Os dias estavam arrastados na vila da nuvem, dado minha inaptidão pela maioria das atividades que estavam sendo promovidas para jovens ninjas. Uma exposição e concurso de armas bélicas, ora, quem diria que seria logo isso?! Entre os vários passatempos que se baseavam em atirar e ganhar prêmios, haviam também aulas práticas para pessoas que como eu não conseguiam usar muito bem até os acessórios mais simples. Parecia útil, mas me ver na fila com aquelas crianças e leigos feria demais o meu orgulho, e por isso não fiquei mais que cinco minutos ali. Não escondi que estava um pouco chateada, o que chamava atenção no meio de tantos rostos felizes e pessoas se divertindo. Era nocivo à saúde, então resolvi ir a qualquer lugar que não se assemelhasse a toda aquela euforia.

Não tinha muitas opções para onde pudesse ir, e como não estava muito afim de gastar energia viajando de um lugar a outro da vila preferi ir ao mais óbvio. A biblioteca da vila, que como esperado, tinha uma população quase inexistente e uma paz interna que revigorava meu humor. Corri o local com os olhos, só então notando que como não tinha nenhum objetivo especifico ali dentro se tornava um antro de inúmeras possibilidades. Tantas a ponto de me fazer ganhar uma expressão vazia e distante, quebrada pelo pedido de “posso ajudar” de um atendente. Eu fui simpática, não tinha porque não ser. Enquanto andava no meio das estantes o eco dos passos subia no teto oval até sumir.

— Aqui. — Falou baixinho e eu agradeci com um cumprimento.

Acabei não sendo tão criativa quanto esperava, já que a sessão de livros sobre armas ninjas era só uma maneira de me sentir participativa dentro do evento, sem de fato estar presenciando tudo aquilo. A forma teórica podia não superar algum tipo de treinamento prático, mas me convenci de que seria o suficiente rápido demais, ao menos por hora. Peguei dois livros; sendo “A matemática por trás da viagem da Kunai”, por HUANGKO o principal de estudo e “Como criar gráficos de batalha” o auxiliar.

Disposta de um caderno, anotava, geralmente coisas importantes e conclusões que tirava da leitura. Não tinha pressa, mas o assunto tinha o poder de me deixar impaciente devido a lidar de frente — de uma maneira bem literal — com um defeito como ninja, o que permitia algumas pausas para desenhar mentalmente como organizar toda a informação de maneira mais prática e útil.


Foi-se quase toda a manhã lendo o primeiro e segundo capitulo, chegando a conclusão de que uma das minhas falhas, dada a inaptidão para com as armas ninjas, era que não sabia manobrar sua força e concentração de maneira eficiente a ponto de ganhar precisão. A constatação não era lá muito animadora, e de acordo com as estatísticas do próprio livro precisaria de um treinamento especializado para poder melhorar. Não tinha dicas sobre isso naquelas páginas, o que me fez olhar de relance para uma janela e ver de longe o local onde ocorria o festival. Podia ter ficado um pouco mais sábia, mas aquele conhecimento ainda precisava de mais um passo para poder me ser útil.

Dei um risinho mudo enquanto organizava tudo para ir embora, parece que ia  ter que participar de qualquer maneira.