embotada de tão bêbado. — Você... Está... Morto? — perguntou de uma maneira pausada apagando sobre o balcão no final da frase. Não se podia esperar seriedade de um bêbado. — Perdoe os nossos clientes, senhor. Geralmente não são todos assim. Aqui, pegue, um aperitivo por conta da casa. — complementou o dono do bar oferecendo um prato de frios repleto de comida. — Desculpe a minha intromissão, mas esta cabeça velha está acostumada a muita gente por aqui... No entanto, nunca vi ninguém como você. Se puder me dizer, o que te traria tão longe do mundo em um vilarejo tão pacato? — questionou, por fim.


Aparência do garçom.; Aparência do velho.

— Você é... Curioso... — disse o dono do bar com um sorriso. Em um movimento veloz agarrou uma caneca e a preencheu com um chopp de uma tonalidade de amarelo quase amanteigado. Deglutiu todo o conteúdo um único gole. Uma situação inesperada, tendo em vista que era ele o garçom e não um cliente. — Sublime! — concluiu. — Agora chegou a sua vez, garoto. — encheu uma segunda caneca e a entregou lentamente. — Você é um daqueles caras perigosos? Se quiser, posso conseguir-lhe uma aventura...

Aparência do garçom.